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gráfica clandestina é oficina e galeria sobre rodas

Orlando

24/03/2014 08h00

samuel casal e ramon rodrigues inventam mais uma.

depois de migrarem do computador para goivas, madeira, tinta e papel, compram um velho carrinho de doces e montam uma "gráfica rápida" que transporta suas ferramentas e experiências para onde quiserem.

por enquanto, principalmente em florianópolis onde vivem.

a gráfica clandestina é o resultado da inventividade e dinamismo dos dois. se pedra que rola não cria limo, samuel e ramon têm tudo para se reinventarem a cada dia. abaixo, entrevista com os dois artistas:  

galeria

blogdoorlando – o que é a gráfica clandestina?

Ramon – É uma gráfica primitiva/galeria de arte itinerante. Mas não é só isso, a própria gráfica é um objeto que foi tratado por nós como um projeto artístico. A Gráfica Clandestina tem o papel de demonstrar todas as etapas da concepção de uma xilogravura e para isso ela tem que atrair visualmente o público, tem que fazer as pessoas se interessarem por ela, mesmo antes de saber o que ela realmente é.

samuel – nós já havíamos feito experiências montando oficinas e trabalhado em público e sempre tinha um pouco dessa sensação de estarmos levando o atelier até as pessoas, portanto foi se criando essa vontade de transformar esses projetos em uma unidade realmente móvel.

grafica

blogdoorlando – o que vcs fazem nela?

Ramon – Nós demonstramos como é feita a xilogravura, desde a gravação até a impressão. A xilogravura é uma técnica primitiva de impressão. Basicamente criamos carimbos de madeira que depois são entintados com tinta gráfica e prensados contra o papel. A gravação de uma matriz de é realizada com goivas (pequenos formões, específicos para esse fim) e a impressão pode ser feita de diferentes maneiras (a Gráfica Clandestina utiliza uma prensa horizontal). Cada um dos quatro lados do carrinho tem uma função, onde pode ser realizada uma das etapas fundamentais da xilogravura: área de gravação da matriz, a área onde a matriz é impressa, a parte para secar a gravura e no final a galeria, onde as gravuras são penduradas já com as molduras.

Samuel – a GC não foi concebida apenas como um objeto decorativo, queríamos desde o começo integrar e criar o máximo de funções para o carrinho, para ele ser uma plataforma de trabalho, e não só um veículo para transportar o material.

gravacao e galeria

blogdoorlando – vc gravam na hora ou só imprimem matrizes prontas?

Ramon – Rola uma gravação na hora. Tem uma parte da GC que serve para isso. Mas só saímos uma vez e não tivemos tempo hábil de fazer a matriz inteira para imprimir na hora.

blogdoorlando – vcs usaram um carrinho antigo de pipoca, é isso?

Ramon – Na verdade era um carrinho de um senhor que o havia construído à mão, para vender doces, mas nunca utilizou.  Nós o compramos e reformamos tudo, da mesma forma que ele.

Samuel – estava abandonado em um galinheiro, e só encontramos ele por causa de um anúncio feito pela filha do Seo Orêncio. Ele ficou muito satisfeito com o negócio e até prometeu um dia aparecer e comprar uns doces com a gente.

blogdoorlando – que tipo de roteiro vcs fazem para sair pra rua e como escolhem os lugares? Ramon – Ainda é muito recente e estamos planejando as próximas aparições da GC. Como eu disse, só saímos uma vez com ela. Na primeira saída escolhemos a Universidade do Estado de Santa Catarina e foi bem legal. Não tem muito um tipo de lugar que achamos que deveríamos ir. Até porque a Gráfica Clandestina fica fora de contexto em qualquer lugar, e isso é ótimo.

Samuel – na estréia tivemos desde convite para feira até workshop, só não teve pra aniversário de criança… Pela internet teve até proposta para tour em SP e interior feito por uma prefeitura.

GC

blogdoorlando – a idéia é sair pra rua todos os dias? qual o critério?

Ramon – Não, a ideia é fazer aparições, sem um lugar fixo ou um roteiro muito definido. Podemos ir a qualquer lugar, pois todo o processo acontece sem energia elétrica. Podemos dar um workshop em uma escola e em outro dia ir estacionar em um bar no final de tarde, ou algo assim.

Samuel – A idéia era ver ela pronta e funcionando. Testamos ela rodando na rua, sendo transportada e como ela se comporta no trabalho, agora vamos ver o que acontece. O importante é ela ser independente e de certa forma, clandestina.

gravura samuel

blogdoorlando – qual tem sido a receptividade do público?

Samuel – Nós construímos ela de uma forma muito pessoal, tínhamos uma certa expectativa da reação do público, mas foi nosso mesmo o maior desejo de concretizar o que estávamos imaginando tanto no conceito como na estética. Quando ela foi vista na rua pela primeira vez, foi muito incrível, algumas pessoas pararam do lado da gráfica, ainda fechada, e passavam a mão nela e perguntavam o que era, o que faríamos com ela. A sensação, e muitas vezes era o que as pessoas realmente verbalizavam, que parecia que tinha saído de um filme. Foi quando vimos que tínhamos conseguido.

blogdoorlando – quais os próximos passos?

Samuel – Ainda não sabemos ao certo, A GC é uma plataforma bastante rica, pode ter uma função educacional, comercial, conceitual… Não tem limites, ela atrai as pessoas, não só pelo que ela pode produzir, pela xilogravura, mas pelo que ela representa, pelo resgate do antigo, pelo faça-você-mesmo, pela surpresa. Pra resumir, a GC não tem limites…se não chover, é claro…

 

contatos:

samuelcasal@hotmail.com

ramonrmelo@gmail.com

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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