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humor paulistano é o homenageado em livro de toninho mendes

Orlando

25/04/2014 08h00

os 80 foram anos de muita loucura. para alguns, de muita loucura e muito trabalho.
se no rio os cartunistas ainda flanavam sobre as brisas de um pasquim que perdia sua força e influência, em são paulo uma outra turma começava a formatar uma revolução nos quadrinhos.
muitos desses cartunistas e quadrinistas vinham das experiências dos fechamentos noturnos de jornais como o semanário movimento, por exemplo. não antes de terem ido fechar o vira-lata que o angeli editava na folha de s. paulo. saiam de uma redação e iam para outra começar tudo de novo.
destacar a importância do jornal versus, também, um tablóide de idéias, política, literatura, imagens e, claro, quadrinhos.

charge de chico caruso

charge de chico caruso

esses pequenos happenings eram intensos e repletos de trocas de idéias e de interferências nos desenhos uns dos outros. ainda havia resquícios da ditadura, a liberdade não era plena e o inimigo era comum.
com o esvaziamento de assuntos como ditadura, repressão e tortura, o humor ficou um tempo ainda rangendo os dentes e mantendo seu velho e viciado rancor até que uma turma percebeu que existiam outros assuntos, outros enfoques e uma fauna gigantesca exatamente onde eles viviam: são paulo.
o "quadrinho de costumes" (ou de mau costumes, se preferirem) caiu de sola no gosto de uma molecada ávida por se enxergar nas páginas de gibis.
enquanto angeli, laerte, glauco, alcy, paulo caruso, luiz gê e tantos outros produziam loucamente, chega a figura emblemática de toninho mendes, artista gráfico, editor (do versus anos antes, inclusive) e amigo do angeli dos tempos de maloqueiro na casa verde.

glauco, luiz gê, laerte, alcy e toninho mendes. foto: di al gain

glauco, luiz gê, laerte, alcy e toninho mendes. foto: di al gain

toninho teve a esperteza de juntar todos esses talentos e egos, criar a circo editorial e colocar até 100 mil exemplares da chiclete com banana nas bancas.
se vc sabe o que foi a circo, prepare-se. se nunca ouviu falar, prepare-se também.

Humor Paulistano - Capa
lançado pela editora do sesi-sp, o humor paulistano – a experiência da circo editorial traz a história do que talvez tenha sido o momento mais importante dos quadrinhos depois da invenção da caneta pilot.
são 432 páginas que reúnem fotos, histórias, cartuns e bastidores do período em que a hq no brasil foi reinventada.
exagero?
não sei.
todos os que fizeram parte dessa época estão aí produzindo, gerando crias e sendo ainda muito influentes.
abaixo, entrevista com toninho, o mendes:

blogdoorlando – como começou sua ligação com os quadrinhos?

Toninho Mendes – Minha ligação com os quadrinhos, as palavras e a espiritualidade vem desde a infância e começou pela Bíblia, através da qual aprendi a ler, com minha minha avó Herondina, antes mesmo de entrar na escola. Os gibis foram fundamentais para que o menino de oito anos, caipira e com sotaque caipira, conseguisse se integrar com a molecada de uma bairro típico da zona norte de São Paulo, como a Casa Verde. Uma curiosidade: O Almanaque do Fantasma de 1963, que está na página 13 do livro Humor Paulistano, foi um dos primeiros gibis que comprei diretamente na banca e está comigo até hoje.

chico e paulo caruso. glauco e toninho. foto: di al gain

chico e paulo caruso. glauco e toninho. foto: di al gain



blogdoorlando – e com essa geração anos 80?

Toninho Mendes – Pra começar o Angeli é meu amigo de infância, adolescência, delinquência e amadurecimento pessoal e profissional.
Mas foi em 1975 que essa relação com a geração de 1980 se estabeleceu. Naquele ano, comecei a trabalhar na imprensa independente. Nos jornais Versus e Movimento conheci Chico e Paulo Caruso, Alcy, Luiz Gê, Jayme Leão, Laerte e outros artistas que participaram da experiência da Circo Editorial. O Glauco surge em 1980 e desorienta pra valer o que estava muito ajustadinho, politizado e careta, no sentido amplo dessa expressão de época.

geraldao 6

blogdoorlando – o que faz o humor paulistano ser diferente de todos os outros?

Toninho Mendes – Uma visão cosmopolita, urbana e suburbana, só concebível numa cidade que cresce se autodevorando. No lugar da praia, do sol, da água salgada e do Brasil tropical, entram o bar e a bebida destilada: em comum só o banquinho, mas sem violão. A solidão de quem se encontra desencontrado na multidão. Uma visão crítica aliada a uma autoironia ácida, lírica e melancólica. E, acima de tudo, a capacidade fantástica que cada um dos desenhistas da Circo Editorial tem de realizar muitos estilos de desenho e de roteiro, como se fossem diferentes autores num só artista.

circo 5

blogdoorlando – a circo reuniu gente da pesada. por que acabou?

Toninho Mendes – "Tudo tem o seu momento, e há um tempo exato para tudo 
o que há de acontecer e se realizar de baixo do céu". (Fragmento Da Bíblia no Livro do Eclesiastes 3) 



blogdoorlando – qual era a tiragem média de cada edição?

Toninho Mendes – Variava muito de uma revista para outra. A Chiclete com Banana é a responsável por tudo e a que mais vendia. Podemos falar em 50.000 exemplares uma pela outra.

chiclete 5

blogdoorlando – vc acha que existe alguma chance de quadrinhos voltarem às bancas?
Toninho Mendes – As revistas de quadrinhos e as bancas de jornal são o reflexo do momento histórico, econômico e social em que existem. Hoje os tempos e os ventos e os elementos e os tormentos que determinam a forma de comunicação entre os homens são outros.

blogdoorlando – o que tem no livro? imagens, depoimentos, fotos, registros? 

Toninho Mendes – Escrito por 6 jornalistas diferentes, o livro tem de tudo e mais um pouco: a história da editora, de cada uma das publicações e seus autores. Muitas fotos inéditas e de bastidores que nunca haviam sido publicadas. Uma seleção de HQs, tiras, textos, cartuns, fotonovelas e outras, literalmente falando, curtições publicadas pela Circo Editorial. E pra fechar, a tese defendida no capítulo final sobre o que é o Humor Paulistano, escrita por mim em parceria com o Professor Roberto Elísio dos Santos. Essa tese é o resultado de papos que tive durante anos em conversas descompromissadas e dispersas com Angeli, Laerte, Luiz Gê e Glauco. E um detalhe muito significativo: o livro tem como encarte a terceira edição do poema-revista: "A Confissão para o Tietê" de autoria da peça rara que vos responde com ilustrações do Jaca. Um lance provavelmente único no mercado editorial, poesia comercializada nas bancas e com venda de 10.000 exemplares.

los 3 amigos capa



blogdoorlando – a circo foi uma experiência única e sem volta?
Toninho Mendes  – O tempo não para. O tempo não anda. O tempo não volta. O tempo não existe. Mas ao mesmo tempo, o tempo é o nosso maior patrimônio e ainda a melhor medida para sentirmos nossa insignificância diante da imensidão da Via Láctea.

convite humor paulistano

serviço:
humor paulistano – a experiência da circo editorial
livraria cultura do conjunto nacional
av. paulista, 2073 – sp – sp
das 17h às 21h
432 páginas
preço: $120

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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