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lhamas de lorena kaz descem os andes e vão ao cinema

Orlando

09/11/2015 23h32

capa lhama

lorena kaz, carioca de 32 anos, é filha do diretor de arte gê e sobrinha de zélio e ziraldo.
nada mais natural que ela também enveredasse pelas estradas tortuosas das artes gráficas.
ilustradora e quadrinista, vem procurando seu espaço num universo povoado, majoritariamente, por marmanjos com poucos amigos.
na entrevista abaixo, ela fala sobre isso e sobre seu livro "uma lhama no cinema" que sai pela editora conrad.

blogdoorlando – de onde saiu esse personagezinho lhama?
Lorena Kaz – Sempre gostei de lhamas, não sei a explicação. Já morei no Equador e vi muitas, mas acho que o amor vem de antes. Depois que comecei a desenhar lhamas, vejo muitas outras pessoas declarando grande apreço por elas, comecei a achar que a lhama representa de alguma forma o universo alternativo, o debochado, o anti-herói.
A vontade de desenhar esta lhama que se fantasia e criar a página "Uma lhama por dia", veio na volta de uma viagem à Bolívia. Procurei presentes engraçados de lhama na Bolívia mas não achei nada muito diferente do convencional, então decidi que eu ia desenhar uma lhama especial para cada familiar e fazer camisetas. Comecei a postar as lhamas para os familiares no facebook e amigos e fãs entraram na onda, pedindo mais e mais lhamas diferentes.

Lhama 01

blogdoorlando – e como surgiu a idéia de colocá-la como personagens de filmes?
Lorena Kaz – Inicialmente as lhamas realizavam tarefas rotineiras, andavam de bicicleta, liam jornal, eram uma representação da vida cotidiana, com o tempo e com a crianção da página "Uma lhama por dia" os fãs começaram a pedir cada vez mais personagens e personalidades e a lhama foi ficando mais pop. Levei para a Conrad a ideia de fazer um livro de 365 páginas, com uma lhama por dia! Mas a minha editora Luciana Figueiredo propôs de separarmos as lhamas por temas como cinema, esportes e música. Para o primeiro livro, a escolha do tema "cinema" foi unânime.

blogdoorlando – aliás, qual sua relação com cinema?
Lorena Kaz – Gosto muito de cinema e tenho carinho especial pelos filmes dos anos 80 por representarem a época da minha infância. Desenhei muitas lhamas dos anos 80 no livro, como o Marty McFly lhama do "De volta para o futuro", "Goonies" e "Indiana Jones", acho que quem tem entre 25 e 45 anos pode achar uma graça especial no livro!

Lhama 02

blogdoorlando – vc tem desenvolvido vários projetos paralelos. como andam? e como vc está vendo o atual momento do mercado editorial?
Lorena Kaz – Estou fazendo um livro de quadrinhos também com a Conrad e planejamos lança-lo em maio do ano que vem. Este livro é muito especial para mim, é um trabalho profundo, sensível e consistente, baseado em estudos sobre dependência emocional e o feminino. Tenho muito orgulho deste trabalho que estou realizando e acho que ele vem em um momento muito oportuno, por conta deste "renascimento" do sentimento feminista. Fora o livro de quadrinhos "Morrer de amor e continuar vivendo" tenho mais um projeto de quadrinhos e dois livros infantis que estão declaradamente "parados por conta da crise". Conheço muitos editores que se interessaram nos projetos mas não tem como produzi-los neste momento. Sei que a crise está forte no mercado editorial pois estou vendo muitos colegas da área sem frila ou emprego. Acho que seria um bom momento para lançar estes livros fora do Brasil, mas parece que não é tão simples.

blogdoorlando – como vc vê a participação das mulheres numa área que é predominantemente masculino?
Lorena Kaz – Estamos vendo um "boom" incrível de mulheres nos quadrinhos! Tem muitas meninas tomando coragem para começar e me sinto um pouco precursora por ter começado a desenhar quadrinhos ha cerca de 12 anos.
Nunca fui discriminada profissionalmente por ser mulher, mas sim por fazer quadrinhos. Não acho que seja difícil apenas para uma mulher publicar quadrinhos em uma grande editora ou vender quadrinhos, isto é uma tarefa muito difícil para qualquer um no Brasil, independente do sexo.
Não sei como foi na época do Pasquim ou na Chiclete com banana, se as mulheres não eram bem vindas, então não posso falar historicamente da cultura do machismo nos quadrinhos mas desde que me entendo por gente, nunca me senti discriminada dentro da área de quadrinhos, muito pelo contrário, sempre me senti especialmente bem vinda.

Lhama 03

OBS:
Tenho uma teoria sobre a escassez das mulheres nos quadrinhos, que não está ligada ao machismo dentro da área de quadrinhos especificamente, mas sim ao formato da família dentro da sociedade.
Acho que o trabalho de fazer quadrinhos é muito minucioso, exige muita dedicação e um pouco de um comportamento obsessivo.
O casamento, na sua forma tradicional, consistia na mulher cuidar da casa, da família, da comida, da roupa e de todas as condições para que o homem pudesse dedicar todo o seu tempo ao trabalho.
Assim foi com tantos cientistas, artistas e pintores, considerados geniais, que tiveram a oportunidade de se dedicar obsessivamente ao seu trabalho por serem homens. Tinham o aval da sociedade e a mulher para cuidar deles.
Além de tudo, diz se que fisiologicamente (por uma questão evolutiva, para cuidar dos filhos ou vice-versa) as mulheres tem maiores habilidades para relações sociais e realizar múltiplas tarefas simultaneamente, o que combinado com a jornada dupla de trabalho, dificulta bastante que passem muitas horas seguidas em concentração obsessiva.
Com novos formatos de família e mais tolerância em relação ao papel dos indivíduos na sociedade, vem a possibilidade de as mulheres se dedicarem ao trabalho tanto quanto os homens.
E também há uma abertura do mercado para as mulheres, em relação aos novos formatos de quadrinhos que vão surgindo.
O gosto da sociedade está mudando. As pessoas já podem cada vez mais expressar seus sentimentos e emoções.
Antigamente, eram quase um monopólio, os temas de fantasia (super heróis, cowboys, ficção científica, aventura, violência, etc), além de quadrinhos eróticos e piadas sujas que muitas vezes objetificavam a imagem da mulher.
Hoje existe um pouco mais de abertura para a sensibilidade do autor.
Também a valorização do desenho autoral e não necessariamente incrivelmente técnico e detalhado, a valorização do ponto de vista do autor, do argumento e da ideia em relação ao trabalho manual exaustivo, facilitam que o quadrinho possa ser feito de forma mais rápida e que uma mulher consiga ter um trabalho de autora de quadrinhos e cuidar dos filhos sem precisar, talvez, passar várias noites em claro.
O que vejo em geral, é que o quadrinho autobiográfico e sensível prende muito mais as mulheres do que o quadrinho de fantasia. É claro que existem muitas exceções e cada vez o sexo do indivíduo importa menos e o define menos. Mas com mais exemplos de trabalhos femininos, mais meninas vão se sentir a vontade para fazer e mostrar o seu trabalho e isto é um ciclo vicioso.

 

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O livro vai custar R$19,90.
Tem um poster autografado para as primeiras 100 pessoas que comprarem o livro no lançamento.
Também, as primeiras 20 pessoas que levarem 2 amigos ganham uma bolsa e as que levarem 3, ganham bolsa e um desenho da lhama personalizada.

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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