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fábio moon e gabriel bá lançam adaptação de épico de milton hatoum em sp

Orlando

13/04/2015 10h45

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a ficção dois irmãos, do escritor amazonense milton hatoum, foi lançado em 2000.
trata-se da história de dois gêmeos, yaqub e omar, de origem libanesa e que vivem em manaus. hatoum também tem ascendência libanesa e nasceu na cidade.
o livro traz uma apaixonante história de conflito entre os dois.
fábio moon e gabriel bá são paulistanos e também gêmeos.
foram escolhidos pela editora companhia das letras para adaptar a saga para os quadrinhos. eles já haviam feito isso, com muita propriedade, com o conto o alienista, de machado de assis.
ao contrário dos irmãos criados por hatoum, eles não tem tantos conflitos, não se odeiam e consolidaram, juntos, uma carreira muito bem sucedida no mercado de quadrinhos nacional e internacional.
abaixo, entrevista com os dois sobre as dificuldades de se adaptar um livro denso e delicado como esse:

blogdoorlando – mais uma adaptação. agora, um livro de peso e não um conto. fora isso, um livro que tem uma cronologia que vai e vem.
qual o grande desafio?
Moon – Explorar em Quadrinhos essa narrativa não linear, esse fluxo de pensamento desordenado que comanda uma história que trata da memória dos personagens, foi o grande desafio. Na prosa, você tem todo o espaço do mundo para compor essa narrativa, você constrói com as palavras e a imaginação do leitor. Nós queríamos acrescentar uma nova camada, a dos desenhos, para recontar essa história sem perder a força ou a complexidade.
Bá – O livro é complexo, intenso, profundo, forte. E longo, não só pelas suas 266 páginas, mas por contar uma história que atravessa 50 anos da história de uma família, de Manaus e do Brasil. É um épico. O desafio era ajudar a contar este épico com as ferramentas que os Quadrinhos nos oferecem: cenas amplas, cenários bem trabalhados, desenhos impactantes, o silêncio que diz muito.

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blogdoorlando – como vcs foram convidados para esse projeto? serem gêmeos pesou na escolha?
Moon – Pesou no convite, com certeza. O André (Conti, editor de quadrinhos na Quadrinhos na Cia.) nos fez o convite inicial durante a FLIP em 2009, num jantar oferecido pela Companhia das Letras, quando viu o Milton e a gente no mesmo espaço. Olhou para os três lá juntos e sugeriu: "não seria incrível se vocês fizessem uma versão em Quadrinhos do Dois Irmãos?" O Milton abriu um sorriso, os seus grandes olhos brilharam, todo interessado. Como eu já tinha lido o livro, sabia que ia ser difícil, falei que era muito complicado, mas a semente já tinha sido plantada.
Bá – Depois de outro jantar na casa do Luiz Schwarz, onde ele mesmo perguntou o que achávamos desta ideia, mais uma vez na frente do Milton, eu decidi ler o livro e ver qual o tamanho do problema. Li e me apaixonei pelo problema, e paixão a gente não segura. Nada como um bom desafio para motivar o trabalho.

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blogdoorlando – vcs já conheciam o trabalho do hatoum?
Moon – eu já tinha lido o Dois Irmãos quando saiu, em 2000, justamente pela curiosidade de ler uma história sobre gêmeos. Antes de começar a adaptação, tinha lido também Órfãos de Eldorado.
Bá – Eu não tinha lido nada. Naquela FLIP, o Milton me presenteou com uma cópia do "Relato de um certo oriente", seu primeiro romance. Comecei a ler, mas o trabalho atropelou tudo. Já comecei três vezes, mas sempre aparece alguma coisa e eu abandono no meio. Aí começamos a trabalhar no "Dois Irmãos" e eu fiquei com medo de misturar as histórias e parei. Agora que terminamos o livro, já li "Um solitário à espreita", de crônicas, o "Cinzas do Norte" e pretendo ler o "Órfãos do Eldorado", pra depois voltar novamente ao "Relato". O estilo e a temática do Milton são encantadores, quase um vício.

blogdoorlando – de alguma forma vcs se identificaram com os irmãos yaqub e omar?
Bá – Ao contrário dos gêmeos do livro, não existe conflito entre nós dois que não se resolva. Mas a gente sabe como as pessoas vêem gêmeos, como todos pensam que eles são iguais, são a mesma pessoa e pensam as mesmas coisas. Isso a gente conhece bem.

