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sib critica avaliação de ilustração em prêmios e concursos literários

Orlando

23/07/2014 10h10

a sibsociedade dos ilustradores do brasil, vem ao longo dos últimos 13 anos pautando questões da atividade de ilustradores e artistas gráficos.
uma das pautas é a forma como a ilustração é avaliada nas principais premiações literários como o jabuti, por exemplo.
a literatura – e especialmente a infantil e juvenil – tem alcançado níveis de excelência internacionais com ótimos projetos gráficos e um destaque inédito do desenho em livros com textos e nos chamados livros de imagem.
muitas das obras logram sucesso de vendas e em concursos exatamente por conta desses princípios mas acabam premiados como se somente o texto fizesse parte delas.
questionando esses critérios, a sib publica em seu site uma carta aberta que pretende abrir a discussão e promover uma reflexão sobre critérios que já não espelham a realidade do livro ilustrado no país.
abaixo, a carta na íntegra:

 

Livro ilustrado = texto + ilustração

Os livros atualmente editados no Brasil, em particular aqueles ilustrados, têm colhido elogios. O segmento editorial brasileiro tem oferecido aos leitores um montante considerável de obras bem cuidadas, projetadas e caprichosamente ilustradas. A força da literatura brasileira tem sido reconhecida em todas as praças, inclusive nos eventos literários internacionais – Bogotá, Frankfurt, Bolonha, Caracas – e  ainda mais destaque adiante terá – em Paris, Londres e Nova York, segundo se diz – já a partir de 2015. Um desempenho notável, em boa parte justificável pela qualidade editorial e pela excelência das ilustrações pelas capas e no miolo de livros para públicos diversos.

Já há algum tempo, na lista fechada da Sociedade dos Ilustradores do Brasil, temos discutido contudo sobre alguns pontos controversos. Muito embora haja consenso em torno do mérito, na prática, detectamos a necessidade de ajustes finos nos contratos que assinamos com as editoras e nos critérios de análise crítica destinados ao objeto livro ilustrado. A maioria concorda que uma obra literária contemporânea, quando ilustrada com generosidade, é fruto do enlace autoral entre duas expressões: a palavra e a imagem. Muitas vezes ousando alternar distanciamentos e aproximações furtivas. Recursos que se cruzam, por vezes se bicam, e também se afagam. Tanto faz o tom dessa relação íntima. A condição de autor é também hoje – tanto para o escritor quanto para o ilustrador – um pressuposto burocrático obrigatório nas inscrições de obras ilustradas em editais e vendas especiais.

Algumas ilustres reflexões sobre o Jabuti e outros prêmios literários.

A despeito disso, persiste um certo desconforto entre ilustradores e escritores com relação aos critérios seletivos aplicados (ou não aplicados) à ilustração por alguns dos mais consagrados concursos literários do país. Focamos aqui o tradicional Prêmio Jabuti, promovido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), o Prêmio Literário Fundação Biblioteca Nacional, da respectiva instituição (FBN) e o Prêmios Literários da Academia Brasileira de Letras. E realçamos, como um contraponto positivo, a perspectiva da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, que há anos certifica obras em categorias bem estruturadas e a partir de critérios mais assertivos e mais justos. Que fique claro: antes deste dossiê, muitos colegas já enviaram seus questionamentos aos organizadores dos primeiros dois concursos citados. Procuramos apurar as respostas, no entanto, não logramos obtê-las.

