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jouralbo sieber lança seu segundo livro e abre exposição aos 86, em poa

Orlando

20/06/2016 18h50

"figura!" é que todos disseram quando contava que iria entrevistar jouralbo sieber. e ele é mesmo.
portoalegrense, mora com a esposa iolanda num prédio construído no mesmo terreno onde ficava a casa de madeira dos pais no bairro higienópolis.
o pai suiço veio fugido da europa não por causa da guerra mas por causa de uma mulher. fundidor, se aprumou em porto alegre e se casou com a brasileira emília.
emília, no entanto, era conhecida como jurema que o velho johann albert escrevia jourema e a junção de jourema com alberto pode ser uma explicação para o nome jouralbo.
meio forçado mas vamos tomar como verdade e está tudo certo.
aos 86 anos jouralbo tem uma memória invejável. lembra datas, nomes, situações. e dá gosto sentir o entusiasmo que tem ao contar sua vida, como começou a trabalhar aos 15 anos, como foi parar na editora globo aos 16, de ser o pintor mais jovem de porto alegre aos 18 e como aprendeu a desenhar letras e a viver da lida na prancheta.
vai emendando uma história na outra quase sem perder o fôlego e ri dos fatos como se estivesse contando tudo pela primeira vez.
figura!

jouralbo sieber

algumas desse amontoado de histórias se transformaram no livro "ninguém me convidou" lançado em 2010 e relançado em 2015. nesse volume, ajudado pelo filho allan, ele contou e desenhou boa parte de sua vida, façanhas e encrencas nas quais se meteu.
místico, esotérico, visionário, perseguido pelo número 7 (não à tôa o livro tem 49 histórias e será lançado no dia 21), jouralbo, depois do vazio do parto, pensou em reunir outras histórias e visões, só que não queria mais passar pelo perrengue de desenhar tudo sozinho (no que ele está muito certo, aliás).
novamente o allan vem em seu socorro e propõe juntar um time de desenhistas para dar vida ao livro.
allan procurou a cartunista cinthia b., que havia sido sua assistente anos atrás, para lhe ajudar com os roteiros e a coletar nomes de outros quadrinistas.
o time é grande e conta com nomes como rafael sica, rodrigo rosa, leonardo, mzk, fabio zimbres, santiago entre outros além, claro, dos editores e do próprio jouralbo.
o resultado de "o mundo segundo jouralbo" ficou muito divertido.
para completar, será aberta, na mesma data, uma exposição no museu do trabalho que reúne pinturas a óleo, quadrinhos, layouts e artes finais produzidas para agências gaúchas entre 1950 e 1980.
abaixo, entrevista com o cartunista e agora editor allan sieber:

blogdoorlando – durante a conversa com jouralbo, o único momento que ele ficou mais sério foi quando perguntei sobre a relação de vcs dois. como era?
Allan Sieber – Não era. Não tínhamos quase nenhum contato. Meu pai era ligadíssimo ao meu irmão mais velho, Halex, até esse fugir de casa aos 15 anos (bons tempos em que a meta dos adolescentes era SAIR de casa, veja bem…). Aí, nas sua próprias palavras , ele preferiu não investir em outra relação com um filho que depois ía dar no pé. Ou seja: sempre sobra pra mim, desde a tenra idade.

chiquinha

blogdoorlando – resgatar as histórias dele é uma forma de aproximação?
Allan Sieber – Sem dúvida o motivo maior foi uma tentativa de reaproximação. E além da curiosidade de conferir por inteiro histórias das quais eu só lembrava fiapos pequenos e curiosos. E na totalidade elas eram muito mais estranhas do que eu imaginava. E sou uma pessoa ligada a memória, sempre me interessei por isso, a vida das pessoas, sejam elas comuns ou não.

leonardo

blogdoorlando – dessas histórias todas, o quanto vc acha que é verdade e o quanto é invencionice dele?
Allan Sieber – Você pode não acreditar, mas NADA é invencionice. Tudo aconteceu mesmo. Se você pedir para ele contar a mesma história 10 vezes ele vai enumerar os detalhes, nomes e números sempre da mesma maneira. E tem testemunhas. Não é como  o caso do "Peixe Grande", o melhor filme do Tim Burton, na minha modesta opinião. Não temos lendas, temos fatos bem estranhos. E teorias.

