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taxistas continuam sendo termômetro da sociedade

Orlando

20/11/2013 12h45

Taxi 72em são paulo, pegar um taxi continua sendo uma aventura. em dias de chuva, desaparecem e com nosso trânsito monolítico, temos sempre a chance de ter um motorista como companheiro de infortúnio por algumas horas.
reduto malufista nos anos 70 e 80, esses profissionais espelhavam bem o conservadorismo enraizado na cidade apoiando a construção de viadutos, avenidas e a vigilância ostensiva da rota nas ruas.

continuam trabalhando 12 e até 16 horas por dia para conseguir oferecer um padrão médio de vida a seus familiares mas há mudanças.
boa parte deles conseguiu formar os filhos, sempre motivo de muito orgulho e de perspectivas diferentes.
e conviver com filhos mais letrados deve provocar mudanças dentro de suas casas.

há, também, uma rapaziada que mesmo tendo estudado, prefere ficar rodando na praça ao invés de encarar o tédio de empresas e escritórios.
a rua oferece uma convivência efêmera mas muito mais rica com o entra e sai de passageiros de diferentes faixas sociais trazendo informações, pontos de vista diversos e outras línguas.

há, portanto, um novo taxista rodando por aí, mais culto, mais afinado, mais informado e mais crítico.
o conformismo malufista dá lugar a um sujeito indignado com os descalabros da política, com o caos na cidade, com impostos, com os desmandos da prefeitura e polícia.
se a cidade é mesmo um órgão vivo, esses profissionais circulam diariamente por suas veias e artérias ao ritmo de seu coração.
podem ficar aborrecidos com os constantes bloqueios de manifestações mas já não acham que a polícia deveria "meter o cacete nesses vagabundos". sabem que a coisa não tá boa para ninguém, que alguém tem que meter a boca no trombone e que esse é o preço a se pagar.

o motorista gordo, de camisa aberta, corrente, palito nos dentes e braço pra fora parece que saiu de moda.
se esse pouco de educação causou esse tipo de mudança, o que não aconteceria se ela chegasse a todos os extratos da sociedade, comerciantes, domésticas, motoristas e ônibus, feirantes ou garis?
a educação pode mudar uma sociedade e, consequentemente, o que vemos no espelho.

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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