Decidimos enviar esta carta aberta aos representantes da CBL, da FBN e da ABL, bem como tornar público o debate, com o intuito de obter respostas e esclarecimentos sobre os pontos relevantes logo abaixo discriminados, que foram levantados por diversos colegas ilustradores:

Prêmio Jabuti

Entre as categorias, registramos as seguintes questões (vide categorias):

categoria_Melhor Capa

Esta categoria deve assegurar que todos os colaboradores criativos sejam citados. Embora o prêmio seja conferido ao designer responsável, que assina o projeto gráfico, a participação autoral do colaborador – muitas vezes bastante significativa – precisa ser registrada.

categoria_Melhor Livro Infantil

Aqui há mais um problema substancial. O livro ilustrado remete à sinergia da canção popular. O texto está para a letra, assim como a ilustração está para a música. Nos melhores momentos, uma dimensão é indissociável da outra. Ou seja, o "Melhor Livro Infantil" resulta da combinação entre as duas abordagens narrativas. Ambas precisam ser reconhecidas nos livros mencionados. Fosse para julgar apenas o conteúdo de texto, o regulamento deveria solicitar aos concorrentes que submetessem ao júri tão somente o conteúdo de texto original.

categoria_Melhor Livro Juvenil

Nesta categoria, em geral, a contribuição autoral do ilustrador tende a ser menos significativa. Se sua participação for excepcional, mais relevante que de hábito, adequado nos parece premiá-lo também. Assim como na categoria supracitada, o conteúdo de texto é que deveria ser avaliado, desacompanhado de projeto gráfico e ilustrações.

NOSSAS SUGESTÕES:

> Para contornar os aspectos acima mencionados, em vez das quatro atuais sugerimos sete categorias:

Melhor Texto de Literatura Infantil (a contemplar somente o texto)

Melhor Texto de Literatura Juvenil (a contemplar somente o texto)

Melhor Livro Infantil (a contemplar texto e ilustração)

Melhor Livro Juvenil (a contemplar texto e ilustração, quando devido)

Melhor Ilustração (a contemplar somente a ilustração nos livros adultos)

Melhor Ilustração de Livro Infantil (a contemplar somente a ilustração infantil)

Melhor Ilustração de Livro Juvenil (a contemplar somente a ilustração juvenil)

> Além disso, também recomendamos que especialistas em texto e imagem na literatura infantil e juvenil sejam sempre convidados a integrar a comissão julgadora.

Prêmio Literário Fundação Biblioteca Nacional

Neste concurso promovido pela FBN muitos estranham a ausência de pelo menos uma categoria relacionada à ilustração, pelos motivos já mencionados. Premia-se o projeto gráfico, por um lado. Mas a produção autoral de ilustração, que nos parece também significativa do ponto de vista da contribuição literária, não é contemplada. É no âmbito da literatura infantil e juvenil, sublinhamos, que ocorrem as mais ousadas experimentações de linguagens, as mais criativas arquiteturas poéticas e sintaxes cruzadas. O público leitor, de todas as idades, é mais amplo, permeável e entusiasmado. Os livros ilustrados também são mais expressivos estatisticamente, tanto na produção, quanto no reconhecimento crítico e nas vendagens. Daí o nosso questionamento.

Ilustríssimos representantes da Câmara Brasileira do Livro, da Fundação Biblioteca Nacional, da Academia Brasileira de Letra e de outras instituições organizadores de prêmios e concursos, o debate está aberto. As suas considerações podem ser enviadas para o email contatosib@sib.org.br aos cuidados do Conselho da SIB. Estamos ansiosos por recebê-las. Participem.

Prêmios Literários da Academia Brasileira de Letras

A Academia Brasileira de Letras também contempla escritores de diferentes gêneros literários, inclusive os de Literatura "Infantojuvenil", mas ignora a coautoria narrativa dos ilustradores. Tanto o escritor quanto o ilustrador merecem receber, quando devido, o Prêmio ABL de Literatura "Infantojuvenil". Questionamos também a expressão, grafada aqui entre aspas, porque há um problema de critério. É preciso discriminar a Literatura Infantil da Literatura Juvenil, como há tempos recomendam inúmeros autores e especialistas brasileiros e estrangeiros. Lembramos que muitos eventos, fóruns e festivais pelo mundo têm evidenciado a sinergia autoral cada vez maior entre textos e imagens na produção de obras literárias contemporâneas.

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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