cartunista vence batalha judicial contra a riachuelo
blogdoorlando – esse caso do uso de uma imagem de forma indevida pela rede riachuelo repercutiu muito na época. como aconteceu?
Orlandeli – Um amigo ilustrador, de Recife, disse ter visto uma camiseta na Riachuelo com um desenho praticamente idêntico a um cartum que fiz. No dia seguinte fui na Riachuelo de minha cidade e, realmente, lá estava o cartum, todo redesenhado mas, indiscutivelmente, o meu cartum. De cara já dava para confirmar que a distribuição das peças era em grande escala e que alguma coisa deveria ser feita.
blogdoorlando – muitas empresas (e pessoas) acham que uma imagem criada por um artista é sempre de domínio público.
o que essa situação demonstra?
Orlandeli – Na verdade, na maioria das vezes, pessoas e empresas sabem que uma imagem ou qualquer outra obra intelectual tem dono e que usar sem autorização é ilegal. O problema é que existe uma cultura no Brasil de nunca ir às vias de fato quando o assunto é lutar por seus direitos. Empresas, pessoas, usam a velha tática do "João sem braço", fingem uma ignorância que na verdade não existe, apostando que no final tudo acabará em pizza. Pior que na maioria das vezes eles acertam.
Quando entrei com a ação fiquei sabendo de mais dois casos antes do meu em que foi feito o uso indevido de imagem por essa mesma empresa. Essas pessoas tiveram seu direito violado, mas não chegaram a lutar por ele. Também tem um caso onde um artísta plástico teve a imagem de uma de suas telas estampada nos talões de cheque de uma grande rede bancária. Mais uma vez sem qualquer autorização. O autor também preferiu não lutar por seus direitos e ficou por isso mesmo.
É a cultura do "deixa disso". Talvez isso explique um pouco o fato de empresas gigantes que, mesmo com uma estrutura organizacional imensa e assessoradas por departamento jurídico, ainda tratam a questão de direito autoral de forma tão displicente, onde, inacreditavelmente, preferem se arriscar a uma ação judicial do que negociar profissionalmente o uso de uma imagem.
Esse caso serve um pouco para levantar a importância dessa questão do direito de imagem fazendo com que as empresas, e até os próprios autores, levem o assunto mais à sério.
blogdoorlando – qual foi sua atitude quando descobriu o uso?
Orlandeli – Decidi que não faria parte da turma do mimimi e que lutaria por meus direitos. Aí fiz a coisa mais lógica numa situação dessas, procurei um advogado.
blogdoorlando – e como a empresa se manifestou?
Orlandeli – O uso da imagem autoral é inquestionável, tanto que em momento algum negaram minha autoria em relação à imagem das peças. Porém, acompanhando o que escrevi sobre a cultura do "deixa disso", acharam que apenas recolher as peças da área de venda bastava para encerrar o assunto. Não aceitei. A questão não se tratava do valor de mercado para a cessão da imagem nas estampas. Agora tratávamos da violação, do uso indevido e da comercialização das camisetas com essa imagem. Definido todos os pormenores do caso, chegamos a tentar um acordo. Não aceitaram e levamos adiante a ação.
blogdoorlando – uma ação decidida em três anos absurdamente nos parece rápida, não? qual foi o trâmite?
Orlandeli – Creio que boa parte dessa "agilidade" seria a falta de um argumento suficientemente convincente que justificasse recorrer e levar o caso ao superior. Outra coisa que agilizou é que o juiz dispensou a perícia para definir o número de peças vendidas, adotando um número previsto por lei nesses casos. Como nenhuma das partes questionou, se manteve para efeito de calcular os valores envolvidos e acabou economizando um bocado de tempo.
blogdoorlando – vc teve algum contato com a empresa depois da decisão judicial?
Orlandeli – Não
blogdoorlando – ainda cabe recurso ou essa é a decisão final?
Orlandeli – No. O caso realmente chegou ao fim.
blogdoorlando – o que vc recomendaria a pessoas que tenham seu trabalho usado de forma indevida?
Orlandeli – A coisa mais lógica e correta a se fazer, busque seus direitos.
quem é orlandeli:
Cartunista, quadrinista e ilustrador, Walmir Américo Orlandeli nasceu em 1974 na cidade de Bebedouro, vive hoje em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. É autor da revista Grump (troféu HQ Mix de Melhor Revista de Humor, 2002) e do livro "(SIC)". Participou dos livros Front, Central de Tiras e MSP50. Possui trabalhos publicados em diversos veículos (Folha de S. Paulo, Revista Época, Superinteressante, Diário da Região, etc.) Ganhador de vários prêmios em salões nacionais e internacionais de humor.
Autor das tiras "Grump" e "(SIC)", publicadas regularmente em alguns jornais do país e no seu site www.ultimaquimera.com.br <http://www.ultimaquimera.com.br
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