Topo

Histórico

Categorias

os felicianos da vida podem até fazer bem

Orlando

09/04/2013 12h32

apesar de toda a grita, marco feliciano continua lá, reunindo seu rebanho, sonhando alto, com a presidência talvez.

cria dos conchavos do governo, ele pode se tornar o russomano da vez e dilma/lula podem ter que experimentar desse veneno novamente em breve.
no brasil tudo vira show, espetáculo e os facebookers de plantão, continuam eternamente prontos para assinar petições e subir no palanque com palavras de ordem a partir do conforto do lar ou do escritório. de um celular, na fila do cinema, podem botar a boca no trombone achincalhando qualquer um e bom filme.

como todo show deve ter uma estrela, este não foge à regra e a estrela deste espetáculo é a comunidade gay cuja recente cereja do bolo é a cantora de axé daniela mercury. a platinada joelma, defensora evangélica, escorregou no tomate, teve que voltar pra casa e trocar de mini-vestido.
mas, com todo o direito – e todos os têm – de gays reclamarem da indicação do pastor, fazer com que a discussão gire somente em torno disso parece pouco.
atores, cantores e artistas que apoiam a causa deveriam expandir a discussão a todos os níveis.
a comissão atua pelos direitos de todos os cidadãos brasileiros.
veja o texto tirado do site da comissão:

"A CDH recebe anualmente, em média, 320 denúncias de violações dos direitos  humanos. A maioria delas refere-se a violações de direitos de presos e  detenções arbitrárias, seguida de violência policial e violência no campo. Esta escala tem se mantido estável, mas se percebe o crescimento de outros tipos de violações atingindo grupos vulneráveis como indígenas, migrantes, homossexuais e afro-descendentes."

as reivindicações gays são legítimas? sim, claro que são mas beijaços são pouco diante da situação daqueles que querem regulamentar suas relações domésticas, adotar filhos, lidar com heranças, etc.
o beijaço é uma anarquia tola e superficial diante dos problemas dos presos, da violência policial, do campo ou doméstica, da exploração infantil ou dos idosos.
beijaços e fantasias fazem parte do show que feliciano e os que o colocaram lá sabem lidar muito bem, tirar proveito como, aliás, sempre fizeram.

lula foi alvo da demonização criada por collor na campanha de 89. depois disso, soube muito bem inverter os critérios e temos, a partir daí, uma seqüência de eleições em que o debate se restringe às extremidades onde estão os bons ou os ruins.
acreditamos nisso, sem perceber que o miolo dessa polarização é exatamente o das questões esquecidas.
portanto, temos feliciano de um lado do ringue e gays no oposto. ambos, aos olhos do outro, são demônios e o que deveria, realmente, ser debatido como a estrutura da câmara, do congresso, a forma como a política vem sendo conduzida, a crescente violência policial, a impunidade, o medo, etc, ficam no limbo.
podemos ampliar o leque e falar da saúde, da educação, do transporte, da falta de um plano de longo prazo para o país, das bolsas, etc, mas não, vamos falar de mocinhos e bandidos, de abençoados e amaldiçoados.

"Como exemplo de políticas públicas de direitos humanos sugeridas pela CDHM ao Governo Federal, destaca-se a proposta de constituição do Programa Federal de  Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas; da elaboração do Plano Nacional de Direitos Humanos II; do projeto de lei estabelecendo procedimentos para a execução de medidas sócio-educativas; propostas para a organização de um programa de proteção aos defensores de direitos humanos, combate à exploração sexual de crianças e adolescentes; de combate à prática da tortura; da reforma psiquiátrica; de regras para o bom funcionamento dos asilos; proteção de dados pessoais e de combate aos grupos de extermínio."

talvez, mais uma vez, a gente perca o bonde deixando de ampliar e aprofundar discussões que poderiam modernizar nossa sociedade, polir o pensamento e nos fazer cidadãos com direitos e deveres preservados.
nesse ponto, os felicianos da vida podem até fazer bem. à parte o carnaval, muita gente abriu o olho e vem tentando levar o assunto seriamente. daí a termos um país dos sonhos, tem uma distância. mas pode ser um começo.

pra quem quiser saber mais:
http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cdhm/conheca-a-comissao/oquee.html

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

Blog do Orlando