rafael sica

blogdoorlando – e como foi o processo? ele mandava cartas para vc, né?
Allan Sieber – Muitas. Com textos manuscritos ou digitados e impressos. Eu ía juntando até formar uma massa de texto. Algumas escolhi para virarem quadrinhos, e nisso contei com a preciosa ajuda da Cynthia B. Outras deixei no livro como texto mesmo, ou como um diário, que permeia o livro.

blogdoorlando – imagino que tenha ficado muita história de fora…
Allan Sieber – Bastante. Provavelmente daria para fazer outro livro nas mesmas proporções. Mas não sei se teremos saco para isso. O processo é lento e as vezes um pouco desgastante. Para mim foi pesado: tive que tratar com 42 desenhistas, organizar 49 HQs, mais textos e as ilustrações do próprio Jouralbo, depois com a ajuda do Fabio Zimbres dar um eixo para tudo. Foram uns 4 anos de trabalho intenso ao todo.

fabio zimbres

blogdoorlando – a religião é um assunto que sempre está presente entre vcs. como vc está lidando com isso?
Allan Sieber – Meu pai tem um interesse antropológico pela coisa, não sei até que ponto ele de fato acredita em alguma coisa. Ele considera que tudo é físico, as coisas acontecem por certas leis da natureza e pronto. Eu tive um passado adventista que quase arruinou minha vida. É engraçado falar de religião com meu pai, acho que ele tão cético quanto eu, ao seu modo. Mas nós dois nos sentimos atraídos pelo assunto religião .

fido nesti

blogdoorlando – ser pai fez enxergar o seu de forma diferente?
Allan Sieber – Sim. Me vejo talvez em situações que ele viveu e penso como ele reagiu. Puxei um lado explosivo dele, de quebrar coisas e ficar irritado até quase ter um AVC. Acho que talvez sou mais "doce" que ele como pai. Mas veja bem, ele teve seis(!!)  filhos e sempre correndo atrás de grana, sem puxar o saco de ninguém, muito antes pelo contrário, então eu entendo que ele não tinha muito saco e tempo para alguns aspectos da paternidade. Mas sem dúvida ele foi um bom pai, mesmo que eventualmente distante. O exemplo que ele me dava trabalhando duro e correndo atrás das coisas sem choramingar, um estoicismo, isso ficou gravado em mim eternamente. São valores que procuro passar para o Max. A vida dura e a gente tem que correr atrás se a gente não nasce rico.

 

serviço:

Exposição: Jouralbo Sieber
Livro: "O mundo segundo Jouralbo"
Editora Mórula Editorial
Quadrinistas convidados André Valente, Bernardo França, Bruno Schier,
Chiquinha, Cynthia B, Daniel Carvalho, Daniel Og, Eduardo Belga,
Elenio Pico (Argentina), Eloar Guazzelli, Fabio Cobiaco, Fabio Zimbres,
Fido Nesti, Gabriel Fazzioni, Caeto, Gabriel Góes, Gabriel Renner,
Jaca, Jorge Alderete (Argentina), Koostella, Leonardo, Marina Barrocas,
Mateus Acioli, Matthias Lehmann (França), MZK, Pablo Carranza,
Pedro D'Apremont, Pedro Franz, Power Paola (Equador),
Rafa Campos Rocha, Rodrigo La Hóz (Peru), Rodrigo Rosa,
Romolo D'Hipolito, Sama, Santiago, Sergio Langer (Argentina), Stevz,
Suryara Bernardi, Wagner William, Jouralbo Sieber e Allan Sieber.

Dia 21 de junho de 2016
a partir das 18h30
Museu do Trabalho

Rua dos Andradas, 230
Centro Histórico, Porto Alegre
Terça a sábado das 13h30 às 18h30
Domingos e feriados das 14h00 às 18h30
(51) 3227 5196
museu@museudotrabalho.org

preço do livro: R$45

 

 

 

 

 
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Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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