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memorial recebe a 10ª bienal brasileira de design gráfico neste fim de semana

Orlando

13/06/2013 15h00

sexta, sábado e domingo são dias reservados para o design gráfico em são paulo.
o memorial da américa latina, na barra funda, recebe a maior exposição sobre o assunto jamais montada no brasil pela adg, associação dos designers gráficos. são centenas de trabalhos selecionados entre o milhares enviados e que dão um panorama de a quantas anda o design no país.
além disso, uma intensa programação com palestras, conversas e visitas guiadas.

a seguir, uma entrevista com bruno porto, um dos organizadores da mostra:

 

blogdoorlando – esta é a 10ª edição da bienal. o que ela traz de diferente de outras edições?
Bruno Porto – É a maior de todas as Bienais que a ADG Brasil realizou desde sua primeira edição, em 1992, com cerca de 50% a mais de trabalhos que a média das três últimas edições. É a que tem a mais ampla seleção de projetos, cobrindo não apenas 2 mas os últimos 4 anos da produção de design no Brasil ou de brasileiros no exterior, e abrangendo outras áreas, como ilustração, artes plásticas, moda, design de produto, animação etc. É a que teve o maior e mais variado júri, composto por 89 profissionais nascidos ou residentes em 8 Estados brasileiros e 13 países. É a primeira que foi pensada desde seu início em possíveis itinerâncias internacionais, sendo 100% bilíngue, dividida em 4 eixos que podem ser transportados independentemente, e com um eficiente suporte interativo que permitiria até mesmo dispensar o aspecto físico da maioria de seus trabalhos, tornando-a totalmente digital. Mas o que me dá mais orgulho mesmo é de ser a mais sustentável de todas as Bienais: a inscrição, o pagamento, a primeira fase de envio dos projetos e do julgamento foram feitos inteiramente online, economizando recursos naturais e poupando o bolso e o acervo dos designers. O catálogo da Bienal é um app bilíngue, com cerca de 4000 imagens, centenas de textos e dezenas de vídeos, apresentando os projetos de maneira muito mais completa que um livro conseguiria. E sem mencionar o custo final: o download do app é gratuito.

calendário pindura, do grupo beleléu

blogdoorlando – com tantos trabalhos inscritos, como foi escolher os participantes da mostra?
Bruno Porto – O sistema online de votação permitiu que 64 jurados espalhados pelo mundo analisassem os 1910 projetos dando notas quanto a sua qualidade, originalidade e em que grau haviam cumprido seus objetivos. O olhar do júri foi muito amplo, equilibrando generosidade e rigidez, e foi muito rico por termos profissionais estrangeiros e brasileiros vivendo no exterior nesta etapa da seleção. Chega-se a um outro patamar quando se tem o papa argentino da tipografia Rubén Fontana, o premiadíssimo artista gráfico chinês Chen Hangfeng, o editor de design da Taschen Julius Wiedemann, que mora na Alemanha, ou artista gráfico brasileiro-americano Marcus Villaça, que mora na Hungria, analisando projetos que vem ultrapassando as fronteiras do nosso país, como fontes digitais, marcas, e-pubs e games. A seleção online durou duas semanas, e a seguinte, presencial, uma. Esta segunda etapa, em São Paulo, contou com 39 jurados analisando os 725 projetos mais bem avaliados na etapa online, e definindo 71 Destaques do Júri. Alguns destes jurados já haviam participado da primeira etapa, o que foi bastante válido, pois podiam enfatizar a qualidade dos projetos que haviam sobrevivido ao corte, e ir mais fundo nas discussões. Mesmo se realizando em São Paulo, engana-se quem pensa que esta etapa teve um olhar unicamente local – neste júri haviam mais de dez jurados de outros Estados, como Paraná e Rio de Janeiro, além de um dos argentinos mais brasileiros que conheci – Hugo Kovadloff – e de um francês, Loic Dubois, idem. Para se ter a idéia da diversidade, o mais jovem membro do júri nasceu em 1985, e o mais velho, em 1939.

capa de gustavo piqueira e jaca

blogdoorlando – há uma programação bastante intensa entre sábado e domingo. o que vc destacaria?
Bruno Porto – Uma dos ações sustentáveis da Bienal foi termos um final de semana de abertura que permitisse – e estimulasse – pessoas de fora de São Paulo a visitarem à Bienal. A Bienal para mim é um encontro, os projetos você pode conferir no app (risos). Queríamos criar a possibilidade de mais gente se encontrar, se ver, trocar. Por isso a cerimônia de abertura e premiação dos Destaques do Júri é numa sexta-feira à noite, emendando em uma Conferência no sábado, das 9h às 15h, com apresentações de seis cases sensacionais de projetos selecionados (de SP, RJ, SC, GO, MG, PR), e uma mesa redonda que conta com três renomadíssimos membros do júri: a jornalista, curadora e escritora Adélia Borges, o especialista em políticas públicas de design Gabriel Patrocínio, e o designer belga Mario Van Der Meulen, uma das maiores autoridades em design gráfico sustentável, que mora na Ásia há 13 anos. No domingo, Mario faz uma palestra imperdível chamada Design in the Sustainable Era, eu faço uma visita guiada à Bienal, tem o lançamento da terceira edição da revista Leaf e um bate-papo com dois monstros latino-americanos da ilustração, o colombiano Jairo Buitrago, que vive no México, e o chileno Gonzalo Cárcamo, que vive no Brasil. E tudo isso é de graça!

