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felipe nunes lança dodô, sua nova hq, em são paulo

Orlando

23/10/2015 13h27

CapaDodo

que alguma coisa acontece na cena de quadrinhos no brasil, é visível.
muitos quadrinistas que beiravam uma aposentadoria forçada voltaram a produzir e a desengavetar roteiros e histórias adormecidas.
as editoras, muito por conta das compras do governo, passaram a criar selos que abrigam centenas de novos títulos. com isso, perceberam que existe (na real, sempre existiu!) um público ávido por quadrinhos e, principalmente, por quadrinhos de qualidade.
garotos que gostam de desenhar acabam sempre rabiscando tirinhas, criando personagens mas poucos sobrevivem ou suportam a trabalheira que esse ofício dá. o processo de produção de quadrinhos é muito, mas muito lento.
dos garotos que se destacaram nos últimos anos, um deles é o felipe nunes, o nunes.
curioso e dedicado, inseguro e valente, logo de cara produziu uma hq de 100 páginas, klaus. roteiro redondo, desenho redondo, acabamento profissa. a porteira estava aberta.
agora ele vem com dodô, a história de uma menina que sofre as consequências da separação de seus pais. verdadeira, sentimental e surreal, o livro deve seguir o mesmo roteiro de sucesso de klaus.
abaixo, entrevista com o garoto nunes:

blogdoorlando – depois de klaus ter sido tão elogiado, como foi encarar o segundo projeto solo?
Felipe Nunes – Acho que foi menos doloroso. Ter feito as 100 páginas do Klaus, aprendido tanto no trabalho e na convivência com o Fábio e o Bá, a repercussão do livro, tudo isso me deixou mais seguro. Todo o processo tinha me ajudado muito a crescer dentro da linguagem de fazer quadrinhos (digo no modo prático mesmo) e quando comecei a fazer a história tive mais tranquilidade pra desenvolver tudo. Acho que eu me coloquei menos pressão. Talvez devesse ser o contrário, mas fico muito contente com o resultado do que propus. Agora, muita coisa eu faria diferente, mas eu só vou entender tudo isso quando encarar novos projetos e novos desafios. Gosto dessa ideia de regularidade, de frequência, e lançar um livro por ano é uma meta interessante pra tentar cumprir por um tempo, pelo menos até meus livros começarem a me dar mais trabalho.

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blogdoorlando – quanto tempo vc levou para produzir o livro e por que decidiu fazê-lo de forma independente?
Felipe Nunes – Tive a idéia depois da CCXP ano passado, ainda no calor do evento e da alegria proporcionada pela receptividade positiva do Klaus. Precisava de uma ideia nova, de algo que me ajudasse a evoluir e que tivesse muita vontade de contar. Uma ideia que veio por acaso – olhando o quintal e imaginando como seria massa criar um dinossauro no quintal – e que acabou indo pra um lado muito mais denso do que propunha no começo. Comecei a desenvolver um outro projeto que estava escrevendo e que acabou ficando muito gigante pra aquele momento (e até pra hoje), e por diversos motivos decidi adiar. O Dodô seria uma história menor e cabia certinho pra esse ano. Mesmo assim, esse ano tive contato com situações que convergiam nessa temática (o que é spoiler pra quem não leu) e essa vertente da auto-biografia salta muito pra mim. Acho mais fácil tentar escrever histórias próximas do que já vivi. Escrevi e fiz os thumbnails simultaneamente (sem um texto redigido) em março e de abril até setembro desenhei tudo e editei. Foi bem mais rápido que o Klaus, que levou 1 ano e meio, por exemplo. Fazer independende foi uma escolha. Klaus foi feito com a Balão Editorial e tudo ocorreu super bem – inclusive acredito que sozinho não ia conseguir uma notoriedade tão grande. Mas cuidar de todas as etapas do processo era um desafio a ser encarado nesse momento da minha carreira.

blogdoorlando – provavelmente vc tem alguns argumentos e roteiros na gaveta. por que escolheu dodô?
Felipe Nunes – A história segue uma temática próxima do Klaus – conflitos familiares – e seria interessante dar continuidade ao meu trabalho com uma linha próxima, ajudando a estruturar meu público com livros que de alguma maneira se associassem. Quanto aos roteiros, não tenho muitos não, viu? hahaha Tenho duas ou três histórias que tenho vontade de fazer mas esse hiato pós-conclusão funciona bem pra fazer a seleção do que escolher. Meus próximos quadrinhos devem ser só desenhados, sem texto. Acredito que tudo vai acrescentar pra minha bagagem como quadrinista.

