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todo mundo tem um amigo itaipava

Orlando

07/07/2014 10h55

então, tá.
a copa está aí firme e forte e os amigos combinam de assistir ao jogo na casa de um deles.
trabalhar meio expediente ou nenhum dá na mesma. a economia do país sobreviverá a mais esta semana e isso nos faz pensar no porque trabalhar tanto no resto do ano.
sempre dá tudo na mesma.
quem tinha que roubar já roubou, quem tinha que faturar já faturou, daqui a pouco tem campanha política. 2014, só em 2015 mesmo.
este ano já era.

mas, voltemos a nossos amigos.
marcam de se encontrar duas horas antes do jogo.
faz sentido. saco vazio não para em pé e o combinado era que cada um trouxesse um belisco e cerveja.
amigos se dividem em três categorias: os que chegam muito antes do combinado, os que sempre chegam atrasados e aqueles que ficam mandando torpedos dizendo que fica pra próxima.
existe um outro tipo de amigo que não se enquadra necessariamente nessas categorias.
é o cara que traz itaipava. quente, claro.
ele chega todo feliz e pergunta onde põe as 12 latinhas que trouxe. assim que abre a geladeira, avista algumas stellas artois na primeira prateleira.
coloca as itaipavas no fundo do refrigerador para – hum, hum – gelarem mais rápido e já pega a primeira garrafinha.
conforme os amigos vão chegando com outras stellinhas, heinekens e, quem sabe, alguma marca belga, nosso itaipaveiro vai ficando cada vez mais seletivo e já não sossega até puxar para si a responsabilidade de abrir aquela cachaça mineira ou um 12 anos que estavam no armário da sala.
podemos pensar no porquê de ele fazer isso e achamos a resposta na propaganda da outra marca: porque sim.
porque sim. as outras cervejas são muito melhores e a que ele trouxe ainda está quente. não é por maldade.
enquanto reclama que a vida está dura, que a economia não anda, que falta trabalho, nosso amigo deixa suas itaipavas em repouso absoluto no fundo da geladeira.
não sem antes elogiar o queijo que não trouxe.

ele conta piadas, xinga o juiz, não acredita no gol perdido, diz que precisamos nos encontrar no próximo jogo pra manter a sorte.
antes de ir embora vai até a geladeira, olha todas as prateleiras.
só ficaram as itaipavas.
pega duas latinas da breja que trouxe. para tomar no caminho de volta – diz ele – mas que vai deixar as outras.

obrigado, amigão.

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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