projeto de alceu nunes e samuel casal

blogdoorlando – eventos como esse acabam suprindo um pouco as deficiências dos cursos, não? 
Bruno Porto – Eventos como a Bienal e o IlustraBrasil complementam o que se aprende na sala de aula. Boa parte do que se leva da universidade veio por meio dos colegas, da troca, da dica do professor depois da aula ou de alguma interação que aproxima o mercado da academia. Ter um evento balizado por uma associação de reconhecidos profissionais é uma garantia de qualidade do que está sendo passado, é diferente de alguns eventos caça níqueis que pululam por aí.

catálogo da exposição macanudismo, da mandacaru design

blogdoorlando – qual a importância de entidades como a adg? 
Bruno Porto – É criar um referencial para o mercado e para os próprios profissionais. Não do que é bom ou certo, mas do que uma parcela relevante – em quantidade e qualidade – de profissionais atuantes acredita ser o melhor para sua categoria. A Bienal é um exemplo disso: os próprios profissionais escolhendo o que consideram seu melhor, de maneira independente. Sem a ADG Brasil não existiria uma bienal de design gráfico, e todos perdem com isso. Os designers sentiram isso na pele quando pela primeira vez em duas décadas não houve uma Bienal, em 2011 – que foi o que nos levou a ampliar o escopo desta edição para 4 anos – pois a Associação estava enfraquecida, com uma redução brutal de sócios pagantes. De repente sentiram-se perdidos, não havia mais para onde enviar os trabalhos, não havia a exposição ou o registro do que havia sido produzido naquele período. Sem o associado não existe associação, e não existem as ações que as associações promovem pelo bem da categoria. O texto do Henrique Nardi, membro da atual diretoria, na apresentação da Bienal menciona a luta de três décadas pela regulamentação da profissão que está prestes a ser aprovada no Senando. Isso foi uma conquista exclusiva das associações, que se uniram e mobilizaram seus membros não só para desenvolver um projeto de lei que atendesse os requisitos políticos e legais mas para pressionar os deputados. A primeira coisa que qualquer político procura saber é quantas pessoas você representa. Se a sua associação tem poucos membros, dificilmente sua categoria será escutada. O que fizemos foi criar um pool de associações nacionais e locais – de design gráfico, de produto, de jóias, moda etc – que mostrasse os milhares de designers espalhados por todo o país. Se você quer ser ouvido, junte-se a uma associação.

projeto de carlo giovani

blogdoorlando – e como anda o design brasileiro com tantos sobe-e-desce da economia e com tantos contrastes ainda?
Bruno Porto – É inegável que o mercado de design se aqueceu com este novo papel que o Brasil assumiu nesta segunda década do século, em parte por ser a bola da vez dos destinos esportivos mundiais, em parte por que a tecnologia finalmente está permitindo que se assimile o ethos brasileiro para o mundo. Embora ainda pulverizada, houve uma valorização do design nas esferas governamentais por conta do reconhecimento da importância da Economia Criativa. Discute-se mais, aprende-se mais, e aos poucos devem surgir soluções para os entraves legais que ainda sobretaxam a importação de equipamentos de trabalho, ou não compreendem a sazonalidade de alguns projetos que obrigam a contratação temporária de funcionários. Hoje o maior problema do mercado do design brasileiro é apenas o de todo brasileiro: estar cercado de Brasil. Pagamos impostos absurdos que não se convertem em serviços de qualidade. O cidadão designer precisa de saúde, de telefone, de transporte público, de segurança, para poder exercer sua atividade.

a programação completa da bienal está em: http://www.bienaladg.org.br

 

 

foto: david fox

quem é bruno porto
Designer gráfico, educador, curador de mais de dez mostras de artes gráficas e autor de livros de como "Vende-se Design", "Memórias Tipográficas", "Asian Graphics Now!" e "Logotipo X Logomarca: a batalha do século". Usa vários chapéus, como o de Coordenador Geral da 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico, o de coordenador executivo da Bienal de Tipografia Latino-Americana Tipos Latinos, o de coordenador do curso de design gráfico do Centro Universitário IESB, e os de membro do Conselho Diretor da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil – SIB e do Conselho Consultivo da Adegraf – Associação dos Designers Gráficos do Distrito Federal. É um carioca de 1971 ainda em fase de adaptação a Brasília, para onde se mudou no ano passado depois de morar quase seis anos em Xangai.

 

serviço:
10ª bienal brasileira de design gráfico
De 14 a 30 de Junho de 2013
Galeria Marta Traba do Memorial da América Latina
3ª a Domingo, das 9h às 18h

Fundação Memorial da América Latina
Av. Auro Soares de Moura Andrade 664, Barra Funda
São Paulo SP  tel_11.3823.4600

www.memorial.org.br

entrada gratuita

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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