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shake, shake, sheik!

Orlando

20/08/2013 10h36

o final dos anos 70 era odara.
ressaca de ditadura, a nova vanguarda paulistana e a moçada se beijava na boca.
homens e mulheres tentavam experimentar uma liberdade que chegava meio tardiamente ao brasil.
caetano dava palpite sobre tudo, ditava regras e modas. dizia o que era bom e o que não inclusive sobre uma certa androgenia das relações.
tudo muito odara.

a new wave dos anos 80 e, principalmente, os yuppies dos anos 90 vieram enterrar de vez o resto de hippismo que existia até chegarmos desinfetados ao politicamente correto anos 2000.
pra quem achava que nos anos 2000 estaríamos nos comunicando telepaticamente e andando em máquinas voadoras, a realidade pode ter sido um choque. mal conseguimos ler nossos próprios pensamentos e passamos horas empacados no trânsito.

o futebol se profissionalizou, virou uma máquina de fazer dinheiro e ídolos.
jogadores usam creminho, alisam cabelo, usam roupas, perfumes e carros de grife. namoram coxudas e bundudas, freqüentam bons restaurantes e pistas de dança.
não rezam mais. oram.
agradecem ao senhor a cada gol, a cada defesa ou a cada jogada quase feliz.
são família ou fiéis aos seus amigos de infância na alegria e na tristeza desde que ao som de um pandeiro e repenique.

cá entre nós, pra jogar futebol tem que ser um pouco maloqueiro mesmo e não tem butique que camufle isso.
entonces, dá-lhe porrada no campo, falta cavada, loiraças belzebús na noite.
tudo certo.
mas há os tabus. e homossexualismo é, talvez, o maior deles.
todos se abraçam suados, tomam banho juntos, passam a mão na bunda de sacanagem, se beijam mas não podem dizer que amam. quer dizer, se amam mas não daquele jeito.
sair do armário é difícil, quase impossível mesmo em pleno século XXI. isso pode acabar com uma carreira, afinal.

por outro lado, temos uma necessidade ferrenha de mudar hábitos, de empurrar limites e, nesse ponto, o jogador corinthiano emerson sheik deu passos largos.
não acho que ele vá levantar bandeiras mas é interessante ver o susto que levaram os troglôs com essa nova pauta.
o "vai, corínthia!" deles é até certo ponto, não pode ultrapassar os limites. afinal, os bambis são os outros. bambi no time dos outros é refresco.

pra mim, pouco importa se o sheik, richarlyson, raí ou quem for tenham preferências por homens, mulheres ou ambos. pra quem deveria importar isso?
a reação de parte da torcida corinhiana pode existir mas é um sopro no meio de tantos pedidos de mudanças de comportamento que a sociedade exige.
um selinho no amigo também é nada, mas que vendaval pode causar!

difícil que o mundo volte a ser odara mas é bom, por outro lado, que as pessoas  não precisem mais só das opiniões do caetano.
sheik, keep moving on.
keep shaking!

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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