toninho mendes não teria morrido se tivesse trabalho e reconhecimento
conheci toninho mendes bem no finzinho dos anos 70 na redação do jornal versus que ele editava, diagramava, escrevia e contratava colaboradores. ficava na rua capote valente, em pinheiros – sp, numa casa que não existe mais. levei um portifolio amador e mal acabado. mesmo não rolando nada, foi gentil e simpático.
mais tarde passei a admirá-lo pela circo editorial que editou chiclete com banana, piratas do tietê e geraldão.
pouco mais de três anos atrás nos aproximamos muito e editamos em conjunto o livro e depois a maluca sou eu, de mariza dias costa. a partir daí, surgiu uma grande amizade.
toninho mendes morreu ontem.
a sensação de perda é enorme e me traz outros sentimentos perturbadores.
no mundo das start-ups não há lugar para toninhos, para josés, marias ou anas que tenham talento e um passado de dedicação.
startupers só olham para frente e nesse mundo o passado é coisa que se enterra.
o brasil continua sendo cruel com seus talentos que passam das luzes à sombra num piscar de olhos e forçam esses toninhos a correr não só atrás de seus sonhos mas atrás de uma sobrevivência improvável.
toninho mendes era muito religioso. da umbanda e candomblé à igreja batista, havia lugar para deus, deuses, santos, orixás, plantas e mandingas aos quais se apegava com fé. fé, esta, que vinha sendo abalada pela constante dificuldade de conseguir aprovar algum dos vários projetos que não parava de inventar.
como editor, toninho estava para os quadrinhos como jaguar está para o cartum.
e sabe o que isso quer dizer?
nada.
toninho se foi e sua história, em breve, vai ser a mesma de tantos que o brasil fez questão de esquecer.
e assim vão seguir os tantos outros toninhos que ainda insistem em dar murros em ponta de faca.
toninho estava envolvido num projeto de documentário sobre a ilustradora mariza e estava ansioso para gravar seu documentário logo.
perguntei qual era a pressa.
ele disse: nunca se sabe o que pode acontecer.
e aconteceu.
montevidéu
janeiro 2017
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