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supernova procura novos espaços para a utilização de ilustração

Orlando

08/04/2014 08h00

um dos maiores desafios lançado aos ilustradores nos últimos anos é saber como abrir novas frentes de trabalho.
jornais, revistas e publicidade, tradicionais flancos de mercado para esses profissionais já não conseguem absorver toda a oferta de criativos disponíveis. esses meios passam por um momento de reflexão tentando, eles também, entender o que acontece e para onde as coisas estão indo.
menos leitores, menos espaço, menos anúncios, menos verba acabam por engessar um mercado que depende de um giro e investimentos muito rápidos.

glauco diógenes vive em são paulo, é sócio do estúdio supernova, é ilustrador e designer. percebeu que não poderia ficar esperando o mercado se encontrar e se re-direcionar e foi à luta prospectar outras possibilidades.
prospectar é uma palavra que ele adora e foi no futebol onde ele achou um nicho praticamente virgem e inexplorado.
entenda o que é na entrevista abaixo:

Blogdoorlando – Ilustradores têm procurado não depender mais de publicações ou de encomendas. como vc está vendo isso?
Glauco Diógenes – O mercado de publicações em todo o mundo passa por um processo de reconstrução importante, que infelizmente durante muito tempo foi procrastinado, a adaptação e entendimento desse novo consumidor de informação ficou obsoleto, deficitário, a abertura da economia, o acesso a outros conteúdos de grande qualidade em plataformas distintas e devices junto com os blogs, vlogs, veio e "engoliu"  o modelo antigo, ele vai continuar existindo em nichos
cada vez menores e extremamente competitivos, também no que diz respeito a precificação de projetos e novos gestores nesse mercado que durante muito tempo perdeu atratividade, há uma oferta enorme de qualidade artística mundial no Brasil, especialmente depois do "Boom" e  "Glam" criados em torno da profissão de ilustrador e designer durante o final dos anos 80 e início dos 90. Percebo uma onda nova vindo aí, que vai ordenar esse contexto, no entanto sobreviver de projetos, tanto em ilustração quanto em design é cada vez menos uma realidade sustentável e vamos ter de nos adaptar.

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Blogdoorlando – Vc acha possível que profissionais do desenho possam ser donos de seus próprios projetos?
Glauco Diógenes – Eu não só acho possível, como acho uma questão de sobrevivência, simples assim. E isto já vem acontecendo de uma forma bacana e ao que me parece irreversível no mundo e no Brasil, basta ver o que o Rafael Coutinho tem feito com o Beijo Adolescente, o Gustavo Duarte com suas HQS, os irmãos Moon e Bá,  Rafael Grampá e mais recentemente o Samuel Casal e o Ramon Rodrigues com a Gráfica Clandestina, isso pra citar os que me lembrei agora. É a nossa resposta pro novo mercado, pro novo cenário, voltamos as origens de uma certa forma, só que agora a concorrência está muito maior e pulverizada. Em tempo: sempre haverá mercado para a ilustração, arte, design, mesmo aqui, e com todos os problemas que já estamos carecas de saber; o que mudou foram os meios de distribuição e o poder que as novas ferramentas possibilitam a cada um empreender seu próprio negócio e o posicionamento que a sua "marca" vai ter nesse mercado. Infelizmente ainda existe muita crise existencial, muito "dodoísmo", muito debate inócuo; ter escolhido ser ilustrador, designer, foi por amor a arte, ao ofício, ao fazer, tenho ideais, me emociono quando vejo um grande projeto como muitos de nós; mas preciso ser mais racional, preciso saber me adaptar ao novo, o potencial de ilustração brasileira é super competitivo mundialmente, precisamos gerir nosso nomes e nos enxergarmos como marcas: gestão, branding, marketing (honesto e bem feito) e leis, tem de entrar no nosso cardápio junto com a coleção nova de pincéis ultra bacanas da Winsor & Newton.

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Blogdoorlando – Seu estúdio está investindo no marketing futebolístico. como é isso?
Glauco Diógenes – Sim, estamos implementando um terceiro pilar que se integraria a comunicação institucional e ao marketing dos clubes, trata-se da gestão da marcas dos times através do Design, não é exatamente branding,
embora tenhamos princípios trazidos dessa disciplina. O ponto nevrálgico do projeto, está focado em parâmetros consistentes de organização visual para a criação e desenvolvimento dos uniformes dos clubes com design assinado, encomendas de famílias tipográficas exclusivas, novas pesquisas de materiais, consultoria e solidificar o carro chefe de vendas que são as camisas, isso tudo em parceria é claro com as fornecedoras de materiais esportivos, que são importantes, mas tem muito poder e autonomia para definir o que é legal ou não para sua marca, é mais ou menos como se a gráfica fizesse também parte de criação; ok, aí o gestor vai dizer: "eu não tenho grana pra ter uma departamento ou uma mini lab funcionando aqui dentro do meu clube, mas eu preciso ter alguém, ou alguma empresa que faça essa gestão por mim". E aí que nós entramos, não dá pra deixar "correr solto" como acontece atualmente, os resultados são pífios, a cada pré-lançamento de camisa as redes sociais fervem, é preciso escutar as expectativas das pessoas.

