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dona edite, eu e a economia de água

Orlando

07/05/2014 10h53

 

tenho uma vizinha, a dona edite (nome fictício).

dona edite gosta de uma água jorrando da mangueira. imagino que ela ficaria o dia inteiro com a torneira ligada jogando água sobre as plantas, no chão da garagem, na calçada e no meio da rua.

em tempos de seca e contenção, a atitude de dona edite é completamente incorreta. ela assiste muita tv e deve saber disso mas, mesmo assim, a necessidade de molhar as coisas é mais forte que ela. mal dá tempo de respirar e vc já escuta o wap funcionando de novo.

eu entendo dona edite.

uma das grandes conquistas da humanidade é ter água encanada em casa, saindo farta e fácil pela torneira.

uma das grandes conquistas dos jovens, é sair da casa dos pais e não ter que escutar alguém esmurrando a porta do banheiro quando vc está viajando na boa água quente de um banho.

depois do ar que respiramos, a água deve ser o elemento que corre mais risco no planeta e a responsabilidade pela economia passa diariamente por nossas atitudes. mas quais são essas atitudes?

para desespero de minha família, lavo meu carro duas vezes por ano, não freqüento clubes que têm torneiras e chuveiros à disposição de seus sócios, não tenho torneiras pingando, não dou descarga para me livrar de dois fios de cabelo, não deixo torneira aberta enquanto faço barba ou uso uma toalha por dia, como fazemos nos hotéis.

então, por que não podemos – eu e dona edite – tomar um bom e relaxante banho, dar uma boa e vigorosa lavada na calçada ou regar as plantas?

lavar a calçada é um dos bons momentos da vida. vc lava, relaxa e os problemas vão escorrendo meio fio abaixo.

o governo do estado, responsável pelo planejamento e manutenção do abastecimento deixou de investir na rede. com essa estiagem medonha, passa a dar bônus para quem economizar muito e multa para quem disperdiçar um pouco. a conta, afinal, é sempre nossa e, entrando agora na época de seca, certeza que teremos muitos problemas até o final do ano.

a água é um problema do planeta mas tenho certeza que meus litrinos de consumo são uma gota no oceano de problemas criados por indústrias, saneamento, clubes, condomínios e vazamentos na rede.

faço a minha parte mas de vez em quando preciso de um banho longo, de regar generosamente as plantas e de jogar uma aguinha rápida na calçada.

eu e dona edite.
nos perdoem.

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Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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