cuiabá 40 graus, purgatório da tristeza e do caos
passei uma semana em cuiabá.
foi minha segunda visita à cidade para dar oficinas no sesc arsenal um espaço pra lá de bacana e aconchegante. um tipo de oásis em meio ao calor e caos que a cidade vive.
cuiabá é uma das sedes da copa, abrigará 4 jogos na arena pantanal e está em obras.
por obras entenda-se uma cidade completamente revirada, com terra e entulho por todo e qualquer canto.
gente trabalhando, muito pouco.
o avião desce no aeroporto marechal rondon debaixo de chuva.
como parou longe do saguão, o povo deveria ser transportado por um ônibus e é isso o que tivemos: UM ônibus para levar mais de 200 passageiros em três viagens.
depois de meia hora de espera dentro da aeronave chegamos às esteiras para recuperar as bagagens. duas minúsculas rodando vazias mesmo depois desse tempo todo.
a taxista jô estava com uma plaquinha com meu nome.
nossa, que demora – disse ela – achei que o avião tivesse voltado.
as portas de vidro do aeroporto se abrem e o cenário é bizarro. tapumes, máquinas, terra, pedriscos, fila de carros.
jô deixou seu veículo largado num canto e perguntou se eu não me incomodava de "dar uma corrida" até ele porque se ela viesse até a porta me pegar, a volta e a fila seriam piores.
bóra lá enfiar os pés e rodinhas da mala no barro.
o que se seguiu daí em diante foi de chorar.
como disse, a cidade está revirada e tem avenidas e vias interditadas por obras e tubos espalhados. tapumes por todo canto.
no dia seguinte, o congestionamento era capa dos jornais cuiabanos.
passamos em frente ao estádio inacabado. tentei entender o que é aquilo. não tem o formato de um estádio padrão fifa e nem sei se isso é bom ou ruim mas parece que a parte de dentro está sendo feita e falta a casca redonda que daria o acabamento.
posso estar falando uma grande bobagem e devo estar mesmo mas a verdade é que no padrão ou não, no entorno não há estacionamento, não há ruas nem avenidas prontas e as pequenas vielas ao redor mantém as características de qualquer periferia do brasil: casas mal ajambradas, portões de ferro, grades e muitos, muitos botecos. nada pra inglês ver.
levamos cerca de uma hora para chegar ao hotel, o mesmo em que fiquei da outra vez.
agora ele está cercado de edifícios recém inaugurados e, claro, de obras inacabadas na avenida.
diferente de anos atrás, essa avenida se mantém congestionada durante boa parte do dia em ambos os sentidos. muito carro, pouco espaço, muito calor.
peguei um taxi cujo motorista era o único cuiabano otimista que encontrei.
isso aqui vai estar tudo pronto até a copa, disse ele.
rapaz, faltam 70 dias e a cidade está de pernas pro ar, retruquei.
boto fé, replicou ele, esse prefeito e governador estão fazendo o que deveria ter sido feito há 50 anos.
pode até ser, mas eu não acredito que alguém colocasse a mão no fogo por isso. quem fez qualquer obra em casa sabe que 70 dias são nada.
os cinco dias de oficina foram ótimos com pessoas bacanas, simpáticas, dispostas e céticas.
as obras não vão estar prontas, o vlt (veículo leve sobre trilhos) não vai estar funcionando, os turistas não terão o que ver em cuiabá e farão o trajeto hotel – estádio – hotel – chapada/pantanal em meio a tapumes e terra revirada.
a copa manteve, nos custos, o padrão fifa.
em cuiabá, a copa deverá seguir o padrão brasil mesmo.
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