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a tipografia ainda pulsa forte na oficina tipográfica são paulo, na mooca

Orlando

16/09/2012 13h32

blogdoorlando – o que é a oficina tipográfica são paulo?
Claudio Rocha –
A OTSP é uma organização não governamental com fins culturais, que tem como objetivo a preservação da cultura gráfica. Fica localizada na Escola Senai de Artes Gráficas Theobaldo de Nigris, cujo apoio é fundamental para ampliar e aprofundar uma das propostas da Oficina, que é a conservação do conhecimento ligado ao sistema de impressão tipográfica e a preservação do patrimônio histórico e artístico das artes gráficas no Brasil. Segundo Catherine Dixon – pesquisadora, escritora e professora da escola de arte e design Central Saint Martins, de Londres – em artigo para a revista inglesa Matrix, nº 28, "o uso da tipografia na OTSP não é uma festa nostálgica. Os antigos sistemas de composição tipográfica e sua linguagem não são explorados simplesmente com o objetivo de reabilitar esses valiosos recursos. Mais do que isso, essa prática do passado é revivida como uma maneira de revigorar o pensamento e aprimorar habilidades conceituais."

 

foto: gillaume bétemps


blogdoorlando – e como rolou essa parceria com o senai em são paulo? Há outros parceiros participando?
CR –
Inicialmente, a OTSP funcionava nos fundos de uma gráfica que pertencia a uma universidade da zona Leste. Era uma situação informal e inadequada. Teríamos que buscar um outro espaço para atender às expectativas do nosso projeto. Conversamos com o diretor da escola do Senai, o Manoel Manteigas, e ele foi receptivo à idéia de abrigar a OTSP na Theobaldo De Nigris. Foi necessário nos organizarmos como uma ONG para viabilizar o convênio.



blogdoorlando – interessante que o senai theobaldo de nigris se tornou um grande polo tecnológico e ao mesmo tempo abriga uma atividade quase artesanal.
CR –
Embora ultrapassado tecnologicamente, o sistema tipográfico é, de fato, um processo industrial completo, com princípios técnicos que fundamentam as artes gráficas. Esse sistema, com suas peculiaridades visuais, vem sendo preservado em várias partes do mundo e alcança resultados muito particulares.
Também representamos para a escola uma aproximação com o mundo da "criação", proporcionando a troca de experiências entre designers gráficos e técnicos em artes gráficas.



blogdoorlando –
onde foram conseguidas as máquinas da oficina? Todas funcionam? Como é feita sua manutenção?
CR –
Nossos equipamentos foram adquiridos no mercado ou recebidos em doação. Também mantemos o patrimônio da escola em funcionamento. O acervo da OTSP/Senai conta atualmente com quatro impressoras tipográficas, que também fazem corte e vinco, uma Linotipo e mais de duas centenas de gavetas de tipos de metal e madeira. O Senai oferece infraestrutura e suporte técnico.



blogdoorlando – qual o movimento tipográfico no brasil? Há uma tipologia tipicamente brasileira?
CR – São dois mundos: a tipografia digital no contexto do design gráfico contemporâneo, de um lado, e de outro a tipografia clássica, com séculos de bagagem.
Como linguagem, o type design digital bebe na fonte da tipografia clássica, em uma ponta, e, na outra, rompe seus padrões, impulsionada por uma sociedade visualmente mais complexa nos dias globalizados e informatizados de hoje. As releituras fazem parte desse processo autofágico de evolução da comunicação visual gráfica e residem basicamente na apropriação de estruturas de linguagem e referências de formas do passado.
Então, os tipógrafos digitais, no Brasil e em outros países, respondem a esse estímulo. e nesse sentido, estar familiarizado com os recursos tecnicos e de linguagem do sistema de composição e impressão tipográficos é determinante. Isso já foi bem compreendido pelos comunicadores visuais. Diria que a tipografia é a bola da vez, com a edição de diversos livros de autores nacionais e estrangeiros, cursos e exposições pelo país…
Respondendo à segunda questão, não temos uma identidade tipográfica brasileira visível, mas saímos da inércia secular e corremos atrás do prejuízo. temos vários exemplos, e isso vale também para o design gráfico nacional..


blogdoorlando – e existem cursos que formem tipógrafos?
CR –
Não no sentido profissionalizante. A OTSP treina voluntários e oferece um curso de composição manual, no qual os participantes desenvolvem o seu próprio cartão de visita. Nesse curso, conduzido pelo Marcos Mello (também diretor da OTSP), e uma equipe de novos e antigos tipógrafos, é apresentada a técnica da composição manual, com uma breve introdução teórica sobre composição e impressão tipográfica, incluindo uma demonstração do uso de uma Linotipo. Na parte prática, cada aluno elabora e compõe o seu próprio cartão de visita. Para isso estão à disposição diversas gavetas de tipos, com diferentes estilos e tamanhos, além de ornamentos e clichês. No final do curso o aluno recebe um pacote com uma tiragem de seus cartões.

 

foto: gillaume bétemps


blogdoorlando – Vocês pensam em ampliar essa atividade oferecendo cursos que aprofundem mais o estudo?
CR –
Sempre repensamos a nossa atividade didática. Temos outros cursos, como o de gravura tipográfica, que devem evoluir para outras modalidades em 2013. Mas a OTSP não fica apenas nos cursos…

 

foto: gillaume bétemps


blogdoorlando – sim, a oficina tipográfica paulista dedica parte de seu espaço para experimentações gráficas. Que tipo de público vocês gostariam de atender?
CR –
Como atelier gráfico, utilizamos os recursos do sistema de composição e impressão tipográfica para produzir peças com carater experimental e artesanal. Como núcleo editorial, editamos a revista Tupigrafia, além de álbuns e livros de artista, a partir da impressão de matrizes de xilogravura, linóleo e clichês tipográficos. Mas não somos uma gráfica comercial, que presta serviços.
Com relação aos cursos, os participantes costumam ser designers gráficos interessados em expandir seus horizontes, mas sempre aparecem arquitetos ou jornalistas, além de donas de casa e curiosos em geral.



blogdoorlando – imagino que deva existir outras iniciativas como essa em outros lugares do mundo. Há um intercâmbio entre interessados? Como funciona?
CR –  
Sim, algumas oficinas tem uma postura mais conservadora, preservando  a tipografia clássica, mas o carater experimental é explorado. Existem diversas, na Europa, nos EUA e também no Brasil em cidades como BH, Goiânia, Recife, Caruaru e em SP. Algumas são independentes, enquanto outras são ligadas à instituições de ensino. Formamos uma crescente confraria, com troca constante de informações e figurinhas..!



blogdoorlando – Como as pessoas podem ter acesso às informações das atividades da oficina e como podem participar?
CR –
Normalmente, contamos com o apoio de colaboradores voluntários e, em contra-partida, disponibilizamos nossos equipamentos e recursos. As informações podem ser obtidas pelo site www.oficinatipografica.com.br

 



quem é claudio rocha:
Designer gráfico especializado em tipografia e design editorial.
Autor dos livros Projeto Tipográfico, Tipografia Comparada, Trajan e Franklin Gothic, publicados pela Edições Rosari. Co-editor da Tupigrafia, revista brasileira de tipografia e caligrafia e editor da Tipoitalia, revista internacional sobre a tipografia italiana.
Sócio-fundador da ONG Oficina Tipográfica São Paulo.

 

serviço:
oficina tipográfica são paulo
rua bresser, 2315 mooca – são paulo – sp
tel: +55 (11) 85358019
www.oficinatipografica.com.br

 

 

 

 


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Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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