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a cultura do de grátis

Orlando

30/06/2012 14h17

você vai até a quitanda do hiroshi e pede um quilo de tomates. ao invés de pagá-lo em espécie, diz que vai contar a todo mundo o quanto os seus tomates são bons e que todos deveriam se tornar clientes dessa específica quitanda.

é meio isso que vem acontecendo com quase tudo.
acostumados (ou nos acostumando) a ter tudo de graça, achamos que o trabalho não vale nada e aí é só baixar o filme, a música, uma foto, um desenho e ele passa a ser nosso.
isso é realmente uma delícia. com dois cliques você pode ter qualquer coisa!

a pirataria digital hoje tem um novo nome: compartihamento. o que é seu, meu bem, é meu, é meu, é meu, como dizia a música.

domesticamente, continuamos copiando coisas como fazíamos com as velhas e toscas k-7 ou, mais tarde, com as veagaesses mas o que dizer quando o mercado profissional também acha que crédito (a menção da autoria) é pagamento?

aí, a editora, a agência ou o estúdio diz que não tem "budget" para aquele "job" mas que a repercussão pode ser grande e que seu nome vai correr.
correr pra que outros venham pedir de graça, né?

quando as pessoas liam jornais e revistas, até podia valer a pena publicar de graça ou quase de graça se você fosse um novato e quisesse colocar algo impresso em seu portifolio.
hoje, que diferença faz? a repercussão é zero.

a economia de mercado exige que o dinheiro passe de mão em mão – inclusive de artistas – para que o ciclo se complete com o maior número de pessoas.
ao mesmo tempo, esse compartilhamento é um processo irreversível e o melhor dos mundos: a informação sem donos ou limites.
isso tudo nos coloca num impasse e exige uma reflexão.
como excluir criadores da cadeia produtiva? como admitir que lucro faça parte somente da comecialização e não do ponto de partida que é a idéia?

coisas para pensarmos.
caso contrário, voltaremos no tempo e teremos que ter um trabalho público de oito horas por dia para pagar nosso sustento e que permita uma dedicação diletantista à arte. um mecenas pode ser uma também…

desde sempre pessoas trabalham para pagar contas, continuar produzindo, ter idéias, estudar e, inclusive, comprar tomates.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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