A partir daí expandiremos para os fornecedores licenciados, desenvolvimento de identidade visual, materiais de escritório, intranet, internet, aplicativos móveis, games, a gama de possibilidades é infinita, mas os clubes ainda sequer engatinham nesse sentido, a idéia de que o popular e o tosco andam juntos é um dogma brasileiro, uma lástima, há muito trabalho a ser feito, mas acredito que aos poucos vamos conseguir mostrar os resultados reais dessa ferramenta poderosa, os clubes europeus já traçaram o caminho há pelo menos duas décadas e colhem os frutos, você anda na rua e cada vez mais a molecada consome as marcas de fora em detrimento das brasileiras.

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Blogdoorlando – O futebol, apesar de girar milhões de reais, nunca se preocupou muito com o desenvolvimento de marcas e do visual.
Glauco Diógenes – Sim, o que é uma incongruência total, uma anomalia, se você considerar que o futebol é uma atividade lúdica, um espetáculo visual, uma "ópera ultra pop", a minha visão do futebol é de um grande teatro, o palco, as estruturas e o figurino tem de ser impecáveis, para que tudo funcione bem, é o básico; isso tem muito a ver com os gestores que ainda estão a frente dos clubes e a estrutura feudal, arcaica do sistema político dessas instituições, o futebol é um retrato da sociedade brasileira numa fração microscópica, as mesmas idiossincrasias, as mesmas trocas de favores, gente corrupta, gente vaidosa, que prefere muitas vezes fazer um trabalho patético e ser o único autor, trazer os holofotes para si, ao invés de fortalecer uma parceria e oferecer um produto melhor, etc, embora tenha muita gente boa também, competente, querendo fazer, isso impossibilita um desenvolvimento mais acelerado e mais profissional do meio, tem de estar disposto a encarar tudo isso, eu ainda estou.

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Blogdoorlando – como surgiu a idéia dos produtos para a tok & stock?
Glauco Diógenes – Tenho uma relação super bacana com a empresa há 10 anos, desenvolvi algumas coleções menores, 3 linhas de ecobags, em 2006 já havia feito uma pequena coleção de copa também, mas o fato de termos um mundial acontecendo no Brasil, e a proposta de trabalho que tenho dentro do contexto credenciaram a fazermos uma coleção importante com design assinado. Havia conversado com os diretores de tendência e design da empresa há cerca de 2 anos, então criamos o conceito inteiro, o brasão que dá nome a coleção e faz um trocadilho com o nome da marca e foi registrado no INPI, além de todas as ilustrações sem grandes restrições, entre a apresentação da idéia inicial e aprovação dos protótipos levamos um ano e cinco meses, uma das coisas mais legais desse desse trabalho, foi a possibilidade de integrar as disciplinas, pois pra deixarmos a coleção homogênea foram necessárias adaptações das artes para as diversas superfícies de cada produto, definitivamente um projeto de Design e Ilustração voltado para aplicação em superfícies.

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Blogdoorlando – vcs estão trabalhando em outros projetos nesse segmento ou pretendem abrir o leque?
Glauco Diógenes – Sim, temos mais duas coleções pré aprovadas e outros projetos em fase de prospecção dentro do mercado de Home Design, no que se refere as linhas com Design Assinado, também estamos desenvolvendo projetos de ilustração para estamparias, já assinei um tapete de linha especial para a By Kami – http://supernova.cx/ilustracoes/by-kami/ , e sou um dos sócios do coletivo (D.A.M + http://www.damplus.com.br) –  que integra Arquitetura, Design Visual para ambientações e mobiliário, vencemos um concurso promovido pela rede Accord de Hotéis em 2013, e alguns orçamentos também estão já foram aprovados, nossa proposta é de um design brasileiro, autoral, mas com projeção glogal.
Em março estreei a coluna D.F.C – Design Futebol Clube – na revista Placar e no Facebook através de uma fã page: https://www.facebook.com/designfutebolclube, apresentamos o Design para o público em geral, especialmente de futebol, um marco importante por ser completamente fora do segmento, nessa primeira edição tratamos das disputas dentro da Alemanha entre o Bayern de Munique e o Borussia Dortmund para decidir quem tem o design mais relevante de todo a Bundesliga ( liga de futebol alemã) , no ano passado o Borussia levou a melhor, e utilizou isso como ferramenta de marketing para potencializar a marca internacionalmente e tirar um "sarro" de leve do seu principal rival, enfim, tem bastante coisa bacana rolando, as expectativas para 2014 são as melhores possíveis.

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SUPERNOVA é um estúdio de design multidisciplinar criado em 2005 e que faz apresentações corporativas, branding, customização de ambientes, design gráfico, webgames, vídeos, ilustrações, projetos editoriais, websites, apps para facebook, mobile e tablets.

contato:
http://www.supernova.cx/
glauco.diogenes@supernova.cx

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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