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a "virada cultural" deveria começar na escola e na qualidade de vida das pessoas

Orlando

19/05/2013 20h38

 

a primeira virada cultural, em são paulo, em 2005 foi um marco.
vc poder andar pelo centro da cidade lotado de gente querendo assistir a shows, se divertir, encontrar amigos, caminhar com segurança e despreocupado pela madrugada adentro era algo inédito para boa parte dos paulistanos. a cidade, como muitos ainda chamam o centro, é o lugar de passagem de pessoas correndo para o trabalho, um espaço de comércio decadente, de construções abandonadas e caminho para aqueles que vão de um bairro a outro.
é ainda, o lugar onde certo tipo de bandidagem circula e se abriga e, estendendo um pouco mais, onde há a cracolândia, a estação da luz, o comércio popular.
no meio disso, a biblioteca mário de andrade, o teatro municipal, a sala são paulo, a pinacoteca.

as primeiras paradas gays também davam essa sensação. em plena luz do dia, simpatizantes de todas as tendências lotavam a avenida paulista vestidos em cores, com perucas extravagantes, fantasias criativas e muita diversão.

as pessoas tomando o espaço público! tomando e participando do que é seu.

mas, em são paulo, os eventos incham, se tornam enormes assim como os problemas.
em 2007 o atraso no show dos racionais causou tumulto e quebra-quebra na calma madrugada da praça da sé.
neste ano, não precisou disso. arrastões, assaltos, vandalismo não esperaram rappers nem ninguém.
alguns vão dizer que a decisão da prefeitura em cancelar shows na periferia foi uma causa. outros vão dizer que foi culpa da nova administração do pt, outros que o evento cresceu muito mais do que o policiamento do governo do estado.

o triste é constatar que esse é mais um dos constrangedores retratos que temos de um brasil que vem sendo construído por todos nós nos últimos muitos anos.
o brasil, esse país que trata tão mal seu povo, merece ser vandalizado. aqui não é terra de ninguém e como toda terra de ninguém, não merece respeito.
o brasil, essa puta pela qual ninguém se apaixona de fato.

daniela mercury sobe ao palco e vai pedir o celular do senador suplicy de volta a quem o surrupiou.
mas, e o meu? e o seu? e o do joão, do antônio, da mariazinha, da priscila ou da dona neide?
quem sobe ao palco para pedir que os milhares de celulares, bolsas, óculos dos anônimos sejam devolvidos?
quem sobe ao palco ou ao palanque pra fazer isso também em dias que não são de festa?

é lindo que tenhamos festivais, shows, copa, olimpíadas, são joão e santo antônio mas, a virada que precisamos de verdade, é outra.
é a que dá escola, educação, emprego, bons salários, moradia, políticos com moral e crença no dever.
só depois dessa virada, uma virada cultural de fato, poderemos sair nas ruas como um povo civilizado e zeloso.
paulistanos e todos os brasileiros merecem mais do que uma noite e dia emendando música e delegacia.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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