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edu grosso deixa a coordenação do salão de humor de piracicaba

Orlando

16/04/2014 08h00

edu, de grosso não tem nada. é alto, magro e de uma educação que às vezes até irrita.
some-se a isso o talento para o humor e um traço absolutamente particular.
com 54 anos, avô de dois netos, o piracicabano, funcionário da prefeitura da cidade caiu no olho do furacão quando substituiu a então coordenadora do salão de humor mais antigo e tradicional do país que foi afastada de suas funções pela secretaria de cultura.
zetti era uma figura querida pelos cartunistas que acabaram por boicotar o evento de 2010. um mau tempo se instaurou entre cartunistas e a organização do evento, cada um procurando dar seus motivos.
colaboradores da primeira hora se afastaram, o salão acabou por apostar nos novatos que pouco tinham a ver com a história do salão e edu grosso teve papel fundamental na re-organização dele.
no dia 26 de fevereiro o jornal de piracicaba anunciou que o cartunista estava se afastando, por vontade própria do cedhu, o centro nacional do humor gráfico de piracicaba.
sem alardes, como é perfil do artista.
ele continua dando seu plantão, pitacando aqui e ali na organização da 41ª edição do salão que acontece no próximo agosto e que ainda não tem um novo coordenador nomeado.

foto: jornal de piracicaba

foto: jornal de piracicaba

entre elogios e críticas, direto e elegante, ele responde à entrevista:

blogdoorlando – vc é funcionário da prefeitura de piracicaba. desde quando?
Edu Grosso – Desde o começo dos anos 80. Houve uma interrupção de cerca de 3 anos quando mudamos para Santos e trabalhei em agências de publicidade e no jornal "A Tribuna de Santos", num departamento responsável por ilustrações e artes de anúncios. Em seguida retornei a Piracicaba e fui recontratado.

blogdoorlando – como vc conciliava sua atividade na prefeitura com a de cartunista?
Edu Grosso – Aproveitando os horários noturnos e os finais de semana. Tem também aquela coisa de estar sempre ligado e fazendo rascunhos e anotando idéias.

blogdoorlando – como vc viu a saída da zetti? vc acompanhou isso de perto?
Edu Grosso – Acompanhei de perto. Somos colegas de serviço, trabalhamos na mesma Secretaria e em espaços físicos próximos, além da minha colaboração anual – como da maioria dos funcionários da Secretaria, na realização do Salão.
A permanência da Zetti ficou impraticável e, do que era possível perceber, os desentendimentos – que não eram recentes – se acumularam e interferiam na boa organização do Salão. Antes de assumir o CEDHU, junto com o Gilmar – companheiro de trabalho e também desenhista gráfico – procuramos Zétti e propusemos trabalharmos naquele ano (2010) mais próximos dela – tipo assessores – e procurar enfrentar a crise… mas a idéia não vingou.

blogdoorlando – historicamente o salão de piracicaba é o mais importante do brasil. qual sua consideração sobre salões de humor e qual foi sua função nessa transição?
Edu Grosso – O Salão de Piracicaba é custeado e organizado pela Prefeitura de Piracicaba. Ao mesmo tempo que garantiu a sua realização e permanência ao longo de 40 anos, traz algumas dificuldades. É preciso levar em conta um ambiente burocrático, com interesses diversos, às vezes pouco profissional.
Sem dúvida os Salões de arte são – ou deveriam se transformar – em espaços importantes em aspectos como: acesso e popularização da arte, valorização do artista, resgate de trabalhos do passado, apresentar o novo, etc.. O Salão de Piracicaba – com altos e baixos, tem contribuído para algumas destas questões.
A transição – se dá pra chamar de transição o que aconteceu – foi na raça. O ano de 2010, com a perspectiva do boicote dos cartunistas foi bem difícil. Praticamente começamos do zero: inventar um site oficial para o evento; começar a recuperar o espaço físico do CEDHU; convencer os artistas a participarem; alinhar os funcionários da Secretaria para a organização do Salão; encaminhar algumas pendências como a impressão do catálogo de 2009… tudo isto recheado com a polêmica saída da Zetti. A minha função principal foi responder os questionamentos das mudanças e dar credibilidade ao trabalho que se iniciava.

blogdoorlando – mesmo que a prefeitura viabilize a execução do evento, vc não acha tímidas as ações de aproximação com a população piracicabana?
Edu Grosso – Deve ser uma preocupação constante. Não concordo muito com essa ideia – como outras – que se cristalizaram ao longo do tempo. Nos últimos quatro anos o público visitante cresceu. Levamos algumas exposições em lugares bem interessantes e novos, como a Rodoviária Intermunicipal ou o Poupatempo Central. Lembro também que o Salão fica cerca de 45 dias aberto para visitas.

