a imprensa não é mais escola para ninguém
o cartunista gustavo duarte postou hoje em seu blog um texto de despedida. ele foi dispensado do jornal lance! na terça-feira, dia 4.
demissões são assuntos internos e, evidentemente, sempre existiram. é um direito do empregador dispensar este ou aquele funcionário ou colaborador que não se adeque mais à sua linha editorial.
mas aí é onde está o nó da questão. quem conseguiria hoje definir qual a linha editorial das publicações brasileiras que têm como pauta uma planilha de custos acima de tudo? e quem apostaria hoje em projetos gráficos consistentes que fizessem época?
boa parte dos ilustradores e cartunistas consagrados optaram por esse ofício justamente por verem nas páginas de jornais e revistas desenhos incríveis e ousados. optaram por desenhar para a imprensa porque o espaço destinado aos mestres era a grande escola que a academia jamais conseguiu construir aqui. não há escolas de desenho, nem faculdades, nem pós-graduação, nem intercâmbios. artistas gráficos sempre aprenderam sua profissão invejando o trabalho dos grandes que ocupavam um nobre espaço entre colunas de texto nas páginas de jornais e revistas.
essa escola também está em ruínas.
mesmo considerando o grande esforço dos novos, todos (inclusive a imprensa que os publica) voltaram no tempo. todo mundo teve que começar do zero, sem referências e o que vemos é uma arte débil, infantil, tímida, toda pautada em não arriscar.
num tempo de mesmices, de guerra entre o impresso e o digital e, acima de tudo, numa cultura completamente visual, a imprensa peca em não apostar no diferencial que o desenho pode produzir. a imagem atrai e nas pesquisas de leitura o humor está sempre entre os mais cotados.
a imprensa parece insistir em querer mostrar que pode sobreviver com material de quinta, com colunistas rasos mas polêmicos. e quer saber? podem mesmo.
cadernos de cultura apostam cada vez mais em releases e repercussão de novelas ou em fofocas de globais.
nesta semana foi o gustavo. o estadão já havia dispensado o loredano antes.
essas pessoas, assim como tantas outras, vão continuar produzindo, construindo histórias.
histórias que nunca vão virar novelas e, portanto, estarão fadadas a estarem fora dos cadernos de cultura das publicações brasileiras.
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