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cartunista mario alberto reúne charges em livro sobre seleção brasileira

Orlando

21/05/2014 07h46

nosso terceiro destaque de livros sobre futebol é o álbum 15 anos de seleção de mario alberto.
mario, carioca, flamenguista, guitarrista, ilustrador e caricaturista se destaca pelo virtuosismo de seu desenho e pela visão particular do universo futebolístico. suas charges são publicadas no jornal lance! e estão reunidas numa seleção que dá uma idéia bastante particular do que aconteceu num período em que tivemos quatro copas.

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abaixo, entrevista o cartunista:

blogdoorlando – mario, vc é um excelente caricaturista e chargista. onde esses dois marios se encontram?
Mario Alberto – Posso dar uma voltinha no passado pra responder essa? Eu não planejei me tornar um desenhista de humor, a coisa foi acontecendo e aconteceu tarde, já que, "oficialmente", eu fiz a minha primeira charge e a minha primeira caricatura com 23 anos. Fiz dois trabalhos, um de cada, para um salão de humor aqui do Rio e, mesmo assim, só porque um colega de faculdade insistiu muito. Evidentemente, eu tomei gosto pela coisa, só que tem um porém nisso aí. Com o passar do tempo, eu me apaixonei muito pela caricatura, eu me sinto à vontade nela, mas a charge é um sapato apertado pra mim até hoje. Pode bater uma ideia para uma caricatura a qualquer momento. Olho para as pessoas nas ruas e fico vendo "caricaturazinhas", fico analisando o que faria com "aquele" rosto. Tenho várias caricaturas na gaveta, em vários estágios, do traço a outras quase acabadas (algumas até acabadas, só que eu não admito). Charges não. Não tenho nenhuma. Nada. Zero. Posso estar esquecendo, mas, fora aquela primeirona pro salão de humor, eu só fiz charges profissionalmente na minha minha vida e todas foram publicadas… Qual era mesmo a pergunta? Ah, onde os Marios se encontram. Imagino dois irmãos, um que leva a vida mais relax, que se diverte trabalhando, e outro mais pragmático, que faz o que faz porque tem que ganhar a vida, e que, quando chega o fim de semana, não quer nem ouvir falar sobre trabalho. Esses dois caras conversam muito sobre isso quando se encontram numa mesa de botequim que tem dentro da minha cabeça. A grande ironia dessa historinha é que, no salão de humor que eu mencionei, a caricatura nem foi selecionada e a charge levou menção honrosa… Vai entender.

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blogdoorlando – pra vc, qual a diferença entre fazer um cartum, uma charge política e uma charge esportiva?
Mario Alberto – A diferença é que eu não sei fazer cartum, gostaria de fazer charge política e estou há quase 17 anos na charge esportiva! Ok, isso não foi uma resposta digna. Segunda tentativa. Entendo que não há diferença entre os três no "começo de tudo", ou seja, na abordagem do tema que origina a ideia. O cartunista sempre procura, em doses variáveis, acertar a mão na mistura de humor e crítica, os dois ingredientes básicos do humor gráfico. Eu, particularmente, pra conseguir extrair algo de mim, preciso incluir na receita mais dois "temperos": a notícia e a pressão do fechamento do jornal. Acho que é por isso que eu tenho uma enorme dificuldade com o cartum. Por mais que eu reconheça a graça e o ridículo de uma situação corriqueira, um comportamento, um conceito ou qualquer outra dessas coisas que geram cartuns, a piada gráfica em seu estado mais puro é uma baita barreira pra mim, não acontece. Passando para as duas categorias de charge, como me tornei um chargista esportivo cuja principal influência na área é a charge política, eu acho que entendo do assunto e já até elaborei uma teoria a respeito. Na charge politica, o alvo é o governo, leitor e chargista sentam do mesmo lado da arquibancada e ambos torcem contra. Isso, claro, falando de modo geral, sem entrar no mérito das ideologias. A inflação subiu? O político roubou? O governo fez caca? O chargista cai matando e o povo aplaude. Já na charge esportiva… Bem. Um time ganha e o outro perde. O chargista faz o seu trabalho. A torcida do time que ganhou acha lindo, a do que perdeu acha uma bosta. O engraçado é que todo mundo pensa que a charge foi feita por causa do vencedor. Mas não. Na verdade, quem inspira a charge é o time que perdeu! O humor, conforme o entendemos, tem uma relação íntima com a desgraça, com o erro. Além desse "erro de leitura" do digníssimo leitor, entra em campo um outro fator determinante que é a paixão que as pessoas nutrem pelos seus times. Claro que isso também existe na política, um é de esquerda, o outro de direita, mas, no futebol, o termo paixão ganha proporções absurdas. Eu procuro estar atento a isso e gosto de ter um cuidado, um carinho até, na hora de meter a mão nessa cumbuca. Só que, por outro lado, eu não posso deixar de meter o dedo nas feridas, senão não tem graça!

