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roger cruz e davi calil fazem parceria com adoniran barbosa

Orlando

12/08/2014 08h00

roger cruz e davi calil já são figurinhas carimbadas no circuito dos quadrinhos e ilustração nacionais. fazem parte de um seleto grupo que vem procurando mais e mais formas de expressão para mostrar que, muitas vezes, duetos e outras combinações podem funcionar tão bem quanto o trabalho individual.
há cada vez mais artistas procurando alternativas de expressão e, ainda, procurando publicar seus trabalhos em papel, em formato de livro.
pelo jeito, a era digital cumpriu seu papel (sem trocadilho) e o livro ressurge com um novo frescor ou com um outro status, como o vinil vem fazendo.
mais interessante ainda, que um desenhista de heróis e um aquarelista de mão cheia se juntem para buscar inspiração num personagem paulistano, ingênuo mas não menos cosmopolita.
adoniran barbosa, com seu sotaque e rimas recheados de um humor completamente particular aparece em quaisqualigundun trazendo vários de seus amigos do bixiga, bairro tradicional italiano de são paulo, e redondezas.
o resultado é uma hq de 75 páginas recheada de poesia e, digamos, ginga. uma ginga de são paulo mas ainda assim, ginga.
abaixo, entrevista com os autores.

 

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Blogdoorlando – a pergunta inevitável: por que adoniran?
Roger Cruz – Porque sempre gostei desse universo sobre o qual ele escrevia, dos personagens que ele retratou ou talvez tenha inventado.
As histórias de personagens das camadas mais pobres da população de São Paulo, a beleza que ele enxergava nas situações mais corriqueiras do cotidiano, a maneira que ele encontrou para traduzir o jeito de falar dessas pessoas.
Conheço essas músicas desde moleque, mas as histórias das HQs surgiram quando comecei a me perguntar quem seriam esses personagens das músicas, de onde teriam vindo e o que os levou até aquele momento descrito pelo Adoniran.
Davi Calil – Fui convidado pelo Roger, que já havia concebido o projeto. Topei na hora porque sempre fui fã de Adoniran, adoro desenhar velhinhos e ficava imaginando como seriam os personagens dele no meu desenho.

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Blogdoorlando – as histórias são factuais ou inventadas?
Roger Cruz – São inventadas mas inspiradas nas idéias centrais das músicas Saudosa Maloca, Samba do Arnesto, Apaga o Fogo Mané e Samba no Bixiga.
Inventadas pensando no que mencionei antes, nas perguntas que eu fazia enquanto ouvia as músicas.
Por exemplo, na HQ Maloca, quem era o Doca? Quem era Matogrosso? Quem narra a história? O Adoniran? Alguém que contou para o Adoniran?
De onde vieram? Como se conheceram? E por aí vai.
A partir daí, criei para cada um, histórias que fizessem sentido, que se interligassem e tivessem uma lógica dentro do universo criado pelo Adoniran.
Se você conhece as músicas, vai identificar e perceber mais detalhes nas HQs.
Mas penso que, se não conhece, as histórias funcionam bem também.

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Blogdoorlando – vcs têm alguma ligação especial com o bixiga, italianos e samba?
Roger Cruz – No meu caso, apenas com o samba por causa do Adoniran e de outros sambas e sambistas que gosto.
Conheço o Bixiga mas nunca fui frequentador do bairro.
O Adoniran teve uma relação de amor não só com o Bixiga mas com São Paulo.
E ele acabou escrevendo não só sobre São Paulo mas sobre metrópoles e sobre quem vive nelas, e isso gera indentificação com os causos que ele contava mesmo para quem é de fora de Sampa.
Davi Calil – Só com algumas cantinas. Eu cresci no interior de SP, em Guararema, uma cidade pequena onde rolava muito samba de mesa nos botecos, conheci Adoniran frequentando esses lugares na minha adolescência. Cheguei até a ter um grupo que tocava samba. Tínhamos uma sessão Demônios da Garoa, onde só tocávamos Adoniran.

