a virada cultural virou. virou outra coisa.
eu sou fã da virada. a ocupação do espaço público por música, dança, teatro, intervenções, espaços destinados às crianças é o que qualquer grande cidade como são paulo deveria oferecer sempre. a cidade é de todos e a possibilidade de se andar pela madrugada pelas ruas era o indício mais claro de uma cidadania que estava por vir.
as duas primeiras viradas foram incríveis nesse sentido, mesmo vc percebendo que o excesso jogava algumas centenas de jovens bêbados de alegria e vinho barato pelos gramados entre o municipal e o anhangabaú.
faltamos às últimas duas viradas e decidimos dar uma espiada nesta que ainda acontece neste momento.
23h: do metrô ana rosa até a são bento, vagões lotados de jovens vestidos representando suas tribos. camisetas pretas do metálica, bichos grilos, garotos com dreads, muitos de bonés, bermudas e sacolas carregando bebidas de potencial explosivo. cachaça, vodka e algum fermentado de uva baratos.
na catraca da estação o barulho era ensurdecedor.
dava a impressão de que o "tomar conta da cidade" se fazia no grito. todos os encontros e chegadas eram comemorados com muitos decibéis.
a recepção era feita por seguranças vestidos de preto e coletes a prova de bala, muitos de cabelos grisalhos e uma simpatia discreta.
saindo do metrô, a surpresa. a cidade, perto de outras viradas, estava vazia. cadê todo mundo?
na são bento não havia empurra-empurra e nas ruas vizinhas, havia muito menos gente do que em dias de trabalho.
os palcos eram longe uns dos outros e a sinalização deixou muito a desejar.
no posto de informação o policial se limita a dizer: deve ser por ali.
não haver mapas detalhados é uma falha grave especialmente para quem vem de fora.
qual a distancia do largo são bento à praça da república?
nada explicava.
no anhangabaú, paredes de led iluminavam o vazio de pessoas. o viaduto do chá estava quase às moscas, mas na 24 de maio o bicho já começava a pegar.
grupos de garotos se juntavamm, faziam caras, davam risadas, trocavamm olhares e ficava na cara que iriam aprontar. hora de pular fora.
na s. joão roqueiros de cabelos brancos e carecas generosas dividiam o espaço com head-bangers num corredor estreito enquanto o jazz rolava na república com espaço suficiente para todos dançarem com folga.
nesse trajeto, muitos moleques ficaram nas blitzes. quase todos usavam bermudas, agasalho e o cabelo raspado nas laterais.
a virada é um evento demais mesmo, mas o encontro com o verdadeiro brasil é de uma dureza assustadora. cidadania, respeito, civilidade, resgate, são palavras que vão se perdendo a cada estação de metrô ou trem que se passa.
a cidade passa a ser algo a ser vandalizado, estuprado e destruído já que não me representa.
o enfrentamento é visível e quem vai para se divertir na boa encontra o que vai se divertir "de boa".
o resultado, arrastões e gente ferida nos hospitais. não é um bom saldo para um evento cultural de integração e graça como a virada.
vão-se os celulares, bolsas e documentos mas, mais que isso, vai-se a esperança de que um brasil melhor pudesse estar perto.
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