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maxx lança happy slap: esquerda volver!

Orlando

07/03/2013 10h01

mad maxx is back! e agora pra zerar sua história e recomeçar tudo de novo.
com projeto gráfico caprichado de tony de marco, maxx lança hoje, em são paulo, happy slap, uma compilação de ilustrações, quadrinhos e loucuras produzidas antes do acidente de moto que deixou sua mão direita incapacitada para o desenho.
bicho carpinteiro, deu a volta por cima, retomou o trabalho, se tornou paratleta, pontua o final de uma fase e mantém o brilho nos olhos.
abaixo, uma entrevista com o artista.

blogdoorlando – maxx, vc sempre foi um artista muito inquieto, seja produzindo ilustrações, cartuns ou quadrinhos.
como vc lida com essa ebulição?
maxx –
Tento me conter. Sempre fui inquieto. Não é uma escolha, é uma reação frente a tudo aquilo que mexe comigo. Me sinto na obrigação de questionar, não paro de pensar no que faz com que as coisas sejam como são. Tudo que existe hoje, sempre foi fruto de nossa imaginação e se hoje usamos tablets ou tabuletas para nos expressar, estes passam a ser nossas vozes e cabe ao usuário saber o que fazer com as ferramentas.
Saber o que é extensão do que, é para poucos. É um exercício diário, as vezes nos vemos gostando de algo e quando percebemos nem gostávamos tanto assim. Fomos condicionados a gostar. Saber onde começa a sua opinião e termina a hipnose social é o que te diferencia, e de certa forma te norteia. Viver em ebulição é vital para sobreviver as diversas técnicas de dominação e castração artística. Fugir das fórmulas, da militarização da arte pasteurizada vendida a metro. A arte não deve se reduzir a algo inquestionável. A mudança, a inquietação é o que faz com que nos desloquemos da zona de conforto.

blogdoorlando – vc abusa das mídias e formatos. existe uma forma de costurar isso tudo e ainda assim manter uma unidade no trabalho?
maxx –
Não vejo que tenho unidade no trabalho, tenho personalidade na diversidade de meus trabalhos. Procuro ser verdadeiro e colocar minha bagagem nas coisas que faço. A vivência é algo que a experiência não necessariamente pode superar. Um virtuosismo, ou maneirismo na busca de um estilo próprio pode ser uma cilada. Buscar um estilo é roubada. Estilo é defeito, vícios, limitação. A perfeição de um estilo pode ser a repetição exaustiva de um trabalho limitado. Eu procuro acreditar que nesse caminho morre o experimentalismo, o risco, o desejo pelo novo. Se manter preso em uma unidade é como encaixotar balões de gás hélio. Unidade não é uma coisa que me preocupo em ter. Para cada momento existe um suporte que mas se adequa para um discurso. Cada mídia tem sua linguagem, e me aproprio delas pra poder dizer aquilo que convém ser dito na melhor forma. Não gosto do título, quadrinista, ou grafiteiro, ou designer… Somos muitos e certamente não somos as ferramentas que usamos.

blogdoorlando – vc sofreu um grave acidente de moto. como foi isso e quais as seqüelas?
maxx –
Foi em 2007, na av. Sumaré, quando voltava pra casa depois de sair da agência que trabalhava. Uma tia avançou o sinal e me derrubou da moto, quebrando junto com o motor, minha perna e meu braço direito. Fui hospitalizado e lá amputaram minha perna e fizeram o possível pra tentar salvar minha mão que usava para desenhar, mas sem muito sucesso. Porém, salvaram minha vida.  Hoje sigo com minhas limitações, graças a tecnologia das próteses é possível ser um humano biônico. Ainda é muito caro, mas passado o sentimento de auto luto, de se auto velar parcialmente, de mergulhar em uma depressão questionando cada milésimo de segundo que vive em uma nova condição, aprende-se a ser resiliente. Aliás, aprende até o que significa essa palavra.

