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marcatti lança "frauzio: carnegão" na gibiteria em são paulo neste sábado

Orlando

20/09/2013 14h21

conheci o marcatti ele tinha uns 14 anos e eu 18. estudávamos artes gráficas na escola senai theobaldo de nigris onde o negreiros também havia estudado anos antes.
magrelo, espinhudo, sombrancelhas grossas, cabelo comprido e escorrido, sabia muito mais que eu.
ok, vcs vão dizer que isso não é difícil mas deixa. ele era realmente danado.
fã de crumb, já tinha um traço definido, inventava histórias, desenhava e, acreditem, imprimia suas próprias edições em uma pequena off-set que ficava no fundo da casa em que morava – e mora até hoje – no tatuapé..
depois, as vendia de mão em mão.
era muito pra mim.
um dia, logo cedo no pátio do colégio, disse que tinha conhecido o cartunista alcy e que era pra gente passar na casa dele.
alcy foi o primeiro profissional a ver e comentar meus desenhos.
fui, levado por ele, a uma reunião da legendária "boca", revista underground de descolados das artes plásticas da faap.
em 1986 inventamos de imprimir camisetas na oficina da mãe dele mas durou pouco.

os anos se passaram mas a admiração continua a mesma.
com uma impressora recém reformada, o francisco marcatti jr. continua danado e volta com uma nova publicação do frauzio.

abaixo, entrevista com o quadrinista, impressor, luthier, marceneiro e funileiro marcatti:

 

blogdoorlando – marcatti, vc com 14 anos já desenhava e imprimia suas próprias edições. de onde vem essa sua paixão pela gráfica?
Marcatti – A primeira vez que vi de perto uma máquina de impressão foi em 1976, trabalhando em um escritório (meu primeiro emprego). Era uma pequena offset de mesa que eles usavam para imprimir tabelas de preços. Eu morria de vontade de imprimir meus desenhos nela. Mas foi em 1978, quando entrei no Senai, que percebi o potencial daquele mundo fascinante. Há poucos meses eu tinha publicado minha primeira HQ na revista Papagaio (agosto de 1977). Até hoje, para mim, fazer quadrinhos independentes está diretamente vinculado a também dominar os recursos para publicá-los.

blogdoorlando – os birôs digitais facilitaram a vida da molecada e vc volta a rodar suas revistas em casa em offset 4 cores. isso é querer continuar sendo underground?
Marcatti – A revolução digital ajudou também o offset. Mas eu também tenho prazer por coisas antigas. Foi graças a essa evolução tecnológica que o offset de pequeno formato está quase sucateado. Pela Multilith, paguei uma pechincha por conta disso. De quebra, tive o prazer de restaurá-la por inteiro, como se faz com carros antigos. Tem também o fator do resultado final… O sistema offset deixa um perfume no livro que é delicioso. Adoro cheirar um livro que acabei de comprar! Tenho paixão por imprimir. Minha máquina fica ao lado de minha mesa de desenho. Vê-la parada me estimula a produzir cada vez mais.

blogdoorlando – marcatti, vc se mantém fiel às suas temáticas escatológicas e a um traço muito próprio.
vc sente vontade de fazer outras coisas?
Marcatti – A escatologia é uma coisa natural. Não penso nisso quando crio uma história. Começo a escrever como um novelista. Minhas tramas não vão além dos romances de folhetim. A escatologia começa a escorrer pelas páginas como por abdução. Quando penso em fazer outras coisas, não faço pensando em não ser escatológico, mas fazer algo com outro humor. Foi inesquecível minha experiência com "A relíquia". Tenho dois projetos nessa linha. Pena que são hercúleos… Mas pretendo me dedicar a um deles a partir do ano que vem.

blogdoorlando – ao longo do tempo vc criou uma série de personagens mas parece que vc tem um gosto especial pelo frauzio…
Marcatti – Eu vejo de forma diferente. Para mim, o Frauzio é a única personagem fixa que criei. Os outros são protagonistas de uma ou, raramente duas histórias e nasceram apenas por conta da história onde se inserem. Procuro manter sempre um ritmo de intercalação: uma HQ do Frauzio, uma novela; outra do Frauzio, outra novela…

blogdoorlando – como vc está vendo este momento em que editoras se interessam mais em publicar quadrinhos? como foi pra vc trabalhar numa adaptação como "a relíquia"?
Marcatti – Depois que alguns editores perceberam o valor do trabalho autoral e o impacto positivo que o formato de novelas gráficas tem entre os leitores, o velho preconceito que se tinha com a linguagem vem diminuindo. A lógica das editoras, que antes viam lucros em grandes tiragens de alguns livros, mudou com a transformação do comportamento de mercado. Como forma de sobrevivência, elas pensam mais na diversidade de títulos e, nessa esteira, os quadrinhos têm o formato que se encaixa perfeitamente em nossa era muito mais iconográfica do que literal.
A relíquia foi  uma das coisas mais importantes que já fiz na vida. Tenho milhares de observações a esse respeito. Eu poderia falar por horas sobre isso. Uma delas é que com o Eça de Queiroz, comecei a reaprender a forma de contar uma história.

blogdoorlando – quais são os projetos que vc pretende tocar depois do fráuzio?
Marcatti – Tenho um novo Frauzio sendo terminado e que deve ser lançado em dezembro. Depois disso, vou trabalhar em uma novela que ainda tem o título provisório de "Repolho". No começo do ano vou me dedicar também à reedição das histórias em quadrinhos que fiz dos Ratos de Porão. Faremos um livro com as HQs feitas na década de 1990 e produzirei uma história nova contando o que aconteceu com a banda nesses últimos 20 anos.

blogdoorlando – e as guitarras?
Marcatti – Empoeiradas e com as cordas enferrujadas… Desde o ano passado, quando a Multilith chegou, tenho me dedicado 100% aos quadrinhos. Deixei um pouco de lado minhas outras atividades. A minha oficina, onde fabrico as guitarras, só não está abandonada por que meu filho Daniel herdou minha paixão por construir e fuçar em coisas. Até mesmo meu trabalho com restauração e customização de carros antigos e hot-rods está no limbo… Você perguntou de projetos… No ano que vem quero retomar, também, essas duas atividades.

 

 

serviço:

Sábado, 21/09/2013
17 horas
Gibiteria
Praça Benedito Calixto, 158, 1º andar – Pinheiros, São Paulo/SP

Formato: 15,5 x 23 cm
28 páginas + capa
Capa: colorida em papel Alta alvura 180g
Miolo: colorido em papel alta alvura 120g
Acabamento: Livro, lombada quadrada, capa 4 x 1 cores com laminação brilhante
Edição desenhada, produzida e impressa pelo autor
R$25

 

 

mais marcatti:
http://www.marcatti.com.br/loja/index.asp

https://www.facebook.com/MarcatiHQ?ref=hl

sobre os carros:
http://sigaoldcar.com.br/
https://www.facebook.com/sigaoldcar?ref=hl

entrevistas sobre guitarras:
http://sujeirawebzine.wordpress.com/2011/12/01/marcatti-e-o-underground-paulista-dos-quadrinhos/
http://www.vice.com/pt_br/read/marcatti-v3n4

 

 

 

 

 

 


Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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