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hiro kawahara lança hiroines na ornitorrinco hoje

Orlando

10/06/2014 12h17

hiro kawahara é uma dessas unanimidades que ocorrem entre ilustradores.
tímido ou tomado por uma persona que o transforma em um grande palestrante ou animador do bistecão ilustrado, o encontro mensal de artistas do traço em são paulo, é conhecido por sua dedicação e competência quando o assunto é ilustração.
nascido em mogi das cruzes em uma humilde família descendente de imigrantes japoneses, contornou as dificuldades da infância até se tornar um dos expoentes da ilustração no brasil.
o emprego como diretor de arte lhe deu o rigor que sua disciplina exigia até perceber que, pasmem, desenhava! e gostava disso!
largou a segurança do emprego para se dedicar em tempo integral à sua nova paixão, o desenho. a partir daí, alçou novos vôos.
continua fazendo as famosas toalhinhas do mcdonald's mas deu asas à imaginação.

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o resultado disso é o livro hiroines, publicado pela reference press captaneada por ricardo antunes e, parcialmente viabilizado através de uma ação do catarse.
abaixo, entrevista com o samurai:

blogdoorlando – o que são as hiroines?
Hiro – Hiroines é o nome de batismo das garotas que gosto de desenhar. Elas nasceram há alguns anos como um exercício para melhorar meu desenho, tanto gestual como expressivo. Não tinha o hábito de desenhar mulheres, apenas coisinhas fofas, mas sempre quis desenhar pin ups, aquelas mulheres curvosas que vivem sorrindo pra você, nunca estão em um dia ruim. No final, curti tanto desenhar essas garotas que viraram uma marca registrada minha.

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blogdoorlando – vc tem uma rotina para desenhá-las ou faz quando dá?
Hiro – Eu as desenho quando eu tenho um tempo livre, ou seja, quando não estou desenhando a trabalho, estou desenhando como passatempo. Tenho desenhado ultimamente muito mais por conta das aulas que estou dando, às vezes tenho que desenhar continuamente para ilustrar alguns tópicos, numa velocidade bem acima do normal.

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blogdoorlando – vc sempre trabalhou com os prazos e exigências de estúdios e agências. qual a importância de se fazer algo além do profissional. no que isso interfere no seu trabalho diário?
Hiro – O trabalho comercial trouxe uma disciplina quase militar em relação a qualidade e prazos, até pelo fato de ter trabalhado 13 anos como diretor de arte em uma só agência. Infelizmente, durante muito tempo não tive a disciplina inversa, de dedicar um tempo para mim mesmo e desenvolver trabalhos mais autorais, algo que quebrasse essa dureza que, de certa forma também vai se manifestando no desenho profissional.
Sou mais conhecido pelas toalhinhas de bandeja do McDonald's e do estilo de desenho que fizeram dele característicos, mas profissionalmente eu faço muitos estilos de desenho, que vão do realismo ao minimalista, dependendo do job do cliente. E nem tudo o que eu faço profissionalmente é digno de ser colocado no portfólio, por diversos motivos. Por isso as vezes falta alguma coisa que faça sentido no ato de desenhar, e isso não vem com o trabalho. Eu sempre fui um apaixonado por desenho, dos sketches e dos desenhos não finalizados a lápis. É o contrário do que faço no meu trabalho profissional, a maioria publicitário, onde tudo é muito colorido, muito acabado e muito preciso. Precisava de um contraponto onde a finalização ou mesmo a idéia não era importante, simplesmente desenhar por desenhar. Ironicamente isso agilizou todo meu processo de trabalho e acho que ainda dá para melhorar muito nos próximos anos. Ainda procuro soltar ainda mais o traço, fazer trabalhos mais conceituais, onde não haja influência dos trabalhos comerciais, coisa que pode levar mais alguns anos.
É importante produzir algo além do profissional, além do briefing, como um tipo de autoconhecimento. Fazendo isso também a gente fica ciente dos limites da criatividade e do talento, e esses limites são importantes de serem conscientes porque tem que ser quebrados, sempre aprender alguma coisa nova, sempre encontrar uma referência ou um cara porreta melhor que você.
É como casamento, precisa alimentar a chama da paixão pelo desenho senão cada um dorme de bunda virada pro outro e tudo acaba no remerrenho.

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blogdoorlando – seus desenhos refletem um tanto de sua cultura oriental. onde vc acha que japão e brasil se encontram em seu trabalho?
Hiro – Não acho que meus desenhos reflitam tanto a cultura oriental, sempre evitei de ter meu trabalho comparado com mangás ou animês. Embora as Hiroines tenham olhos grandes, elas estão mais próximas do estilo de desenho dos grandes estúdios de animações da Pixar ou Disney. Tenho procurado mais influências de desenho e pintura de americanos e franceses do que japoneses. Procuro sempre seguir a linha filosófica do pedagogo italiano Giani Rodari, tento nunca ter preguiça e fazer uma composição rica e complexa como Norman Rockwell fazia, ou de um dia fazer um traço tão elegante quanto Hermé. Acho que a única real influência que eu tenho dos japoneses é a admiração que eu tenho pelo trabalho do Hayao Miyazaki e Satoshi Kon. Ou também do humor bizarro e podreira que os japoneses possuem, mas isso não dá pra colocar no trabalho.
Ironicamente, em termos de cultura, me identifico muito mais com a dos chineses. Fui iniciado no taoísmo, embora não pratique, mas aplico muito a filosofia do caminho do meio no trabalho e no dia-a-dia.

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blogdoorlando – parece que há um retorno, bastante saudável aliás, aos livros desenhados ou com portifólios. vc acha que desenhistas poderão viver exclusivamente disso daqui um tempo?
Hiro – Em relação aos livros portfólios, como Hiroines, não. Acho que nem nos EUA ou na Europa, onde eles são mais comuns, dá pra se manter só com livros baseados em trabalhos autorais sem um conteúdo ou uma história. São livros de referência para alguns, e para divulgação e uma passada de mão na cabeça do ego de outros. O público que compra esse tipo de livro é pequeno e específico, acho que não consegue sustentar um ganha-pão.
Em relação aos livros ilustrados a coisa muda de figura e espero profundamente que isso consiga dar casa, comida e carinho para ilustradores no futuro. Sempre vai ter espaço na prateleira de quem quer ter livros com boas histórias e boas ilustrações, e com uma queda dos livros digitais, da facilidade com que o Kickstarter e o Catarse liberam o autor da necessidade de ter uma editora para publicar seu livro e da diminuição dos custos de produção, muita coisa boa deve surgir no futuro.

Tapir

blogdoorlando – esses trabalhos fôfos terão mais desdobramentos em breve?
Hiro – Sim, já faz tempo que quero contar uma história desenhando. Tenho planos de produzir um livro ilustrado ou uma história em quadrinhos. O problema são os textos. No fim eles ficam tão longos que precisaria ser Craig Thompson para encarar os desenhos.

 

quem é hiro:
Hiro Kawahara, de Mogi das Cruzes, é ilustrador e diretor de arte há 27 anos, e agora também dá aulas de desenho intuitivo. Mais conhecido pelas lâminas de bandeja do McDonald's, ilustra coisas para o mercado infanto-juvenil e desenvolve personagens publicitários. Quando não está trabalhando, desenha monstros fofos e donzelas curvosas.

serviço:
heroines
de hiro kawahara
capa dura
72 páginas
R$70
R$50 (preço promocional no lançamento)
lançamento hoje, 10.06.2014
galeria ornitorrinco
av. pompéia, 520 – sp
a partir das 19h

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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