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manifestações: o cadaver saiu do armário

Orlando

20/06/2013 21h02

eu adoraria voltar a falar sobre jovens que sairam de casa, de frente de seus notebooks e celulares para ir gritar nas ruas.
o movimento passe livre já existe há um tempo e sustenta uma pauta: transporte gratuito para todo e qualquer cidadão brasileiro assim como é a saúde e o ensino, por exemplo. a saúde gratuita é ruim, o ensino gratuito é ruim e o transporte pago também é ruim. portanto, como começo de conversa, é uma boa pauta.

quando houve o impeachment do collor, vislumbramos um país novo e limpo.
isso não aconteceu. muito pelo contrário.
a oposição derrotada veio e mostrou que podia ser pior que todos os colloridos juntos tanto na articulação, como nos conchavos, na transformação do brasil numa grande província e todos estão aí até hoje: jader, renan, sarney, temer e até o collor.

então, não sejamos ingênuos.
o movimento passe livre pode ser o estopim de uma grande mudança mas pode dar em nada.

a reboque das passagens, todo tipo de demanda veio à tona e, finalmente, o cadaver saiu do armário.
cadaver é aquele assunto que vc faz de conta que não existe (quem já fez alguma d.r. na vida sabe o que eu tô falando) e que, em algum momento, vai sair, dar as caras e fazer aquele cocô gigante no meio da sala, queira ou não.

o que dá a impressão é que todos os assuntos que importam a qualquer cidadão foram empurrados pra baixo do tapete durante todos esses anos, que o gerenciamento do país foi pro ralo e que cada cidadão, cada ser deste país, tem uma exigência particular para fazer.
no geral, todas as manifestações estão direcionadas para os governantes e para edifícios, obras, etc., que os representam. e isso, durante uma copa das confederações!
jogadores furtados no hotel, globais assaltados são cerejas num bolo que só faz desandar.

hoje, como capricho, uma torcida calorosa gritava olé e torcia para uma fraca e simpática seleção do taití que jogava contra a campeã do mundo, a espanha.
não era nada orquestrado nem havia partidos políticos, nem bandeiras. todos torciam para davi contra o golias.
jogo perdido, os jogadores amadores foram ovacionados exatamente quando o pau começava a comer em vários pontos do país.

em contrapartida, como ratinhos expostos a todo tipo de estresse e colocados no mesmo espaço, manifestantes brigaram com outros manifestantes que portavam bandeiras de seus partidos e tentavam captalizar a primeira vitória do movimento. nada mais previsível.
"partido não!, partido, não!". até eu já sabia disso.

a tv também já percebeu o potencial da quermesse nacional e, deixando sempre claro que a violência é causada por "um pequeno grupo de vândalos que não faz parte do movimento", prioriza as grandes fogueiras feitas de pneus, lixo e carros de emissoras de tv.
a quadrilha tá animada. "olha cobra!", "olha a tarifa!", "olha a saúde!", "olha a educação!", "olha os impostos!".
a ponte caiu.
e o cadaver ali, fumando seu cigarrinho, rindo disso tudo.

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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