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movimento passe livre tem que decidir pra onde vai o bonde agora

Orlando

18/06/2013 10h18

um dos grandes trunfos do governo lula foi atender a uma demanda reprimida por bens de consumo através de crédito fácil.
a população carente pôde ter acesso a um sem número de móveis, eletrodomésticos, carros, etc. em muitas e suaves prestações.
agora, parece haver um outro tipo de demanda e não há banco que possa resolver. não, pelo menos, nos moldes tradicionais de empresto e cobro.

a festa ontem foi bonita.
centenas de milhares de jovens tomaram as ruas de várias cidades do país e fizeram, na grande maioria, manifestações pacíficas e ordeiras.
sem violência, sem vandalismo e, ao que parece, os garis tiveram muito pouco trabalho pela manhã, pelo menos em são paulo. não havia nem as latas e garrafas que todo carnaval espalha pelo chão. não havia confetes também.
ficou claro que vários grupos estavam lá por uma causa e essas causas são muitas.
a demanda é enorme e esse passa a ser o grande problema do movimento passe livre.

ontem, pela rede, vários simpatizantes insistiam que as manifestações são pela redução da passagem do precário transporte oferecido à população numa tentativa de manter o foco.
temo que isso fuja do controle.
veja que até agora nenhum partido conseguiu capitalizar absolutamente nada a seu favor. muito pelo contrário. os poucos manifestantes que carregavam bandeiras do pt e do pstu foram obrigados a recolhê-las diante das vaias e gritos de "sem partido".
esse, talvez, seja o grande diferencial do movimento que acontece. não há partidos com megafone dizendo vão pra lá, venham pra cá.
a coisa é tão maluca que, enquanto as ruas eram tomadas, dois dos líderes do mpl estavam sendo entrevistados pelo roda-viva, da tv cultura. ou é muito desprendimento ou é uma confiança inabalável de que todo mundo saberia o que fazer mesmo sem a presença deles.

durante anos, gastamos uma bala com boas escolas para nossos filhos. gastamos numa escola privada o que gostaríamos que o estado gastasse na pública e, sendo assim, nada mais natural que essa garotada de mochila nas costas passe a engrossar o caldo.
tirando os que já estão colocados na empresa do pai, os que acreditam que se matando no mercado financeiro vão ser algo na vida ou os que estão estudando fora do país, todos os outros estavam lá.
ontem o caldo foi engrossado também por muitos desses pais, por irmãos mais velhos e amigos destes que cumpriram pelo menos uma parte do gigantesco trajeto da manifestação. é, verdadeiramente, uma maratona!
seguranças das lojas filmavam e alguns zeladores de prédios expunham seus tímidos cartazes reivindicando algo. havia lençóis em algumas janelas.

mas, voltando ao mpl, os garotos estão num impasse.
abraçam todas essas demandas ou fincam o pé na questão da passagem e reduzem o movimento.
a primeira opção não é uma decisão fácil mas a segunda parece, agora, impossível de acontecer.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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