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Blogdoorlando – como foi para vc, roger, escrever para outro artista desenhar? E como foi pra vc, calil, desenhar o roteiro de outra pessoa?
Roger Cruz – Esta é a primeira vez que apenas escrevo uma HQ.
Quando escrevi a primeira HQ do Quais, eu pretendia desenhar o projeto e cheguei a fazer  estudos e algumas páginas da Maloca.
Aí, conversando com o Davi, descobri que ele também era fã do Adoniran mas a conversa ficou por aí.
Algum tempo depois, eu estava sem tempo para desenhar a HQ e vi algumas aquarelas do Davi que tinham a cara do projeto.
Resolvi arriscar, o convidei e ele topou.
Os roteiros que passei para o Davi são exatamente os mesmo que faço quando eu vou desenhar.
São esboços de página já com balões e recordatórios, rabiscos rápidos com sugestões de composição de cena e enquadramentos.
Como eu desenho, fica mais fácil rabiscar o que quero na cena do que descrever com texto.
Foi uma experiência muito legal e tranqüila. O Davi é amigo de longa data e artista de quem sou muito fã.
Davi Calil – Desenhar um roteiro do Roger Cruz foi demais. O Roger é um baita profissional de HQ e sempre fui fã do trabalho dele. Várias das páginas do roteiro ele me enviou com sugestões de ângulos de câmera o que ajudou a incrementar muito a narrativa. O legal é que ao mesmo tempo que ele deu várias sugestões também me deixou a vontade pra fazer o que eu queria, no estilo e técnica que eu preferisse. Foi ótimo, um puta aprendizado.

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Blogdoorlando – e como foi o processo? O quanto um interferiu no trabalho do outro?
Roger Cruz – Em alguns momentos, discutimos sequências nos roteiros, em outros, sobre a arte.
Trocamos muitas idéias durante todo o processo todo mas cada um teve autonomia para decidir como e o quê fazer para contar as histórias do álbum.
Davi Calil – Sim, foi como um bate bola. Eu mandava uns esboços de personagens, o Roger já usava o design deles nos esboços de páginas, depois eu via tudo e desenhava no papel de algodão pra poder pintar em guache ou aquarela (variei as técnicas de uma história pra outra.

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Blogdoorlando – quanto tempo levou da concepção até o livro pronto?
Roger Cruz – Escrevi a Maloca em 2011. Mas como a história ficou na gaveta por muito tempo, acho que é mais certo contar a partir do momento em que recebemos o apoio do ProAC.
Penso que levaríamos um ano para produzir o livro com calma, mas tivemos alguns atrasos causados por problemas com os direitos das músicas.
Não me lembro precisamente, mas acho que levamos um ano e meio, da concepção ao livro impresso.
Davi Calil – Eu comecei a mexer na história da Maloca no final de 2011, parei por uns meses, inscrevemos o projeto no Proac e quando fomos selecionados retomamos a produção. No final de 2013 eu finalizei a última das 75 páginas. Em 2014 nós fizemos os ajustes finais (revisão de texto, ilustras para capa, abertura de capítulos) pra poder lançar em julho.

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Blogdoorlando – vcs têm algum outro projeto juntos em vista ou esse deu a conta?
Roger Cruz – A experiência foi muito boa e acho que a dupla funcionou bem pra caramba.
Já conversamos sobre outras possíveis parcerias mas ainda não temos nada certo.
Talvez na próxima, trocando funções ou trabalhando juntos na mesma página.
Mas, por enquanto, os dois tem trabalhos e projetos pessoais pra tocar.
Davi Calil – Pois é, a parceria funcionou muito bem. No momento eu estou investindo em projetos pessoais, mas não descarto a possibilidade de trabalharmos juntos no futuro.

 

serviço:

exposição de originais e lançamento do álbum
quaisqualigundun

de roger cruz e davi calil
100 páginas
papel couche fosco 80gr
capa cartonada
galeria ornitorrinco
av. pompéia, 520
pompéia – São paulo – sp
dia 12.08.2014
a partir das 18h

para comprar pela internet :
http://ugrapress.webstorelw.com.br/products/quaisqualigundum-roger-cruz-e-davi-Calil
preço: R$45

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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