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jaime prades apresenta sua arqueologia urbana

Orlando

26/09/2012 10h05

 

blogdoorlando – você tem trabalhado sempre com materiais descartados nas ruas e caçambas.
essa exposição também vai por aí?
Jaime Prades – desde que comecei lá atrás nos anos 80 a fazer arte nas ruas que o meu olhar fica garimpando os elementos que fazem parte do cenário urbano. Em 89 comecei a série dos "bastardos" desenhando, sobre madeiras catadas das ruas, meus personagens. Depois preenchia as partes podres e revestia as peças com parafina. http://www.jaimeprades.art.br/?area=3&sec=101#sub=12&item=22 <http://www.jaimeprades.art.br/?area=3&amp;sec=101#sub=12&amp;item=22

fotos: neta novaes

 

blogdoorlando – esse novo trabalho remete um pouco às inscrições e aos desenhos nas paredes das cavernas.
JP – Cavernas urbanas, invertidas, expostas. Gosto de chamar meu trabalho de "primitivo futurista". Acho que a minha necessidade de criar desenhos cada vez mais sintéticos acompanha o meu desenvolvimento como ser humano. De ser também mais sintético no sentido de conseguir jogar fora tudo que não é necessário. De ter discernimento e clareza sobre o que é essencial na vida. De perceber como a arte tem o poder de transitar entre a realidade interior e o mundão. Esse mundão aí tão primitivo futurista, essa grande caverna coletiva.

blogdoorlando – a cidade ainda permite um trabalho grande de arqueologia. como você trabalha isso?
JP – Ruínas do futuro aqui agora? Quanto mais consumimos mais vamos sobrepondo camadas de detritos e nos isolando da natureza. Criamos uma anti-natureza onde atribuímos ao desequilíbrio o papel da harmonia. Essa lógica invertida fomenta a ilusão dominante, a "Matrix", a grande ilusão da cultura. Rasgar esses véus é uma arqueologia do invisível, do simbólico. A arte para mim é a espada do samurai para cortá-los!

blogdoorlando – como aconteceu essa migração do papel e da parede para as esculturas, especialmente as em grandes formatos?
JP – Na Bienal que acabou de inaugurar percebi uma forte tendência. Muitos artistas usando coisas, restos de coisas e reordenando-as. Criando novas coisas a partir das coisas criadas. Eu faço parte dessa tendência. A chave é que as coisas assim como as paredes das ruas, as madeiras das caçambas, os escombros etc. estão impregnadas de memórias, encharcadas de humanidade. Cuidar dessas partes feridas, abandonadas, tornadas invisíveis pelos valores dominantes da especulação e da cultura do egoísmo, invertendo o fluxo doentio da sociedade de consumo, esse que é o grande barato!. Desmontar simbolicamente essa porcaria toda destrutiva e irresponsável que estrutura nossa sociedade. Feudalismo neopósmoderno primatascontemporâneos que estão fodendo com o planeta!

blogdoorlando – existe uma rotina em seu processo de criação ou as coisas vão acontecendo? parece existir uma certa disciplina, não?
JP – Sou super disciplinado. Tudo é a obra de arte. O processo é a parte invisível da obra e a coisa/obra a visível. È sobre isso que falava anteriormente. A arte ponte entre o dentro e o fora. Ponte entre realidades, entre naturezas. A arte é um privilégio, é o maná, alimento da alma. A disciplina é o guia dessa aventura.

blogdoorlando – você trabalha sozinho ou tem alguém que te ajude a montar as peças?
JP – Minha tendência é fazer tudo. Estou aprendendo a trabalhar com ajudantes. Quero fazer coisas grandes. Estou nesse momento de mudança de padrão, de aprendizado.

blogdoorlando – você é um dos representantes da geração 80 do grafite paulistano. o que mudou no cenário de lá pra cá?
JP – Fiz parte do grupo Tupinãodá. Pelo nome dá pra ver que nossa pegada não era o HipHop. Mesmo porque somos anteriores. Antropofagia (a cultural…), Concretismo, Flavio de Carvalho, Tropicália, Oiticica… É dessa fonte que bebíamos. Contra a ditadura militar. Pela vida, pela arte! Inspírar as nossas vidas, inspirar a cidade, romper a mesmice e atrever-se a sujar-se publicamente nas ruas. A arte que inauguramos na década de 80 incomoda o sistema de arte até hoje.

blogdoorlando – existe como amar uma cidade como são paulo sem odiá-la?
JP – Vou citar dois sábios, Ortega e Gasset: "O homem é a suas cirscunstâncias"; Osho: "é preciso estar no mundo não ser do mundo".

 

 

quem é jaime prades:

artista plástico, artista gráfico, ilustrador, designer, diretor de arte e figura inquieta, jaime fez parte do grupo paulistano tupinãodá de 1984 a 1989 e participou das principais intervenções urbanas no anos 80 em são paulo. até hoje realiza intervenções e pinturas na cidade sempre tendo como foco seus bonecos gráficos, ecologia e cidadania.
em 2009 lançou pela editora olhares o livro "a arte de jaime prades", uma compilação bastante completa de seu trabalho.

serviço:

parede s/ parede
ateliê galeria priscila manieri
r. isabel de castela, 274
vila madalena – sp
fone: 11 3031 8727
www.ateliepriscilamanieri.com.br

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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