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alguém diria je suis chico caruso no dia de hoje?

Orlando

09/03/2015 16h02

caruso 1

fora o panelaço ontem durante o discurso da presidente dilma à nação, talvez o assunto que tenha mais rendido na rede foi a charge de chico caruso publicada no dia 8, sábado.
surpreendente a quantidade de leituras, o que demonstra o estado de guerra em que estamos. fumaça e gases cobrindo nossos olhos.
a unanimidade é a de que a charge é incômoda.
há muito o trabalho de chico caruso parece ter se esgotado, girando em torno de si mesmo e das mesmas e batidas fórmulas que o consagraram nos anos 80 e 90. nesse período entrávamos na nova república com tancredo neves, sarney, itamar, collor, depois de ele ter se esbaldado com joão figueiredo, delfim e afins.
bons tempos.
o olhar viciado, as soluções fáceis estacionaram seu talento. ele ainda desenha muito mas de forma preguiçosa, como um aposentado que cumpre seu dever, pega o chapéu e vai pra casa.

bem, mas voltando à charge, me parece claro que a intenção era mostrar o quanto a presidente dilma está refém de uma situação.
se em uma ela está prestes a ser cozida por renan e cunha, na outra está com a faca no pescoço ameaçada por um radical.
nas duas situações ele propõe negociar.
acho que são leituras simples, diretas e, convenhamos, reais.
desde collor um presidente da nação não está tão pressionado pela opinião pública, pelo congresso e, sim, pela imprensa.

nesse ponto, temos todo tipo de teorias da conspiração.
chico caruso publica no globo e apresenta suas charges inanimadas na tv globo.
sim, e daí?
qual o alcance popular que elas podem ter?
lembrar que delfim neto colecionava suas charges e as emoldurava já nos anos 70.
charge nunca derrubou governo nem mudou o mundo.

outra grita foi a de que a charge foi publicada no dia da mulher.
péra! em outro dia poderia?
se fosse um presidente do sexo masculino estaria tudo bem?
e se fosse o alckmin não teria problema?
dilma está lá porque é a presidente da nação.
ah, mas se fosse o fhc ele não faria.
tenho livros e recortes com desenhos que provam o contrário.
o chargista trabalha com os atores do momento e ela, dilma, é a bola da vez.
o tranquilo itamar talvez tenha sido um dos presidentes mais sacaneados em charges e cartuns e saiu ileso.
a diferença é que ele tinha bom humor.
e teve o collor
chico caruso já tinha errado feio no episódio da boate kiss, em santa maria, rio grande do sul.

Chico Caruso 3

mas, como desenhista, o que me chama mais a atenção é que até antes de ontem todos "éramos charlie!".
defendemos a liberdade de expressão e o direitos dos mártires franceses terem se manifestado mesmo que com opiniões grosseiras.
ficamos estupefatos pela polarização que acontece na europa e com o massacre de homens de imprensa do mundo livre.
eu não disse que sou charlie e não vou dizer agora que sou chico mas ainda acredito que a liberdade deva ser direito do cidadão, do artista, do político ou da fé.
a liberdade é direito, saber falar sobre ela é dever.

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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