bá e moon têm daytripper adotado na universidade do tennessee
o programa "life of mind" da universidade do tennessee escolhe todos os anos um livro para que seus 4.500 novos alunos o leiam, façam um ensaio e participem de uma série de debates em torno dele.
é uma forma de integrar os alunos e dar início à sua vida universitária. o programa já tem mais de 10 anos.
neste ano, segundo anunciado nesta semana no site da universidade, o livro escolhido tem características especiais: é um livro de quadrinhos e é de autoria de brasileiros, os irmão gabriel bá e fábio moon.
daytripper, lançado em 2011 encadernado, é uma coletânea de histórias criadas separadamente.
lançado em 11 países, daytipper apresenta muita saúde. já foram vendidos mais de 60.000 exemplares nos eua, 20.000 na frança e 18.000 no brasil.
neste mês está previsto o lançamento de uma edição deluxe com capa dura, mais páginas e extras.
abaixo, entrevista com os quadrinistas:
blogdoorlando – daytripper recebeu o eisner award for best limited series de 2011. vcs achavam que poderia acontecer algo além disso com o livro?
Gabriel – A gente não começou a escrever a história pensando nisso, a grande oportunidade era poder publicar a nossa história na Vertigo. O importante era fazer o melhor trabalho possível. O Daytripper teve uma repercussão muito boa ao longo dos 10 meses em que ele saiu em série, o que foi nos animando. Quando os dez capítulos foram reunidos na edição encadernada, a repercussão foi maior ainda, mostrando a força da história completa (que antes ficou um pouco diluída mês a mês). Nesse momento começamos a acreditar que tínhamos realmente contado uma história especial.
Fábio – Receber o Eisner foi a coroação de um trabalho longo, algo que a gente não pensava muito no início, mas que pareceu natural no momento que aconteceu. Os outros prêmios também ajudaram a construir o sucesso do livro, mas o Eisner é mais simbólico, pois a cerimônia acontece na Comic Con de San Diego e nós assistimos a várias edições, vimos que ali era o momento final do conto de fadas, o ápice. Um história com final feliz precisava terminar com o Eisner. Era o sonho realizado, o caminho completo.
Gabriel – Se tivesse parado no Eisner, já estava mais do que bom, mas cada nova conquista é um novo capítulo nesta história, uma nova alegria. Sempre nos surpreende quando o livro é publicado em um novo país, em outra língua. Cada retorno dos leitores se identificando com a história, ao redor do mundo todo. O livro já foi publicado há três anos e ainda continua nos surpreendendo, quebrando barreiras e inaugurando novos territórios.
blogdoorlando – o livro foi selecionado pela the university of tenessee para ser objeto de estudo no ut's 2014 life of the mind. como rolou isso?
Gabriel – No final de 2013 alguém da Universidade entrou em contato conosco pra avisar que o livro estava no processo de seleção para o programa e perguntar da nossa disponibilidade para uma palestra no mês de Agosto, se estaríamos nos Estados Unidos. Infelizmente não poderíamos ir para o Tennessee, mas ficamos felizes com a possibilidade de ter o nosso livro adotado por uma Universidade. A essa altura, não tínhamos nenhuma noção do que se tratava realmente o programa.
Fábio – Em Fevereiro deste ano, eles entraram novamente em contato conosco para avisar que o livro havia sido selecionado, mas que eles estavam tentando entrar em contato com o pessoal da DC Comics, editora do Daytripper. Nós colocamos as duas partes em contato e tudo caminhou bem. Foi só a partir do contato com a DC que começamos a descobrir mais detalhes sobre o programa, que todos os alunos ingressando no primeiro ano iriam receber o livro. De repente, o que parecia o objeto de estudo de uma classe se tornou o ponto de partida da vida universitária de toda uma geração de calouros. Foi bem empolgante.
blogdoorlando – no anúncio da universidade, não faltam adjetivos destacando os méritos da história e dos desenhos.
Gabriel – Deve ser importante para justificar a seleção do livro mostrar as qualidades da história, os pontos fortes, mesmo não contando nenhum detalhe. Acho que é para atrair o público. Não vou tirar os méritos da história, mas também acho que por ser a primeira vez que escolhem uma HQ para este programa, talvez eles precisem provar no anúncio que é uma grande história. É aonde eu vejo ainda um pequeno preconceito em relação aos Quadrinhos.
Ou eles realmente gostam do livro. Quem é que vai saber?
Fábio – acho que eles realmente gostam do livro.
blogdoorlando – outra coisa destacada é como o livro trata de situações brasileiras e universais ao mesmo tempo.
Gabriel – Nós contamos a história no Brasil para poder passar com autenticidade as situações retratadas ali, os personagens, as ações, os locais. Conseguindo esta sinceridade, a história se torna mais universal.
blogdoorlando – quando vcs criam histórias pensam nessa universalidade?
Gabriel – Um dos focos das nossas histórias sempre é a relação entre os personagens, sentimentos que os leitores podem se identificar, independente de sua nacionalidade. Então, não importa tanto se o personagem principal é um jornalista ou escritor, se ele vive em São Paulo. O leitor vai se identificar com a insegurança sobre o trabalho, a relação de pai com filho, a descoberta do amor, a força de uma amizade verdadeira. Essas coisas acontecem em qualquer lugar.
Fábio – Nós sempre tentamos escrever histórias pensando também em quem não é leitor de Quadrinhos, para os outros, para essa parcela enorme do mundo que ainda não sabe ou não tem o costume de ler Quadrinhos, e para isso escolhemos tratar de temas mais cotidianos que pudessem interessar qualquer pessoa. Esses problemas do dia a dia, e principalmente esses sentimentos particulares das relações humanas, estão na vida de todos.
blogdoorlando – vcs acreditam que essa é mais uma prova da força que os quadrinhos podem ter na educação?
Gabriel – Ao mesmo tempo que é uma linguagem que possibilita contar qualquer história de uma maneira única, é também uma ótima experiência de leitura, muito forte e pessoal. A maneira como a história é contada unindo os textos e as imagens exige uma dedicação do leitor e cria uma forma de narrativa singular, que mostra muita coisa, passa a informação e também cria imagens que existem entre os quadros, dentro da cabeça do leitor. É muito interativo e um estímulo de criatividade.
blogdoorlando – quanto vcs creditam esse sucesso à editora que representa vcs?
Gabriel – Como eu falei no início, a oportunidade de publicar uma HQ na Vertigo era imperdível, uma chance única de contar uma história autoral na editora que dá a maior janela para isso no mercado americano de Quadrinhos. A visibilidade da série mensal foi muito grande e certamente ajudou no seu sucesso. E isso também é usado para promover a HQ no mundo inteiro, em países onde ela é publicada por outras editoras, pois a Vertigo é um selo que já carrega uma qualidade, um status, por todas as grandes séries e autores que publicou ao longo dos anos.
Fábio – Acho que depois que a história foi reunida em uma edição encadernada, a editora tem um papel um pouco menor no sucesso e a história tem mais mérito, pois o livro atingiu muito mais gente, inclusive muita gente que nem sabe o que é a Vertigo.
aqui, o anúncio oficial da seleção:
http://tntoday.utk.edu/2014/04/07/daytripper-2014-life-of-the-mind-book/
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