Topo

Histórico

Categorias

concursos e parcerias escrotos: não, obrigado.

Orlando

22/07/2013 16h22

concursos já foram uma boa oportunidade para artistas novatos virem à luz.
eles eram criados para que a garotada, sanguinho novo, pudesse mostrar sua produção que, até então, dormia no fundo de gavetas ou em pastas rotas.
novos talentos poderiam ser reconhecidos, passarem a se dedicar ao ofício artístico e se tornarem profissionais reconhecidos.
as empresas patrocinadoras, tinham, por seu lado, sua marca ligada ao incentivo que davam a esses meninos de terem uma nova possibilidade de vitrine artística.
sendo assim, muitos publicaram seus poemas, contos, pinturas, ilustrações e cartuns através da iniciativa de empresas de todos os tipos. elas não precisavam ser ligadas ao mercado de arte.

parceria sempre foi uma via de duas mãos.
justamente leva esse nome por proporcionar benefícios para as duas partes.
a parceria inclui, também, a divisão do ônus.
portanto, cada uma das partes se empenha para que uma ação comum seja benéfica para ambos parceiros.

é cada vez mais comum profissionais terem suas pobres caixinhas de emails invadidas por todo o tipo de oferta e de oportunidades. todo mundo está tentando vender seu peixe na rede (sem trocadilhos, plis) e os produtos e idéias vão de a a z, incluindo concursos e propostas de parceria.
a diferença é que, ao contrário das iniciativas de outrora, os concursos e parcerias agora propostos só têm uma via e, tristemente, quase nunca a seu favor.

algumas empresas promovem concursos nos quais vc, como diria nosso saudoso bussunda, participa da suruba entrando com a bunda.
começa que, para participar, vc deve concordar em ceder todo e qualquer direito que tenha sobre sua criação e a empresa, por sua vez, pode explorá-la comercialmente e indefinidamente sem custo algum.
não é um bom concurso? não é uma boa parceria?
não. mesmo para novatos eles são ruins.
vc pode, por vontade própria, correr o risco de participar e não levar. esse é o processo natural de concursos mas, sendo escolhido, a contra-partida deveria fazer parte do pacote.
um prêmio deve ser algo atrativo, não?
ao invés, sua criação vai ser usada, vc leva um pirulito pra casa e vai ter seu nome divulgado.
ãhn… divulgado pra que mesmo?
claro, para que outros espertalhões venham lhe pedir outro trabalho de graça ou a preço de banana.
muito justo…

vejam que num mercado normal, concursos seriam destinados somente a novatos.
no nosso, não.
empresas não tem o menor constrangimento em endereçar  seus spans para novatos e veteranos.
pior, veteranos ainda cogitam em participar.
tudo errado.

as propostas de parceria não são muito melhores que isso.
não existe parceria em que só um se dá bem.
esses dias chegou um aqui.
antes, claro, eu deveria enviar portifolio e propostas pra verem se "dava" para trabalhar comigo.
aprovado, eu enviaria minhas sugestões e eles partiriam para a venda.
se fossem comercializados, eu ganharia 1 ou 2% sobre a venda.
veja que não estamos falando de venda de um apartamento de 9 milhões de reais em que esses percentuais fariam um mínimo de barulho. falamos de caraminguás recebidos de vendas unitárias e baratas.
1 ou 2%? não era uma parceria?
parceria, na minha conta, tirando os gastos de cada um, seriam 50% do lucro para cada parte.
como os relógios, a matemática também parece estar em extinção por falta de uso.

apesar do cenário, há gente honesta, bem intencionada e melhor não misturar alhos com bugalhos.
existem boas oportunidades por aí, sim.
mas o resumo da ópera é que, novatos ou putas-velhas, todo o cuidado é pouco com esses tipos de "oportunidade".
ler o regulamento e o contrato, se certificar de qual é a contra-partida oferecida, preservar a integridade de sua obra e se comportar profissionalmente é fundamental.

vivemos num país livre e é direito das empresas proporem absurdos em suas ações promocionais mas, mais importante, é nosso dever dizer um sonoro "não, obrigado" sempre que nosso fundilho começar a arder.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

Blog do Orlando