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prefeitura de teresina ameaça fundação nacional do humor e salão do piauí

Orlando

10/09/2014 08h21

 

sede da fundação nacional do humor

sede da fundação nacional do humor

o salão de humor do piauí não é o mais rico do brasil mas continua sendo um dos mais importantes do país por seu formato aberto e democrático.
boa parte das mostras paralelas acontecem no passeio público usado por trabalhadores e estudantes
a.
a crise econômica e gerencial dos últimos anos teve seu ápice meses atrás quando a sede da fundação nacional do humor foi invadida e depredada por vândalos.
veja aqui.
dispostos a reverter essa situação, a antiga diretoria formada por fundadores do salão, tomou as rédeas e, encabeçada pelo jornalista kenard kruel conseguiram reformar o prédio e marcar a data do salão deste ano.
o tom dramático do episódio é a citação, enviada ao presidente da fundação pela prefeitura de teresina, pedindo o prédio de volta.
a novela promete novos capítulos e um posicionamento de todos os cartunistas para que o salão do piauí renasça mais forte.
abaixo, entrevista com kenard:

blogdoorlando – O Salão Internacional do Piauí é um dos mais antigos e importantes do país. Por que?

Kenard –  O mais antigo é o de Piracicaba. Foi nele que nos espelhamos para realizar o Salão Internacional do Humor do Piauí, em 1982. Eu era assessor de comunicação da Secretaria da Cultura do Piauí, na gestão do secretário Wilson de Andrade Brandão, governo Lucídio Portella, irmão de Petrônio Portella. Com o apoio do presidente da Fundação Cultural do Piauí, José Elias Martins de Arêa Leão, e da diretora de Atividades Culturais da Fundação Cultural do Piauí, a saudosa Luiza Vitória Figueiredo (Sulica), e do chefe de gabinete da Secretaria da Cultura, o hoje des. Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, nasceu o Salão Internacional do Humor do Piauí.

blogdoorlando – O que veio acontecendo com ele nos últimos anos?
Kenard – Nos três primeiros anos, essa equipe acima dirigia o Salão Internacional do Humor. A partir do quarto ano, a coordenação foi entregue ao cartunista Albert Piauí, que deu outra dimensão ao Salão. Mais experiente, e sendo do ramo, fez o Salão crescer ano a ano. Mas, mantendo a mesma característica do seu nascedouro, de ser um evento popular. O Salão toma conta das ruas, das praças, dos espaços públicos da cidade, com exposições, shows, teatro, cinema, artes em geral. A cidade tomou conta do Salão. E faz dele, talvez, o maior evento do ramo aberto do mundo.

blogdoorlando – Se o Salão é um patrimônio público, qual a dificuldade que o estado tem em lidar com isso?
Kenard – O problema não é o estado, mas sim a organização do Salão. Antes, ele era realizado pela Fundação Cultural do Piauí. Era estatal. Depois, com a criação da Fundação Nacional do Humor, em 27 de agosto de 1991, ele passou a ser feito pela entidade. Quando havia harmonia entre a Fundação Nacional do Humor e da Fundação Cultural do Piauí, o Salão navegava em céu de brigadeiro. Quando não, sempre foi um Deus nos acuda. A Fundação Nacional do Humor não se preparava a contento para realizar o Salão. Quando ia elaborar o projeto (com programação e tudo) já era em cima do evento. Por falta de tempo, sempre foi difícil captar recursos para a sua realização. Assim, o Salão sempre viveu em altos e baixos.

blogdoorlando – E é um salão nada elitista, feito em boa parte na rua e com atividades abertas a todos…
Kenard – Esse é outro grande problema. Não se cobra nada de ninguém. O trânsito é livre. Como não contamos com patrocinadores a contento, muitas vezes o Salão se encerra com débitos em hotéis, restaurantes, lojas, artistas etc. A partir de agora, em nossa administração, algumas das atividades terão ingressos pagos. Além do mais, as bandas que quiserem tocar, terão que procurar patrocinadores. Ao invés de fazermos pagamentos, elas terão que nos dar 30 por cento do que foi captado. Isso porque, por exemplo, eram contratadas mais de 20 bandas. Algumas sem público algum. Elas chegavam, tocavam e se mandavam, sem participar nem antes e nem depois do evento. Isso não queremos mais. Queremos integração total. Só vão participar do evento os que queiram interagir com todas as atividades apresentadas. Vamos continuar fazendo atividades abertas, mas antes patrocinadas, para não ficarmos devendo a ninguém mais.

blogdoorlando –O salão de 2013 foi realizado na cidade de Parnaíba. Por que foi para lá e por que volta a Teresina?
Kenard – O Albert Piauí teve um atrito com o ex-prefeito Silvio Mendes, e, de lá para cá, a Prefeitura de Teresina passou a perseguir a Fundação Nacional do Humor. Uma das maneiras de denunciar isso, publicamente, já que não podia fazer pelos meios de comunicação (quase todos comprados pelo poder público), foi tirando o Salão da Capital. Mas, com isso, como já falamos, deixou o prédio sede abandonado. E deu no que deu, com ação de despejo por parte da prefeitura de Teresina, que só queria um pezinho de nada para tomar a nossa sede. Agora, vamos realizar o Salão novamente em Teresina. Mas, temos proposta de fazê-lo nas principais cidades do Estado e nas principais capitais e cidades do país. Afinal de contas, a nossa Fundação do Humor é Nacional. Tem que estar presente em toda parte do nosso território nacional. Realizando, participando, incentivando no lugar que não tiver Salão de Humor.

