o que mata é o dedo de quem puxa o gatilho
mais um "incidente" envolvendo armas nos estados unidos. de novo dentro de um estabelecimento de ensino, a universidade lone star, no texas.
desta vez não foi uma chacina mas, ao que parece, uma discussão entre dois adultos na biblioteca.
ainda nos eua, nehemiah griego, de 15 anos, fuzila a família toda depois de uma discussão com a mãe.
no brasil e, em especial em são paulo, as chacinas se tornaram parte da rotina de muitos cidadãos.
a campanha pelo recolhimento de armas, por aqui, parece que anda tímida mas a discussão nos estados unidos começa a pegar fogo com a posição do presidente obama.
a soma de "direitos individuais" e de uma indústria de armamentos poderosa entra em choque direto com o grupo que acha que a culpa de toda é das armas.
eu tenho pavor de revólver. se eu fosse esotérico, diria que ele carrega uma carga negativa implacável e eu não quero isso perto. mas, o fato, é que armas continuam sendo seres inanimados. sem trocadilho, são uma natureza morta.
e por que chacinas e sandices que temos tanto acompanhado nos chocam assim?
dizia millôr que vivemos no melhor dos tempos e, de certa forma, não posso deixar de concordar.
apesar de tantas injustiças, temos antibióticos, temos um conforto jamais visto, temos uma organização razoável e conquistamos, às duras penas, um mínimo de civilidade.
pense numa guerra 400 anos atrás. pense num campo de batalha onde corpos mutilados por espadas enferrujadas, machados e tacapes de toda ordem, agonizavam amontoados uns aos outros. uma cabeça aqui, um braço ali, pernas, pés e mãos separados de seus donos.
pense nas fogueiras e nos castigos nas masmorras.
a civilidade nos trouxe a guerra cirúrgica, a tortura psicológica e injeções letais. tudo muito mais limpinho e palatável.
apesar de ser de direito, não acho que pessoas devam ter armas em casa. facilmente a arma de defesa pode se tornar uma de ataque ou, ainda, ir parar na mão do criminoso do qual vc gostaria de se defender.
brinquei muito de mocinho e bandido, torrei os pacová de minha mãe até ganhar um revólver de espoleta com cartucheira de couro, cinturão e lenço no pescoço. adorava andar daquele jeito e sentir o cheirinho da pólvora estourada.
brincar com um revólver de brinquedo, ser um dia o mocinho e no outro o bandido, não me fez um cara pior, nem um psicopata.
pelo contrário. pude lidar com a fantasia, da mesma forma que imaginava voar numa bicicleta parada no pequeno quintal de casa.
minha madrinha um dia aparece com um trenzinho a pilha. montado, não funcionou.
sorte minha.
dias depois ela aprece com uma metralhadora super-mega-hiper maneira, que mexia, rodava luzes e fazia todo tipo de barulho que uma metralhadora super-mega-hiper maneira podia fazer.
é uma das minhas melhores lembranças de infância.
temos facas e tesouras ao nosso redor. armas em potencial para alguém que seja mau ou que tenha más intenções.
portanto, a culpa não pode ser do revólver.
nossa campanha deveria tratar do desarmamento do espírito, isso, sim.
o que faz um sujeito ficar xingando no trânsito às 7 da matina? o que faz nosso príncipe harry – aquele safadinho!… – comparar um ataque a seres humanos a um jogo de vídeogame? e as brigas domésticas e nas portas de bares e boates? e os quebra-paus nas arquibancadas dos estádios?
civilizados, podemos nos dar ao direito de ponderar e, ponderando, vejo que o revólver não é o responsável.
a arma, infelizmente, somos nós.
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