blogdoorlando – num primeiro instante, qual foi sua reação? o que vc pensou que aconteceria?
maxx – Fiquei em coma induzido por uns 13 dias e ao voltar foi como se tivesse feito uma viagem de ácido, só que sem o ácido e sem a parte legal.  Tudo é sério, você acredita que aquelas alucinações ocorreram, eu fiquei abalado por ter vivido aquelas situações lisérgicas. Não queria estar ali, pregado na cama como se fosse Jesus na cruz, com médicos andando pelas paredes. Claro que nessa hora eu não sabia que estava deitado e que eles passavam pelo lado de minha cama sem despencar. Mas ter esta percepção de eixo, eles subiam e desciam pelas laterais e isso era muito inquietante. Não ter noção nenhuma de perspectiva ou lógica de tempo e espaço. Malditas morfinas… Me vi anacrônico, em um tempo que não se define em dias, meses ou anos. Como Kairos, que descreve "o tempo de Deus". Ao ser desentubado você é convidado a voltar a realidade, mesmo que ela seja pior que as reais alucinações. Daí é um longo trabalho psicológico de parentes e amigos pra tentar te situar e fazer você acreditar que é possível ser o mesmo em outro corpo. A primeira coisa que procurei fazer mesmo na cama era tentar desenhar com a mão esquerda, posto que o braço direito ainda estava abertos cheio de ferros e tubos. Desenhava os pacientes, as enfermeiras,  os músculos de meu braço direito…uma verdadeira aula de anatomia, eu era meu próprio modelo, posto que não sentia nada naquela mão de unhas curvas e amarelas em forma de garra. Era cansativo, mas a vontade de desenhar era mais forte que eu. Fiquei apreensivo em saber se consegueria voltar ao mercado, sabia que teria um longo caminho de ostracismo pela frente. Não tinha a menor idéia do como seria dali pra frente. Mas tinha um nítida certeza, que minha carreira seria redesenhada naquele dia. E dessa vez não por minhas mãos, mas por um artista mil vezes melhor que eu.  Foi minha maior criação. Meu maior projeto. Era meu próprio cliente encomendando um novo Maxx. Reinventar minha vida passou a ser meu maior Job.



blogdoorlando – superando essa fase, vc passou a se dedicar aos esportes e a continuar produzindo com a mão esquerda.
o quão difícil está sendo isso e onde vc espera chegar?
maxx –
O esporte entrou na minha vida numa fase boa. A dor, o rancor, a mágoa da separação no pior momento de minha vida já tinha sido bem superada e passei a namorar uma personal trainer que me motivou a fazer esportes. O relacionamento durou quase um ano, e frutos foram plantados. Aprendi as vantagens físicas e psicológicas de se fazer um esporte. Praticar esporte foi pra mim mexer com elementos químicos de meu corpo que eu nem sabia que existia, sendo por mais de 20 anos um desenhista sedentário. Aquilo me fez perceber o bem que poderia me fazer com muito pouco. E de pouco em pouco fui galgando meu caminho. Passo a passo, cheguei a bater um record brasileiro de 100m e 200m em atletismo, corridas de rua entre 5 e 7km, e agora estou me metendo a besta de querer fazer ironman. Não por ego, ou pra provar algo pra alguém, mas pra ter a certeza que estou aproveitando o máximo a segunda chance que me deram aqui na terra. Não quero ser surpreendido novamente sem ter dado o meu melhor nessa vida. Onde vou chegar com isso não sei. E na verdade se souber vai perder a graça.

blogdoorlando – esse livro é o seu divisor de águas?
maxx –
Totalmente. Ele divide minha obra em Maxx A. C. (Antes da cirurgia)  e Maxx D.C. (Depois da Cirurgia). (:-D. Não tenho a menor esperança em voltar a desenhar com a mão direita. Ela fez seu trabalho e me alimentou por longos 33 anos. Agora ela merece descanso. Hora de botar a esquerda pra funcionar. Quem puder ter o prazer te ter este livro vai poder ver um pouco de meu trabalho como ilustrador, escritor, e quadrinhista. Não que tenha deixado de ser. Apenas troquei de ferramenta. Mas o artista, este segue sendo o mesmo. Só mudou a embalagem, agora com muito mais tecnologia…

quem é maxx

ilustrador, cartunista, artista plástico e designer, maxx figueiredo trabalhou na inglaterra, espanha e em portugal. no brasil, publicou em revistas como caros amigos, viver psicologia, sexy, exame, vip, men's health, heavy metal, entre outras. como quadrinista emprestou seu traço à edição de betty grupy, lançada na série graphic talents pela editora escala em 2000. recuperado de um grave acidente de moto, se tornou paratleta e passou a usar a mão esquerda para desenhar.


serviço

dia: 07/03
local: casa 92 – rua cristóvão gonçalves, 92 – pinheiros – são paulo – sp
tel: (11) 3032-0371
a partir da 23h
preço: 135,00

vendas pelo email: maxx.estudio@gmail.com
BANCO ITAU
AG 0036
CONTA 46724-9
MAX MAURICIO MACIEL FIGUEIREDO


Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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