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blogdoorlando – a cobrança dos torcedores deve ser enorme. vc tem alguma história engraçada?
Mario Alberto – Ah, rola de tudo. Uma foi quando tentaram me dar o apelido de "Mario Pé Frio das Neves Alberto" porque alguém chegou à conclusão que sempre que eu fazia alguma charge pré-jogo apontando algum vencedor, esse time perdia. Não bastatsse inventar essa, o sujeito começou a repetir aquilo como um mantra. Isso foi no blog de charges que mantenho no Lance!Net. Aí, mais alguns constataram o "fato", se juntaram na pilha e começou uma trollação nos comentários que durou alguns meses. Outra é quando alguém cisma que eu torço para um determinado time. Já fui taxado de corintiano, tricolor (carioca e paulista), botafoguense, palmeirense… O mais legal disso é que eu nunca fui chamado de "flamenguista", só que eu SOU Mengão! O lado bom é que, se, através dos anos, eu já tomei partido de todos os clubes é porque eu não tomei partido de nenhum. Outra coisa é que, se ninguém me chamou de flamenguista, é porque eu não tomo partido do meu próprio time quando estou trabalhando.

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blogdoorlando – vc é chargista do jornal lance!. vc acompanha o futebol só profissionalmente ou é torcedor fanático como seus leitores?
Mario Alberto – Me amarro em futebol desde sempre. Cresci jogando bola, ouvindo jogo no radinho, lendo sobre futebol no jornal e indo ao Maraca. Até me considero fanático, me emociono muito nos jogos, mas não me vejo mais como aquele fanático cego, surdo, mudo e tapado, que fica o tempo todo tentando provar que é mais torcedor que o cara do lado e que o seu time é maior e melhor do que o do cara que senta do outro lado da arquibancada. Pra falar a verdade, nunca cheguei a esse ponto. Poderia me classificar como um fanático tranquilo. Alguém que pula, xinga e grita durante as partidas mas que, assim que o juiz apita, segue a vida numa boa. Fico feliz com as vitórias, triste com as derrotas, mas nada que faça me sentir no topo do mundo ou no fundo do buraco. Minha relação com o futebol mudou muito depois que comecei a trabalhar com charge esportiva e, sim, a minha forma de lidar com isso é muito diferente da dos meus leitores. Nem poderia ser de outro jeito, afinal, em pleno domingão, enquanto eles estão em seus momentos (que deveriam ser) de lazer, no estádio ou no sofá de casa, com uma cervejnha na mão, eu estou na frente da TV com um papel e um lápis na mão e um computador conectado em algum site esportivo acompanhando as partidas só esperando rolar o  "clique" que vai gerar a charge do dia. Não tem paixão que resista à pressão do fechamento. Eu não conseguiria fazer o meu trabalho direito se me entregasse à emoção e fazer o meu trabalho bem feito é mais importante que ver o meu time ganhar. Amo o Flamengo, mas amo mais o desenho!

