leo gibran lança seu kebab hoje em são paulo
tenho um apreço especial por gente que gosta de desenhar. tenho um apreço mais que especial por gente que gosta de desenhar e faz isso bem.
tive a oportunidade de ver o leo gibran com seus caderninhos e coleções de canetas rabiscando em eventos e encontros de cartunistas e nunca deixei de me impressionar com o traço solto, a precisão da tinta no papel e a expressão que ele consegue impor a seus personagens.
leo trabalha, basicamente, com publicidade. isso quer dizer que ele tem uma agenda rígida de produção com breafings, limites e prazos.
é nos sketchbooks que seu talento e poder narrativo acontece.
kebab, livro que é lançado hoje na galeria ornitorrinco é, como ele diz, um bife em cima do outro só que temperado com talento e sensibilidade.
dessa cozinha sai mais que um churrasquinho grego. sai uma refeição completa.
abaixo, entrevista com o cozinheiro:
blogdoorlando – além de comida, o que é o kebab?
Leo Gibran – Kebab é um livro que estou lançando hoje.
A ideia do livro e o nome já vinham remoendo na minha cabeça faz algum tempo. Minha ideia era fazer com alguns dos meus desenhos uma espécie de churrasco grego. Amontoar uma série de coisas pra fazer virar uma maior.
blogdoorlando – vc tem ascendência libanesa?
Leo Gibran – Meu avô materno era filho de libaneses. Fugiu da tradição do casamento arranjado e se casou com minha vó, baiana. Então pode se dizer que a minha ascendência já veio mais apimentada lá de cima, hehe. Juntamos com português de origem galega, por parte de pai e temos mais um brasileiro.
Mas tenho sim. Tenho, inclusive, um parentesco com o Kahlil Gibran, o único Gibran famoso da história.
blogdoorlando – vc é um sketchbooker fanático, pelo que vejo. qual sua relação com esses caderninhos?
Leo Gibran – Na verdade, eu desenho o dia todo na frente do computador. Os meus trabalhos "de verdade" saem quase que exclusivamente de um tablet. Os cadernos são meu escape. É como se, de alguma forma, eu voltasse ao mundo real, saísse da matrix. Ou fizesse uma ponte de transição. Meu dia normalmente começa com uma leitura de emails e uma passeada pelas redes sociais. Nessa hora já vai rolando um "esquenta" no caderno enquanto vou passeando pela vergonha alheia, olhando notícias pouco importantes ou fotos de gatinho. É onde o real e o virtual vão se mesclando.
A vantagem de usar um caderno ao invés de folhas soltas é que ele mantém tudo junto, eu não perco desenhos e ele mantém pra mim uma ordem cronológica. Mas eu realmente tenho uma relação meio compulsiva com eles e uma relação meio doentia com canetas, também. Sempre tem pelo menos um caderno e uma caneta comigo, aí eu posso desenhar no metrô, na mesa do bar, no parque, na rua ou onde estiver. De qualquer maneira, os cadernos servem como local de estudo, lazer, terapia, registro, diário…
blogdoorlando – muita gente, hoje, usa o sketchbook como portifólio…
Leo Gibran – Com certeza. Eu mesmo faço muito. No caderno, muitas vezes a gente vê nosso trabalho mais puro. É aquele trabalho realmente pessoal, sem cliente, mais sincero, como no canteiro de abóboras do Linus.
Hoje em dia não existe pra mim uma divisão muito clara entre o sketch e o desenho. Eu gosto muito de desenhar sem rascunho, experimentar, mudar de ideia no meio do caminho, tomar rumos diferentes. Então no meu caderno acabam aparecendo desenhos bons, desenhos ruins, alguns desenhos inacabados, mas não se vê muito sketch, não nesse sentido de rascunho. Lápis? Coisa rara. Então é naturalmente uma "coleção de desenhos".
Algumas pessoas exageram. Transformam o caderno em um objeto sagrado, que não pode ser maculado por um desenho ruim. Arrancam folhas "feias", etc. Eu já gosto de pensar nele como registro. Das coisa boas e das ruins. E eu tento datar tudo também. É como uma série de livros de registro num cartório pessoal. Então eu até uso como portfólio, mas tem muita coisa que não gosto lá, que preferia esconder às vezes.
blogdoorlando – o quanto vc usa dessas experiências no seu trabalho profissional?
Leo Gibran – Eu acredito que tudo que existe é referência e toda vivência é repertório. A gente nunca sabe de onde vai tirar alguma ideia ou alguma solução gráfica. Com certeza sai muita coisa do caderno. Já que é por lá que eu deixo registrado uma boa parte das minhas experiências, é natural que eu acabe recorrendo a ele pra extrair alguma ideia. As vezes tá lá pronta, as vezes um embrião. Esse livro é um exemplo disso, já que a maior parte dos desenhos saiu dos cadernos.
blogdoorlando – vc usa também sketchbooks digitais, como ipad, tablete ou smartphones?
Leo Gibran – Não. Nunca usei. Deixo o digital para os clientes. Nessa hora quero mesmo é contato físico com papel, com a tinta, sujar a mão, sentir cheiros e texturas. Prefiro fugir desse assepticismo digital.
blogdoorlando – a maior parte dos textos do livro são em inglês. por que?
Leo Gibran – What?
Sabe que nem tinha reparado. Eu desenho bastante ouvindo música, vendo filmes, seriados… Os textos que acabam aparecendo nos meus cadernos vem, na maior parte, daí. De uma frase que escutei ou um trecho de música que eu estava ouvindo, e eu ouço muito pouco de música brasileira. Pra esse livro especificamente eu não escrevi nada. As imagens foram tiradas de cadernos ou desenhos soltos e eu só empilhei no espeto de maneira para tentar dar algum sentido. Pelo menos na minha cabeça… Os textos vieram junto.
serviço:
kebab, de leo gibran
15x15cm, 48pg de miolo, capa dura, colorido, autopublicado
lançamento, 05.03.2015
galeria ornitorrinco
av. pompéia, 520
R$28
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