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blogdoorlando – e por que um dodô??
Felipe Nunes – O personagem pedia. Não necessariamente um dodô, mas algum animal que não existisse mais, uma espécie extinta. O dodô em si foi uma escolha estética, e por muito tempo cogitei não revelar o que ele realmente era (camuflar ao máximo com o nome e os textos pra ser só uma ave). Como isso não ia acrescentar em nada pra história, assumi de tal maneira que intitulou a história toda.

blogdoorlando – o que tem a ver a mãe não ter tempo e a laila não ir à escola?
Felipe Nunes – A mãe da Laila voltou ao trabalho por necessidade depois do que aconteceu dentro de casa. No ponto de vista dela, tirar a filha da escola por um tempo é natural. Muitos pais tomam atitudes assim pra estabilizar a situação familiar e ocupar menos o tempo. Na situação da garota, que tem seis anos, é exatamente isso. Lembro de ter alguns colegas de escola que ficaram meio ano, um ano fora porque os pais se mudaram ou se separaram. Ficar aos cuidados da empregada é melhor na logística da família pra se acomodar. E crianças não tem autonomia suficiente pra fazer tudo. Do mesmo jeito, é a motivação principal da personagem: se reestabilizar.

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blogdoorlando – como vc tem visto o cenário de quadrinhos no brasil? tem planos de publicar fora?
Felipe Nunes – Acho que nunca esteve tão bom. Só faço quadrinhos desde 2011 mas desde lá muita coisa melhorou. Muito mais gente produz, editoras publicam mais títulos e cada vez mais gente começa a se auto-publicar. Ainda tem muito problema (distribuição, divulgação, regularidade…). Mesmo assim, uma vantagem, ao meu ver, é a diversidade. Agora a gente consegue colocar três ou quatro artistas em uma mesma bacia, a primeira etapa pra consolidar segmentos, por exemplo, existem mais trabalhos pagos (como os editais e as encomendas grandes, como a Graphic MSP)… Mesmo assim acredito que seja um cenário bem diferente daquele dos anos 80. Quero continuar fazendo parte disso e estou tão curioso quanto você pra saber o que vai acontecer. Pretensão com exterior eu tenho sim, claro. O Klaus sai em Portugal no começo do ano que vem e acho que é um primeiro passo bem bacana. Quero conseguir levar meu trabalho pra outros lugares, mas ainda não me sinto pronto. Traduzimos o Klaus pro inglês e o Dodô está sendo traduzido nesse momento. Logo vai ser a hora de arranjar um espaço pros meus filhos no intercâmbio.

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blogdoorlando – agora que vc é um veterano, qual seu conselho para quem está começando.
Felipe Nunes – Hahahah Veterano é você, Orlando. Acho que o importante é produzir. sempre. Que seja um blog, um fanzine, um livro, a produção ajuda a gente a melhorar. Quanto mais a gente faz e experimenta, melhor compreendemos a linguagem e o que criar com ela. Acho que é um processo lento mas que precisa de bastante esforço e dedicação. Se eu não produzir e não melhorar, a onda leva. E isso é com todo mundo – sempre vai aparecer alguém melhor do que você, alguém com mais vontade. Gosto de pensar que todas as noites que não dormi nos últimos dois anos serão revertidas em anos de descanso deitado em minhas pilhas de dólares daqui há algumas décadas.

 

 

serviço:

Dodô – de Felipe Nunes
18,5 x 26cm
80 páginas em offset 120g/m
preto e branco
independente
quando: 24.10.2015 a partir das 15h
onde: Gibiteria
Praça Benedito Calixto, 158 – 1º andar
05406-040 – São Paulo
R$28

 

Felipe Nunes tem 20 anos, é quadrinista, ilustrador e cursa Design Gráfico. Começou a trabalhar em 2010 e desde então colaborou para publicações como Recreio, Mundo Estranho e Runner's World, entre outras. Como quadrinista, publicou dois quadrinhos independentes: SOS, em 2011, e Orome vol.1, em 2013. Em 2014, lançou com a Balão Editorial sua primeira graphic novel, Klaus, que lhe rendeu o Troféu HQMIX 2014 de Novo Talento – Desenhista.
Pode ser adquirido também na e-loja do autor – www.nunes.ilura.comwww.nunera.tumblr.com
www.nunera.tumblr.com
www.nunes.iluria.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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