você sabia que o sabiá sabia assobiar?
são paulo está em obras.
não são obras de melhorias na cidade mas centenas de bate-estacas, caminhões, guindastes, etc construindo mais e mais edifícios.
com o ar seco dos últimos meses a situação piorou muito. além do barulho e do tráfego de caminhões, há a poeira em suspensão que penetra nossas narinas e frestas das casas.
o trânsito já caótico é só o prenúncio do que virá quando centenas de apartamentos e garagens forem liberados para seus novos proprietários.
na tv, sabemos dos ataques de traficantes evangélicos contra praticantes de outras seitas, acompanhamos a novela do julgamento do mensalão, acompanhamos a espionagem americana e o imbroglio com o metrô psdbista. vemos que a economia patina, que o superfaturamento continua nas obras da copa, que temos um parlamentar condenado e que manteve seu mandato assim como temos parlamentares com mandato e que não vão a julgamento nunca.
vemos todos os tipos de barbaridades todos os dias e há um grupo que esbraveja pedindo soluções.
contra isso tudo?
não, contra o canto do sabiá-laranjeira na madrugada!
sabiás estão em polvorosa!
eles, assim como outras aves e animais da natureza não vão azarar suas fêmeas nas discotecas da vila olímpia, nem fecham o trânsito nas portas dos bares da vila madalena, nem fazem cortejo tunnando seus carros e colocando o som a mil.
eles cantam, dançam e sapateiam seus balés estranhos por um período até curto do ano, às vésperas da primavera.
hormônios a mil, eles cumprem a alegre sina dos rituais de procriação na tentativa de impressionar suas jovens pretendentes.
são paulo conseguiu, nos últimos anos, trazer de volta um sem número de espécies de pássaros. maritacas, pintassilgos, canários, sabiás e tantos outros agora dividem o espaço com os urbanos pardais e pombos. há bairros com urubus também.
e essa volta deveria ser comemorada. passarinhos trazem uma beleza singela à paisagem, compõem a trilha sonora de bairros arborizados, espalham sementes de plantas e árvores.
mas o sabiá, o bendito sabiá, tem esse hábito perverso de cantar à noite. na verdade, de madrugada, lá pelas 3 e 5 da matina.
e quem aguenta?
fosse uma britadeira, um ônibus, moto de dois tempos ou os já quase esquecidos fuscas de escapamento aberto poderíamos tolerar mas, um canto de passarinho não, né?
eles cantam forte e aprendi esses dias que isso se dá por dois motivos: para demarcar território (como fazem os funkeiros e sertanejos com seus carros amarelo ovo) e para ensinar seus filhotes a cantarem (e continuarem a infernizar para sempre os urbanóides que querem dormir) longe de predadores.
pipocam na rede reclamações de toda ordem e pedidos de solução contra a sinfonia noturna.
talvez a prefeitura possa criar uma espécie de psiu passarinhesco ou distribuir estilingues e espingardinhas de chumbo para os mau-humorados…
mas continuariam as maritacas com sua folia diurna e alguém para reclamar.
agora, nesse instante, meio do dia, escuto um sabiá cantando lá fora. deve ter perdido a hora.
dias atrás um bate-estacas na rua de trás abafava esse canto.
talvez a gente devesse se convencer de que esta cidade não merece essa cantoria toda e que todos deveríamos nos contentar com o caos, notícias ruins, baticuns de baladas, pombos e pardais.
abro a janela e tento aproveitar o momento.
em poucas semanas os sabiás e outros passarinhos se acalmarão.
as britadeiras e bate-estacas, não.
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