manifestações: protestos vão muito além de R$0,20
Orlando
12/06/2013 09h56
há uma tensão no ar e ela não parece ser causada apenas pelo recente aumento das tarifas de ônibus e metrô em são paulo.
a vida está cara, as perspectivas de futuro cada vez mais distantes no horizonte, insegurança, baixos salários, trânsito, impostos e pouco retorno são alguns dos muitos ingredientes que estão fervendo no caldeirão.
um espetáculo do crescimento que ficou na promessa, passagens caras e tudo errado, são os componentes das manifestações que aconteceram nestas duas semanas.
junte-se a isso uma polícia que definitivamente não é a britânica e pronto, está feita a confusão.
o grupo passe livre organizou o protesto, foi para as ruas com faixas e palavras de ordem. tentou que a manifestação fosse pacífica mesmo obstruindo ruas e avenidas no meio do horário do rush, mesmo não havendo controle sobre quem entra ou não na marcha.
convenhamos, protestos são para fazer barulho e um protesto sobre transporte público não poderia acontecer em outro local se não por onde as pessoas transitam com suas centenas de milhares de carros particulares.
depois, há um mérito tremendo nisso tudo: nos acomodamos em assinar pela rede petições higienizadas sem nem mesmo saber em profundidade sobre do que se tratam. assinamos e damos como missão cumprida. essa garotada está fazendo o que todos deveríamos fazer: ir pra rua, reclamar da ordem estabelecida e, se há mesmo, uma demanda crescente por melhores serviços, moralização da política, melhoria do ensino, etc, nada mais natural que os protestos explodam.
lembrar que essa é a polícia que temos. obtusa, mal remunerada, mal treinada, parte pra cima dos baderneiros.
talvez, numa outra perspectiva, devessem se juntar ao coro e exigir pra si também, melhores condições de trabalho.
mas isso é outra história.
prefeito e governador estão em paris para tentar trazer a expo 2020 para são paulo. lindo.
lula e sérgio cabral, governador do rio, fizeram o mesmo com as olimpíadas e a copa.
o que ganhamos?
estádios super faturados, atletas e infra-estrutura esquecidos. que tipo de investimento houve no que realmente era necessário?
parece que muito pouco e atletas sem patrocínio tentarão nossas parcas medalhas com o esforço próprio outra vez.
R$0,20 são muito pouco perto do que esses protestos estão deixando claro. existe uma insatisfação generalizada e ela está estampada nas ruas pelo tamanho das manifestações.
pais, professores, médicos, empresários deveriam se juntar ao coro dos descontentes e ampliar a discussão, dizer em alto e bom tom "não, políticos, a coisa não está boa pra ninguém, não!"
políticos, aliás, têm usado o argumento de que 97% dos brasileiros apoiam a redução da maioridade penal para apressar o trâmite de leis que atendam esse desejo.
ora, se uma pesquisa apontasse um número alarmante de políticos considerados corruptos, esse trâmite para que todos fossem defenestrados aconteceria?
não, né?
pois então, os meninos estão fazendo a parte deles pacificamente.
a baderna é o retrato.
o quebra-quebra ninguém vai apoiar mas ele é a manifestação óbvia de um sentimento represado.
e tem a raiva.
e motivos pra raiva não faltam.
Sobre o autor
Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.
Sobre o blog
Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.