blogdoorlando – a Fundação Nacional do Humor, patrimônio de Teresina e do humor, foi depredada e parte de seu acervo foi vendida em praça pública pelas pessoas que invadiram o prédio. Que providências foram tomadas, o quanto desse material foi recuperado e quais os planos para a fundação a partir de agora?
Kenard – Não houve tanto estrago como foi divulgado. O prédio foi pichado, mas já pintado novamente. Duas janelas que, no período de chuva, recebem bastante água, e, sem proteção ou limpeza adequada, enferrujaram, foram arrancadas do lugar, por onde algumas pessoas entraram, mais para fazer sexo, fumar crack, usar outras drogas, do que propriamente para roubar o acervo existente. Além do mais, esse ato de vandalismo contou com a participação de setores da Prefeitura de Teresina, que, assim, se aproveitou para justificar a ação de despejo da Fundação Nacional do Humor. Alguns desenhos cópias foram vendidos na Praça Pedro II, centro da cidade. Falam em originais, mas, quando o Dr. João Henrique Sousa, piauiense, foi presidente dos Correios, a Fundação Nacional do Humor conseguiu com ele a devolução dos originais que se encontravam na sede para os seus donos. A partir de então, não se recebia mais original, e sim cópia enviada pela Internet. A Fundação Nacional do Humor mantém HDs externos com essas cópias, que podem ser impressas à medida do necessário. Estamos organizando todo o nosso acervo. Uma equipe de especialistas da Universidade Federal do Piauí, chefiada pela professor Lurdinha Nunes, está nos ajudando nessa tarefa.

blogdoorlando – como está sendo feito o gerenciamento do Salão e da Fundação?
Kenard – Na gestão anterior, a Fundação Nacional do Humor só se preocupava única e exclusivamente com a realização do Salão Internacional do Humor do Piauí. Vivia em função desse único evento. Duravam os holofotes apenas uma semana. No restante do ano, a Fundação Nacional do Humor praticamente não existia. Não preparava outras atividades para manter a sede aberta e participativa. Na nossa gestão, em pouco tempo, conseguimos realizar diversos eventos, como o Humor na Praça, todos os sábados, exposições de desenhos, de fotografias, cursos e oficinais diversos. Cedemos os espaços para Fundação Nacional do Humor e da Praça Ocílio Lago, onde fica a nossa sede, para quem queira realizar os seus eventos. Com isso, a cidade acordou novamente para a Fundação Nacional do Humor, que funciona quase que 24 horas, diariamente. Nisso, contamos com a cumplicidade total de vários voluntários, com destaque para Mariano D'Abreu, comandante de todos eles. Mariano é ator, diretor de teatro, produtor cultural dos mais respeitados no Piauí. E está nos dando uma força incrível. Obrigado, amigo. Obrigado a todos os voluntários. Torquato Neto nos diz que Cada louco é um Exército. E o nosso, graça a Deus, todos os dias aumenta mais e mais. Agora, para manter a fundação com caixa, estamos instalando diversos projetos em nossa sede. Livraria Millor, Editora Lapi, Bar Jaguar, oficinas e cursos diversos de arte, aluguel de salas, promoções culturais e artísticas diversas, tudo que puder nos trazer recursos para não ficarmos de pires na mão diante das portas do poder público, como acontecia na gestão anterior.

blogdoorlando – já há uma data marcada para o salão 2014. o que se pode esperar dele?
Kenard – Vamos realizar, da maneira que pudermos, de 5 a 9 de novembro, na Praça Ocílio Lago, onde funciona a sede da Fundação Nacional do Humor. Não será um grande evento. Será modesto, para não deixar a peteca cair. Contudo, contando com a solidariedade dos cartunistas do Brasil e do exterior, já temos várias exposições confirmadas. Bandas confirmadas. Atividades, como oficinas, cursos, teatro, cinema, literatura, tudo na programação. Estamos vendo a possibilidade voltar à premiação em charge, cartum, caricatura e quadrinhos. Estamos buscando, ainda, patrocínios. Se der bem, faremos. Se não, vamos aguardar o próximo ano A partir deste, já vamos começar a organizar o Salão de 2015.

 

quem é kenard kruel:
 jornalista, escritor, professor e editor (Editora zodíaco). Formado em letras Português , em Letras Inglês e em Direito. presidente da Fundação nacional do humor. Presidente do Sindicato dos Escritores. presidente da associação Piauiense de Imprensa. Um dos fundadores do Salão Internacional do Humor e da Fundação Nacional do Humor.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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