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o cartunista americano david rees ganha a vida apontando lápis

Orlando

19/06/2013 08h00

em sua coluna do dia 31 de março, na folha de são paulo, o escritor ruy castro fala de um cartunista americano que deixou de fazer cartuns para se dedicar ao ofício de apontar lápis.
menos do que o ineditismo do ofício, ruy castro fala sobre o objeto de madeira e grafite, sobre seu uso, romantismo, etc.
eu, que dou muito valor a um grafite longo e bem afinado, fiquei curioso com a história e fui atrás de david rees, americano que tem 40 anos e vive em beacon, ny.
adoro um lápis bem apontado mas nunca pensei em ganhar dinheiro, muito menos viver disso.
abaixo, entrevista com mr. rees que, inclusive, escreveu um livro sobre o assunto.

fotos: meredith heuer

blogdoorlando – soube de sua atividade como apontador de lápis poucas semanas atrás.
até então, você era um cartunista. como aconteceu essa mudança?
David Rees – Parei de produzir cartuns depois que Obama se tornou presidente. Eu sempre quis parar quando Bush deixasse o cargo.
Como não tinha um emprego, fui trabalhar no U.S. Census, indo de porta em porta. No primeiro dia de treinamento me pediram para apontar alguns lápis. Eu achei tão divertido que pensei comigo mesmo: "Como posso ganhar dinheiro fazendo isso?"
E assim comecei meu negócio: Apontador Artesanal de Lápis.

blogdoorlando – jornais e revistas enfrentam sérios problemas de vendas.
como os cartunistas americanos tem enfrentado isso?
David Rees – Hoje é muito difícil ser um cartunista profissional. Anos atrás a maioria dos jornais tinha cartunistas contratados mas com os cortes de custos, mais e mais cartunistas tiveram que sair ou tiveram seus salários diminuídos.
Muitos cartunistas tiveram que pedir doações através de seus websites, ir trabalhar com animação ou procurar outras formas de fazer seus comentários políticos.

blogdoorlando – apontar um lápis, realmente, requer muita habilidade.
você usa diferentes técnicas para isso? o que diferencia um lápis do outro?
David Rees – Eu tenho muitos tipos de apontadores e uso várias técnicas diferentes. Tenho mais de 20 apontadores de lápis.
Às vezes uso um simples estilete, outras um apontador de manivela… depende do meu humor e do que meu cliente quer.

blogdoorlando – agora, a dúvida que fica: você aponta o lápis e envia para seu cliente.
se ele usar o lápis, ele deve enviar a você para ser apontado outra vez?
David Rees – Sim! Mas eu tenho a impressão de que a maior parte das pessoas nunca tira esse lápis da embalagem. São tratados como esculturas, não como ferramentas.

blogdoorlando – qual é o perfil de seus clientes?
David Rees – Muitas pessoas compram os lápis para dar de presente a amigos.
Presente de casamento ou para aposentados.
Às vezes alguns pais compram para seus filhos um "lápis da sorte" antes de uma prova da escola.
Escritores e professores também bons clientes.

blogdoorlando – você pretende voltar a trabalhar somente como cartunista ou pretende conciliar as duas atividades?
David Rees – Devo começar a produzir cartuns de novo no fim deste verão. Tenho escrito algo para animações sobre o governo americano e eles devem entrar no ar em wired.com ainda no verão.

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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