blogdoorlando – de que forma a prefeitura, secretários e as comissões de organização interferem no conceito do salão?
Edu Grosso – De muitas maneiras. A principal opinando e decidindo sobre as diversas pautas nas reuniões da comissão organizadora com representantes de todos estes seguimento.

blogdoorlando – os salões de humor não conseguem mais ter uma influência política nem abrem portas do mercado para novos cartunistas.
vc consegue vislumbrar uma fórmula nova para eles?
Edu Grosso – Em relação ao Salão de Piracicaba sei de relatos recentes e positivos sobre "abrir portas do mercado" apresentados por cartunistas participantes do evento. A discussão é importante e ampla – os tempos são outros, as possíveis formas de publicação e remuneração do artista gráfico se transformaram – em alguns casos se extinguiram. A idéia dos primeiros salões da imagem romântica do cartunista barbudo e desenhos numa pasta, aguardando um editor conhecido e poderoso, é ainda bem presente.
Aqui, junto a esta minha aldeia caipira – tradicionalista, corporativista, ao mesmo tempo globalizada – junto ao Salão, imagino que é preciso colocar tudo sempre em discussão. Inventar relações com profissionais e instituições relacionadas. Devem existir fórmulas e aprendizados novos. O Salão – como instituição viva, deveria ter estes mecanismos de diálogo.

blogdoorlando – no episódio do afastamento da zetti muitos cartunistas se sentiram sem voz. Vc acha que houve pouca habilidade das partes em lidar com a situação?
Edu Grosso – Não vi desta forma: os cartunistas ficaram sem voz! O Salão aconteceu, havia uma crise que foi superada… mas sem dúvida faltou um pouco de "boa" habilidade. De qualquer maneira algumas coisas foram revistas de maneira diferente, e creio para melhor.

blogdoorlando – não seria saudável cartunistas serem chamados para opinar sobre os rumos do salão?
Edu Grosso – Com certeza, o cartunista é parte do processo e grande interessado, mas não precisam ser chamados para dizer o que pensam, os canais são inúmeros.

blogdoorlando – não falta mais troca? Palestras, oficinas e debates não contribuiriam para a formação dos novos artistas?
Edu Grosso – Sim. Investir no conhecimento – seja na formação ou aperfeiçoamento deve ser prioridade. Outra questão importante também é a relação da arte com a educação, no caso o evento Salão de Humor como instrumento de aprendizado.

blogdoorlando – parece ser fato que cartunistas e caricaturistas, ao contrário de antigamente, passaram a repetir fórmulas para faturar um prêmio ao invés de buscar inovação.
vc concorda com isso?
Edu Grosso – Sim isto é visível e há muito acontece, as vezes em várias edições. Algumas soluções e abordagens – sejam na forma e no conteúdo – viram uma certa marca repetida.

blogdoorlando – qual o motivo de sua saída da coordenação do evento?
Edu Grosso – O pedido de desligamento do cargo havia sido feito já em 2012. Fizemos o Salão dos 40 anos, edição 2013. Em outubro de 2013, finalizado o evento, apresentei novamente a minha vontade. Alguns motivos: acúmulo de responsabilidades – burocráticas, artísticas, logísticas – dentro da organização do evento e uma sensação de esgotamento  e repetição do formato da realização do Salão nestes últimos anos. Outras questões existem, mas são internas.
De modo geral acho que vai de encontro a perguntas importantes e relacionadas como:
Para que serve um Salão de Humor? Como organizar um evento como o Salão de Humor de Piracicaba? Como trazer outras experiências de outros profissionais para a organização do Salão de Piracicaba? Como efetivar a participação das leis de incentivo fiscal para o benefício do evento? Como encaminhar a discussão da transformação do Salão num projeto anual, valorizando as finalidades do CEDHU Piracicaba?

blogdoorlando – qual o movimento com relação à sua substituição? Já há alguém indicado?
Edu Grosso – Até o momento não há uma indicação oficial.

blogdoorlando – vc só está saindo da coordenação do salão ou está deixando o emprego público de vez?
Edu Grosso – Continuo no emprego público. Saio da coordenação.

 

quem é:
Edu Grosso nasceu em Piracicaba/SP em 1959. Após uma iniciação clássica (desenho e pintura com o artista piracicabano Alberto Thomazi) na adolescência, passa a uma carreira auto-didata na área do desenho gráfico e da pintura contemporânea. Participa de mostras oficiais e individuais no Brasil e exterior.

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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