osmose traz experiências de quadrinistas alemães e brasileiros
Orlando
27/09/2013 09h19
osmose poderia ser o nome de uma banda punk ou de um gibi do marcatti. mas não.
é o resultado de um projeto de residência de três quadrinistas alemães que vieram para o brasil e três brasileiros que foram para a alemanha no segundo semestre de 2012 a convite do goethe institut. o livro editado pela gaúcha libretos está sendo lançado neste sábado, 28, em são paulo e traz as experiências dos alemães aisha franz, birgit weyhe e mawil que vieram a salvador, são paulo e porto alegre, respectivamente e dos brasileiros joão montanaro, paula mastroberti e amaral que foram a munique, berlim e hamburgo.
com coordenação editorial de josé aguiar e curadoria de augusto paim, a caprichada edição mostra o quanto artistas podem se surpreender quando saem de sua zona de conforto e o quanto esse espanto pode gerar boas obras.
uma delas é a de joão montanaro.
segue entrevista com o cartunista:
blogdoorlando – como surgiu o convite para esse projeto?
João Montanaro – Fui convidado pelo pessoal do Goethe Institut, depois veio o José Aguiar (um dos coordenadores do projeto)
E trocamos figurinhas…
blogdoorlando – vc já tinha viajado sozinho para fora do país?
João Montanaro – Bom, ainda não viajei sozinho, hehe. Fui com meu pai. O pessoal do instituto ficou com receio de mandar um menor de idade sozinho numa viagem internacional…
Mas eu nunca tinha ido pra fora do país….
blogdoorlando – vc se preparou de alguma forma ou foi no improviso?
João Montanaro – Um amigo meu é bem ligado à cultura alemã. Então bati uns papos com ele, mas não muito mais… Eu não queria saber exatamente o que iria ver por lá, minha ideia era ir vivenciando as coisas pra só depois fazer uma ou outra pesquisa na hora de desenhar minha histórinha. Acho que isso ajudou a ter mais surpresas nas minhas impressões… Era a primeira vez que eu via muita coisa… De metrô sem catraca a velhos pelados no parque público. Claro, devo ter me ferrado nuns pontos por não ter feito uma pesquisa prévia, como no campo de concentração de Dachau, onde toda a visita era em alemão.
blogdoorlando – quais foram suas primeiras impressões? e o que mais te chamou a atenção?
João Montanaro – Minha primeira impressão foi o clichê do primeiro mundo "Santo Deus, num é que as coisas aqui dão certo?"…
Como disse, metrô que não precisa de catraca – as pessoas compram o bilhete mas não precisam passar ele em nenhum sensor ou máquina que engole ele – pessoas bem educadas, mas também meio frias… O senso de cidadania era legal, não existia esse calor brasileiro de bater papo com o estranho e oferecer casa, comida e roupa lavada, mas as pessoas sabiam que o que elas usavam ia ser usado pelo próximo então respeitavam umas às outras.
O mais estranho lá eram as pessoas peladas no maior parque público da cidade (gente botando o bimbo pra pegar um bronze) e a privada alemã, que tem um compartimento seco onde você deposita o que tem que depositar e só sai quando dá a descarga.
blogdoorlando – que tipo de assistência vc teve lá? ficou morando onde?
João Montanaro – Eu e meu pai ficamos numa mansão pública chamada Ebenböckhaus, ela servia de palco para diversas atividades culturais e também como moradia para os artistas visitantes.
Como nenhum de nós fala alemão, uma senhora amiga de Thomas, coordenador da casa, fez um tour, nos ensinou a andar de metrô e deu um monte mapas. Você se sente um analfabeto, tem que ficar atento até na hora de pedir comida ou ir ao banheiro…
blogdoorlando – vc manteve contato com os outros artistas antes e depois da viagem?
João Montanaro – Em Munique eu cheguei a ir em dois encontros de artistas… Um deles era meio furado, o pessoal fazia concept art pra filmes e video games e eu mostrava meus bonequinhos narigudos, então eles me indicaram um encontro que ocorria todos os meses com os ilustradores e cartunistas locais… bem aos moldes do que fazemos aqui, mas com mais cerveja.
Os estilos variam pouco. Ou é uma coisa experimentalista européia ou bem infantil… pelo menos na reunião que eu fui. Aqui no Brasil eu tive contato com dois dos alemães que vieram pra cá, Birgit e Mawil. Infelizmente não mantive o contato depois…
blogdoorlando – quantos palavrões vc aprendeu em alemão?
João Montanaro – Pior que não aprendi nenhum… mas meu amigo acaba de mandar um "Scheißkerl" pra você =) hehehe!
serviço:
osmose: brasil e alemanha em quadrinhos
onde: gibiteria
praça benedito calixto, 158 – 1º andar – pinheiros – sp
quando: dia 28/09 a partir das 16h
autores: aisha franz, birgit weyhe, mawil, joão montanaro, paula mastroberti e amaral
editora: libretos (porto alegre)
bilíngue: Português e Alemão
formato 20,5 cm x 28 cm | 88 páginas | capa dura
R$32,00
Sobre o autor
Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.
Sobre o blog
Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.