Topo

Histórico

Categorias

ainda sobre vândalos

Orlando

27/06/2013 12h38

claro que não vou e não posso concordar com qualquer tipo de ato de vandalismo.
não acho correto depredar e saquear e, evidentemente, esses são casos de polícia. polícia que, em algumas situações, muito estranhamente, foi e é omissa.
prender estudantes é fácil. encarar o malvado de verdade é outra história.
não concordo também com o vandalismo velado, aquele patrocinado por quem deveria trabalhar pelo bem do país.
por que um político eleito para servir o cidadão pensa em se dar bem e ganhar mais? por que um empresário já rico e bem sucedido precisa fraudar o fisco ou seus próprios produtos? por que padres precisam esconder seu gosto por meninos atrás da batina? por que pastores precisam enganar seus fiéis e enfiar a mão em seus bolsos?
são muitos os por quês.
trabalhamos 5 meses pra pagar impostos e ainda assim pagamos convênio médico, dentista, escola, seguro, segurança pessoal, previdência privada, taxas bancárias extorsivas.
tudo vandalismo. vandalismo civil, mas ainda assim vandalismo.
é cruel vc trabalhar a vida toda e chegar aos 50/60 anos e não saber o que vai lhe acontecer pelos próximos 15/20 anos.
de certa forma nossa vitrine é saqueada dia-a-dia.

grande parte dos manifestantes pacíficos é de estudantes. grande parte de estudantes da rede particular. são garotos bem criados, bem alimentados e que, de uma forma ou de outra, percebem que o país não vai bem.
pode ser que tenham percebido isso porque não podem mais andar tranqüilos nas ruas, porque não têm onde estacionar seus carros, porque têm que trancar a casa, acorrentar suas bicicletas, cuidar de seus celulares e note-books na rua.
pode ser mas essa indignação expôs uma insatisfação geral. daí a explosão de manifestações.
nada acontece nessa proporção e num país inteiro se algo não está muito errado.

da mesma forma que entendemos esses protestos pacíficos como um basta, devemos entender também as manifestações violentas. não defender mas entendê-las como inevitáveis num clima de tensão.
vândalos causam dentro e fora dos estádios, causam nos grandes eventos, nos bailes funk e nas boates badalas.
vândalos barbarizam nos assaltos, na periferia, nos bairros nobres, põem fogo em índios, em sem teto que dormem na rua ou atropelam transeuntes com seus carros de último tipo.
por isso são vândalos.
o que devemos pensar é que eles são resultado e não causa. nosso país é um paraíso para gente desse tipo.
vândalos causam medo e, assim, se sentem poderosos. querem ver o circo pegar fogo e, nesse ponto, saquear uma loja, desviar verba de merenda escolar ou colocar ácido no leite é a mesma coisa, caso de polícia e de reflexão.

lojas que não querem ser pixadas, muito comumente, colocam uma plaquinha dizendo que colaboram com entidades sociais com valores economizados por não terem que pintar suas fachadas. isso sempre me pareceu muito bizarro, uma troca estranha, mas parece que funciona.
talvez as lojas do centro das cidades devessem colocar uma placa dizendo que apoiam as manifestações e que vão doar algo também.
bizarro, mas vai que sensibilize os depredadores…

melhor mesmo a plaquinha endereçada aos políticos: apoiamos este país. se vc não andar na linha, meu voto não é seu.
isso não seria nada bizarro.

ps1. hoje faz duas semanas da desastrada ação dos policiais na manifestação na praça roosevelt.
ainda lido com a ferida aberta em meu pé pela explosão de uma bomba. é bem chato mas fico pensando se ela tivesse estourado em meu ouvido, perto dos olhos ou se ela ficasse presa na roupa de um manifestante.

ps2. no texto de ontem citei a historinha do motoqueiro e me esqueci de contar que depois de ele berrar insanamente que o motorista que "não podia errar!", furou o sinal vermelho e sumiu rumo à avenida sumaré.
pois é, só os outros não podem errar.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

Blog do Orlando