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férias, artigo em extinção

Orlando

29/01/2015 07h40

Fechado 72

houve um tempo em que desenhistas se empregavam.
eram funcionários de revistas, jornais, estúdios ou agências de publicidade.
e como todos os trabalhadores legalmente registrados, tinham direito a fundo de garantia, folgas semanais, recebimento por horas extras e, claro, férias de 30 dias remuneradas.
silenciosamente as relações de trabalho foram mudando.

passamos pelos yuppies, pela re-engenharia, pela terceirização que, num passe de mágica se transformou na maior lorota dos últimos tempos: o empreendedorismo.
profissionais – e não só desenhistas – passaram a ser donos de seu próprio negócio tomando para si todos os custos e responsabilidades que antes eram de seus antigos patrões, como aluguel de um espaço, computador, telefone, máquina de café e manutenção de uma estrutura mínima para atender seus clientes.
o que poderia significar liberdade e horários flexíveis, pode ser exatamente o contrário.
em muitos casos o mercado se tornou um leilão e o talento artístico por si só não basta.
o "empreendedor" precisa se tornar um gerente de seu próprio negócio acumulando funções específicas como ser seu proprio rp, o rh, o financeiro, o almoxarife, o criativo, o funcionário dedicado e, claro, vidente para enxergar o que o futuro lhe reserva.

quem está no mercado nos últimos 35 anos nunca trabalhou sem que alguma crise estivesse batendo na porta. e todas elas fizeram muita marola. petróleo, plano collor, bresser, crise do japão, crise da argentina, na coréia, desvalorizações do cruzeiro e do real só para ficar entre algumas, trouxeram ventos fortes que balançaram nossos barquinhos sem dó.
tivemos também a crise do papel, a entrada da internet e uma mudança radical mas ainda sem definição dos meios de comunicação, especialmente os impressos.
hoje é praticamente impossível sobreviver e pagar contas só atuando na imprensa.

esse "se virar nos 30" a que somos submetidos empurra boa parte dos profissionais a uma eterna vigilância.
novembro é o mês de se garimpar trabalhos que segurem dezembro e janeiro, justamente os meses em que poderiam estar desfrutando das economias do ano e descansando ou conhecendo outros lugares.
ao contrário, são meses de preocupação e indefinição.
férias, mais do que merecido descanso é o período que nos proporciona um certo desligamento da rotina, a reciclagem das baterias e um balanço do ano anterior.
e não me venha com férias de uma semana!
férias são 30 dias em que vc vai se desligando lentamente, faz a curva e vai, também lentamente, se preparando para a volta ao batente.
férias de 30 dias deveriam estar na constituição. serem obrigatórias com aval do ministério da saúde pública.
emendamos um ano no outro, sem intervalo e isso não deve fazer muito bem não.

eu proporia uma outra emenda constitucional que reservasse 15 dias entre um ano e outro. uma espécie de limbo entre o dia 31 de dezembro e o 1º de janeiro.
nesse período não haveria obrigações, nem trabalho, nem contas vencendo, nem nada.
impossível, eu sei, mas #ficaadica.

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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