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medo de perder o cliente é furada

Orlando

15/08/2013 12h22

outro dia escrevi aqui algo sobre concursos e parcerias escrotos e gostaria de complementar falando sobre medo.
não de um medo qualquer, mas o medo de perder o cliente.

ora, artistas gráficos, na sua maioria, são free-lancers, profissionais liberais, os famosos pjs (pessoas jurídicas) e devem cuidar de seu negócio como delicadas plantas na sacada da janela.
todo cuidado é pouco, a concorrência é muita e um deslize pode ser fatal.
mas até que ponto um profissional deve se curvar ante seu cliente?
eu diria pouco. em alguns casos, nada.
bambus têm essa característica de se curvarem e não arrebentarem e esse, definitivamente, não é o nosso caso. quando insistimos em forçar a natureza, o mais provável é que a gente se machuque de verdade.

alguns vão alegar que os tempos são bicudos e que concessões devem ser feitas. pode até ser mas tudo tem limite.
profissionais, desculpem a redundância, devem conduzir seus negócios de forma profissional e negociar é a palavra chave.
sempre vai ter um que vai ceder, grita um lá no fundão. sim, mas não precisa ser vc. nem eu.
profissionais têm esse péssimo hábito de querer ensinar ao mercado como ele deve funcionar mas o mercado é burro. e como todo burro, insiste que o errado é o certo, que só ele se dar bem é o correto e que vc, profissional, se quiser, tope do jeito dele.

como o mercado é um bicho feio e de péssimo hálito, muitos tremem na base e se sujeitam, dão descontos que vão inviabilizar sua atividade, vão tentar cumprir prazos impossíveis.
funcionários nessa condição não são mera coincidência. o mercado adora explorar ambos, empregados e prestadores de serviço sem distinção.
mas o mercado faz a parte dele e nós, a nossa.

contratantes adoram propor que vc dê um bom desconto no primeiro trabalho e, assim que a "parceria" der certo, vão melhorando os valores. um colega brilhantemente inverteu a regra: vamos fazer assim, quanto mais trabalho vc me passar, mais posso pensar em descontos. neste primeiro o valor é esse mesmo.

outro colega não recebeu pelo trabalho que fez para um conhecido tablóide de banca porque não quis assinar um contrato em que cedia todos os desenhos para sempre. preservar seu patrimônio intelectual, aliás, é direito nosso!
não assinou, não recebeu e deixou por isso mesmo com medo de que não o chamassem mais.
como é?
ser chamado para trabalhar e não receber? qual a lógica?
não ser chamado por um péssimo cliente, no meu ponto de vista, é uma coisa boa. por que eu deveria temer?

um cliente que quer explorar seu trabalho vai ficar procurando o tempo todo alguém que faça mais barato que vc, alguém que tope mais alguma furada.
quando se percebe (e é sempre logo), sua "parceria" já está na mão de outro mais desavisado.

medo é muito diferente de cuidado.
esse cuidado nos possibilita viver bem, comprar bons livros, bons materiais e equipamentos, nos mantermos atualizados e focados.
a equação nem sempre é simples e o medo de perder o cliente pode ser o primeiro empecilho para que vc a resolva.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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