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blogdoorlando – a história trata de uma família de imigrantes libaneses e se passa em manaus. que intimidade vcs tinham com esses dois universos?
Bá – Nenhuma, e esse foi um dos desafios que nos atraiu para o projeto. É inclusive um dos encantos da história, esse Brasil diferente, remoto, uma outra realidade. Fugir do lugar-comum nos interessa, é atraente para o público nacional e estrangeiro. Mas precisávamos entender este universo, por isso viajamos para Manaus para conhecer a cidade e entendê-la, mapeá-la, imaginar a história naquele cenário. E as poucas conversas com o Milton ajudaram muito a compreender os sentimentos que a história carrega.

blogdoorlando – vcs foram ao salão do livro de paris com milton hatoum. como foi e qual a repercussão?
Bá – O Milton foi muito requisitado, participou de várias mesas, eventos, inclusive um conosco no pavilhão do Brasil. É sempre muito bom contar com a presença do autor e ele é muito generoso, nos deu total liberdade, sempre deixou claro que confiava no nosso trabalho e isso nos incentivou muito. O romance não é tão conhecido na França como é aqui, e acabou de ganhar uma nova edição de bolso, então acredito que a nossa adaptação tenha ajudado a criar este interesse na obra do Milton. A França está muito interessada em histórias de descendentes de árabes, está muito em voga. E tem o lado exótico de uma história que se passa no coração da Amazônia. A imprensa e o público estavam muito interessados na história e nos motivos que nos levaram a escolher fazer a adaptação.
Moon – Fomos muito bem acolhidos pelo público francês, pelos brasileiros vivendo no exterior e por toda a comitiva do salão. O Milton foi um dos autores que mais chamou atenção durante o Salão, e ao mesmo tempo estávamos na França, país que adora, consome e respeita muito os Quadrinhos.

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blogdoorlando – quanto tempo levou para ter o livro completamente pronto?
Bá – Das primeiras anotações até o livro pronto e impresso na nossa mão, 4 anos e 3 meses. Ficamos dois anos trabalhando no roteiro, tentando descobrir como íamos escrever a história, como reorganizá-la, até decidirmos que precisávamos começar a desenhar pra coisa desencantar de vez. Daí foram mais dois anos desenhando e terminando de escrever. Os últimos meses foram para fazer a capa e o projeto gráfico, aprontar o livro mesmo.

blogdoorlando – depois disso não dá uma certa ressaca?
Bá – Dá um alívio, uma leveza de quem tirou um peso enorme das costas. Durante toda a produção, qualquer coisa pode acontecer que pode te impedir de terminar o projeto e aí é como jogar tudo fora, como se não tivesse existido. Só existe quando está pronto. É uma sensação de realização, que ao invés de ressaca, deixa inebriado, meio tonto e feliz, bobo, e nos faz acreditar no que fazemos e que tudo é possível. E é desse jeito, meio bêbados e bobos de felicidade, que nós vamos encontrar o público em lançamentos e palestras. Terminar um livro nos lembra a razão que nos leva a fazer o que fazemos.
Moon – O contato com o público nos lançamentos do livro, ver as pessoas lendo e falando sobre o trabalho, é o que é realmente inebriante. A ressaca só vem depois. Agora começa a festa.

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serviço:

dois irmãos – baseado na obra de milton hatoum
onde: livraria cultura
av. paulista, 2073
conjunto nacional
quando: hoje, 13.04.2015
19h30: bate-papo com milton hatoum, fábio e gabriel
teatro eva herz
20h45: sessão de autógrafos
loja da companhia das letras
R$39,90

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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