a imprensa deixou de formar profissionais. perdem todos.
o roda-viva é um programa da tv cultura que vai ao ar, geralmente ao vivo, às segundas à noite.
na semana passada foram entrevistados os irmãos caruso, paulo e chico.
como é tradicional, contaram vários causos de boteco, fizeram piadas, cantaram e desenharam.
o clima era de festa já que todos os convidados eram e são amigos dos dois.
lá pelas tantas, paulo diz que foi à folha falar com sérgio d'ávila, atual secretário de redação numa tentativa de voltar a colaborar com o diário paulistano.
conta ele que sérgio d'ávila explicou que a folha está numa nova fase e dando a chance de novos talentos se tornarem paulos carusos.
além de ser uma desculpa absolutamente esfarrapada, esse argumento beira o risível.
como o próprio sérgio d'ávila deve saber, jornalismo se aprende na lida diária e isso vale para quem escreve e para quem desenha.
somente o exercício constante pode lapidar algum possível talento, assim como pode encerrar uma carreira.
o jornal que produz todos os dias algumas centenas de páginas traz, a reboque, um nível de estresse que não é todo mundo que aguenta.
portanto, existem os jornalistas, cartunistas e ilustradores e existem os jornalistas, cartunistas e ilustradores de jornal.
o projeto gráfico da folha propõe um rodízio gigantesco de colaboradores, cerca de 60, e o que poderia ser um projeto democrático por dar espaço a tanta gente, acaba por se tornar um desastre.
paulo, chico, spacca, mariza, baptistão, alcy, laerte, angeli, luiz gê, fortuna, jaguar e tantos outros não aprenderam seu ofício em salas de aula. aprenderam dentro das redações, ralando dia após dia, a única forma de se aprender a "fechar" uma edição. "mestres" em seu ofício, se tornaram referência, influenciadores e inovadores.
no modelo atual, o sujeito publica uma vez por semana, se muito. vários quinzenalmente ou até mensalmente.
não há tempo de se aprender nada, não se cria intimidade com o leitor, não há comprometimento nem da parte do colaborador como do jornal.
provavelmente poucos leitores saberiam listar 5 nomes de desenhistas que não os chargistas da página 2 ou dos quadrinistas. os ilustradores vêem seu trabalho eclipsado em meio a textos, infográficos, anúncios imobiliários sufocados dentro de pequenos retângulos perdidos nas páginas.
isso acaba se repetindo em toda a imprensa numa nefasta cascata. são escolas fechando suas portas.
portanto, não será em breve que veremos novos paulos carusos nas páginas dos jornais. nem novas marizas ou novos spaccas.
perdem o jornal, os leitores e todos aqueles talentos que tinham como única escola possível as páginas de um jornal diário.
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