marcelo fez gol contra sem querer. dilma, não.
redundância dizer que a copa do mundo não é um evento comum e que, em qualquer circunstância, divide opiniões.
se neste ano não tivemos grandes conflitos com relação à escalação do time, não se pode dizer o mesmo sobre sua realização no brasil, organização e gastos.
passamos meses entre números e índices que apontavam ganhos e perdas, corrupção, super-faturamento, legados e benefícios para além copa.
na rede, a copa começou com um fla-flu violento em que times de opiniões diferentes nem sempre optaram pelo bom e velho fairplay pedido pela fifa.
ora, não fosse a copa no brasil, talvez a paz estivesse reinando e nossas discussões girariam em torno dos que acham e dos que não acham que o william deve ser o titular.
em outro país, a 7ª maior economia do mundo poderia brilhar nos pés de nosso escrete canarinho deixando nossas mazelas aqui, intocadas.
acontece que o brasil pleiteou e conseguiu ser a sede dos jogos o que implica, evidentemente, em ganhos e riscos. no caso do brasil, muitos riscos.
e aí é onde está o nó.
nossa discussão não deveria mais ser sobre a montanha de dinheiro investido mas em como ele é investido.
ficou muito claro que dinheiro há, que o investimento na educação, na saúde e – vá lá – em infra-estrutura existe mas que esses volumes são perdidos no meio do caminho por má gestão, por escambos políticos e por uma malha infinita de desvios.
com a organização da copa – construída a olhos vistos – percebeu-se como o poder público trata a saúde, a educação e as questões do país. põe milhões que se perdem ou contam com prazos que não poderão ser alongados. o jeitinho brasileiro ainda mostra suas caras em todas as esferas do poder.
e vejam, não estou falando deste ou daquele partido. essas pragas são nossas companheiras desde sempre e não há sinais de mudança à vista.
estamos na copa e temos uma olimpíada acontecendo em dois anos.
gastaremos esse tempo todo falando da vila olímpica, das ameaças do coi, dos projetos que não andam, do dinheiro indo pelo ralo mas não é isso que deveria nos preocupar.
atletas continuam treinando descalços, medalhistas passam horas de treino mendigando patrocínio ou seja, chegaremos nas competições tão indigentes como somos hoje.
planejamento é coisa que passa ao largo de nossas autoridades.
por falar em autoridades, chegamos à abertura da copa.
na boa, qualquer abertura de olimpíadas escolares de minhas filhas foi mais emocionante que aquilo.
pobre, insossa, sem graça, sem garra. no país do carnaval aquilo foi uma ofensa.
mas talvez essa seja a nossa cara mesmo ou, pelo menos, a cara de quem pode pagar os tubos para assistir ao jogo no estádio.
provavelmente, muitos desses torcedores tenham andado de metrô em são paulo pela primeira vez e ido até a periferia pela primeira vez.
esse mesmo público vaiou e xingou a presidente. ela, a partir de um estúdio cenográfico dias atrás, havia feito o discurso de abertura da copa cheio de frases e edições.
não convenceu e, no estádio, tentou ficar invisível.
alguns acharam falta de educação xingar uma mulher. também acho mas se pensarmos bem, mães de juízes são xingadas a partir da arquibancada por muito menos em todos os fins de semana.
depois, a presidência não é um gênero. é um cargo com ônus e bônus e nossos comandantes só gostam de elogios. gostam de rasgação de seda.
a presidente dilma deveria, sim, ter encarado a massa de queixo em pé, esperado os 5 minutos de vaia, enaltecido a plena liberdade de expressão que o país vive, aplaudido a democracia e ter dado por aberta a copa que ela tanto acredita ser boa para o país.
um governante não pode ter medo de vaias e, pior, não pode se esconder dela como um rato amedrontado.
bem fez o lula que ficou em casa quietinho.
a presidente sabe que o mundo é injusto.
fez um gol contra por opção.
marcelo, titular absoluto da lateral esquerda fez um sem querer.
ela continuou escondida. ele foi lá e mostrou porque a posição é dele.
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