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blogdoorlando – e, pelo jeito, futebol ainda vai dar muito assunto…
Mario Alberto – Eita… O futebol brasileiro é "odoricoparaguaçunescamente" terra fértil para o humor. E esse ano tem essa Copa que, já deu pra constatar, será (já é) um prato fundo transbordando de assunto pra charge. Época de Copa do Mundo sempre é legal porque todo mundo se volta pro futebol. O público e os profissionais da área. Eu festou acostumado a estar sempre lá, meio sozinho "chargeando" sobre futebol, falando pras pessoas que gostam de futebol, só que, quando chega a Copa, me sinto como aquele cara que chegou muito antes de todo mundo na festa, solitário no meio do salão, e que, de repente, vê a galera toda chegar ao mesmo tempo na maior animação. Essa Copa já tem a particularidade de misturar profundamente futebol e política, com várias vertentes e formas de enxergar os fatos que convergem, divergem, entram em conflito. Enfim, um caldo grosso e altamente inspirador. E eu "só espero entram em campo e dar tudo de si para não decepcionar essa torcida maravilhosa que sempre vem pra nos apoiar".

blogdoorlando – todas as charges foram publicadas ou tem algo inédito?
Mario Alberto – A maior parte do material selecionado pro livro já foi publicada anteriormente no Lance. Desde a fundação do Lance!, já foram disputadas quatro Copas e muita água passou debaixo da ponte dentro do tema seleção brasileira. Havia muita história para recontar, daí a decisão de reunir tudo de uma tacada só a fim de marcar a realização dessa Copa no Brasil, um momento que, apesar dos pesares, de um jeito ou de outro, aos trancos e barrancos, é um marco não só da história do futebol brasileiro, mas do país. O inededitismo ficou por conta da roupagem dada aos trabalhos. Ao invés de apresentar as charges e caricaturas cronologicamente, uma depois da outra, optei por reuní-las e compô-las página a página de modo a contar uma história de um jeito legal. Para amarrar os fios dessa meada, escrevi vários textos curtos que contextualizam e complementam as imagens sem ficar explicando tudo o que o leitor já está vendo. Pra dar uma esquentada no material, produzi especialmente para esse livro um "poster-caricatura" da seleção campeã da Copa das Confederações em 2013 que, pra minha alegria, foi todo convocado e os caricaturados ainda podem ser considerados o time titular. Além disso, incluí também duas caricaturas ainda não publicadas que fiz esse ano para uma exposição pessoal que rolou dentro do festival de humor Risadaria em São Paulo. Uma do Ronaldo "Cascão" da Copa de 2002 e outra do Roberto Carlos de 2006.

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blogdoorlando – quem vai ganhar a copa?
Mario Alberto – AR-REN-TI-NA! AR-REN-TI-NA! AR-REN-TI-NA!

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mario fala dos outros dois lançamentos:
"Como o Botafogo Conquistou a China" – "Como rubro-negro, eu estou curiosíssimo para entender como o Bruno chegou à conclusão que a  torcida do Botafogo é a maior do mundo. Não espero nada menos do que, ao terminar de ler o livro, eu esteja convencido desse fato verossímil,"

"Almanaque do SabeTudo das Copas" – "Quando o Marcelo me chamou para participar do livro, eu me senti como o jogador que entrega a folha de papel em branco assinada pro dirigente redigir o contrato. Poder fazer parte de um projeto capitaneado pelo MM é, por si só, certeza de estar em algo sensacional, só que eu ainda tive a imensa alegria de dividir as honras com amigos queridos como o eterno parceiro Gustavo Duarte, o "maior sorriso do cartum mundial" Junião e, claro, Marcelo "Mr. Almanaque-cheio-de-coisinhas-e-referências-legais" Martinez. Mais bacana ainda está sendo ler/usar/rabiscar o livro com a minha filhota Clara. Momentos inesquecíveis de felicidade e descontração em família! O Manual do SabeTudo é melhor que o álbum da Copa!"

serviço:
15 anos de seleção
editora: Lance!Publicações
venda apenas  em algumas bancas de São Paulo e Rio de Janeiro e livrarias de SP
R$ 44,90
21 x 28 cm, couché fosco 115 g/m²
112 páginas
Capa em cartão triplex
full color
Prefácios de Marcelo Martinez e Marcelo Barreto (jornalista, apresentador SporTV)
não há lançamento previsto ainda

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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