todo os dias o mundo acaba para alguém
passada a ressaca maia, voltamos a nos conformar com a obrigação de encarar o dia-a-dia novamente. o mundo não acabou, pelo menos para a maioria de nós e esse frenesi é sempre uma coisa estranha.
por que um extermínio coletivo é tão mais excitante do que os pequenos fins do mundo diários? por que deveríamos todos desaparecer juntos, no mesmo instante e pelo mesmo motivo?
o mundo acaba diariamente para um monte de pessoas. as que são aniquiladas por um infarto fulminante, por um acidente estúpido, pela violência urbana ou qualquer outro motivo inesperado.
talvez as pessoas achem que um desaparecimento coletivo possa nos livrar da dor de vermos os outros sumirem de nossas vidas.
ninguém tem prazer em enterrar seus queridos e, se formos todos juntos, isso poderia ser um alívio.
nessa onda de fim de mundo, dezenas de pesquisas querendo saber o que a gente faria hoje se o mundo acabasse amanhã. ficaria com minha família, daria um festa, correria o mundo, encheria a cara, daria umas bifas no meu chefe, comeria todas as gostosas e mais uma centena de improváveis atitudes foram as respostas.
mas, péra, como assim "se o mundo acabar"?
amanhã cada um de nós pode estar com as botas juntas sob o peso da terra fria e, mesmo assim, não pensamos no que desejaríamos fazer amanhã.
o mundo acaba diariamente para um monte de gente. vão desta para melhor.
os que ficam, esperam um fim de mundo cinematográfico, cheio de glamour e efeitos especiais.
o orçamento do filme não dá pra novos planos e sonhos.
por outro lado, alguém que leve uma vida moribunda e sem expectativas, sonhos ou desejos iria chorar pelo fim?
parece que sim, também.
lidamos mal com a morte, vivemos como se fôssemos eternos e, mesmo infelizes, imprescindíveis para a existência do planeta. planeta pelo qual fazemos muito pouco além de pequenas lamúrias.
continuamos lidando com esse roteiro capenga sempre esperando que uma nova profecia nos ameace e nos torne especiais como os dinossauros nos livros de escola e filmes do cinema.
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