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filme de alê abreu corre festivais fora do país

Orlando

12/03/2014 08h00

sensível, delicado e surpreendente são alguns dos muitos adjetivos que podemos usar para elogiar o filme de animação "o menino e o mundo", de alê abreu.
projeto no qual ele se debruçou por 4 anos, é seu segundo longa e, cá entre nós, fazer longas de animação no brasil não é pra qualquer um.
o filme continua no circuito comercial enquanto alê segue correndo os grandes festivais fora do país.
abaixo, entrevista com o diretor:

blogdoorlando – alê, o que é fazer animação no brasil e, em especial, um longa?
Alê Abreu – Quando iniciei, nos anos 80, o Brasil era muito forte na publicidade, mas produzia muito pouco cinema de animação. Existiam alguns animadores que trabalhavam nos comerciais e nas horas vagas produziam seus curtas.  Quanto aos longas, alguns casos isolados, como o Maurício de Souza e o Walbercy Ribas, que produzia o Grilo Feliz há 10 anos. No início dos anos 90 surgiu o festival Anima Mundi, e criou uma vitrine importante, que nos mostrava filmes do mundo todo e nos estimulava a fazer os nossos. Ao mesmo tempo, a mudança da tecnologia, com a chegada dos computadores, também foi decisiva: de repente já não era mais necessário ter equipamentos de filmagem importados, mesas de animação, acetatos caríssimos, máquinas de xerox, etc.  Além disso, com a retomada do cinema no país, leis de incentivo fomentaram também a produção das animações. Hoje temos uma numerosa produção de curtas, diversos longas estão em produção, e o país passou a produzir e exportar séries para o mundo. " O Menino e o Mundo"  será lançado em 2014 em diversos países. Mas considero que ainda somos "jovens" nesta história da nossa animação. Há ainda muito trabalho pela frente.

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blogdoorlando – o menino e o mundo é seu segundo longa. como viabilizar um projeto de fôlego como esse?
Alê Abreu – Como qualquer outro filme, é preciso ter uma produtora habilitada e aprovar o projeto na Ancine, depois inscreve-lo nos editais para captação de recursos. Nós tivemos o Patrocínio da Petrobras, BNDES, FSA- Fundo Setorial do Audiovisual, Sabesp e Pro-Ac.  Com parte do orçamento captado é possível iniciar a produção. Isto é só o começo. É preciso muita persistência e força de vontade.

blogdoorlando – durante a produção vc foi tocando outros projetos e trabalhos?
Alê Abreu – Basicamente fiz o filme e pintei. Foi um mergulho de 4 anos.

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blogdoorlando – qual foi seu ponto de partida para esse filme?
Alê Abreu – Eu trabalhava no desenvolvimento de um outro filme, um anima-doc (documentário em animação) chamado "Canto Latino", sobre a história de formação do continente, conduzido pelas músicas de protesto dos anos 60 e 70, quando encontrei em um dos cadernos de anotações um desenho que eu havia feito de um menino. Mais do que o personagem em si, o que me chamava a atenção era o jeito solto daquele desenho, que já carregava uma certa tensão que emanava do documentário, um caráter de "urgência e um desejo de ir na contramão estética do que se estabeleceu no mercado de animação de longas. Comecei então a imaginar como aquele menino se encaixaria no contexto do "Canto Latino" e fui criando pequenas passagens de história: ele levado pelo vento, correndo por uma floresta, o encontro com determinados personagens – e que, naquele primeiro momento, eu também não sabia como se ligavam a história do menino. Na edição, eu juntava estes pedaços, buscando algum tipo de relação entre eles, e também experimentando sons e músicas de referência.

blogdoorlando – quer dizer, não havia um roteiro pré-determinado?
Alê Abreu – Havia apenas o animatic do  "Canto Latino", que ficou como um pano de fundo (basicamente tudo o que não é a trama do menino e sua família). Restava encontrar como o personagem se encaixava ali.
Para ter uma idéia, imagine que a relação entre os personagens, que é algo fundamental a trama, foi descoberta no meio do processo do Animatic (o story-board filmado). Se houve um roteiro, ele foi "escrito" com desenhos, e organizado na ilha de edição. Depois foi transcrito em texto, formatado como um roteiro tradicional, para cumprir exigências de inscrições nos editais, etc.

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blogdoorlando – vc optou por não utilizar diálogos. por que? é uma tentativa de fazer um filme universal?
Alê Abreu – Não houve qualquer pretensão neste sentido. Foi natural e muito mais divertido sair desenhando, criando a partir das imagens, do desenho, da pintura, sem intermédio da palavra escrita. Desconfio que o processo de encontrar o filme no animatic, como descrevi acima, resultou neste filme praticamente sem diálogos. O filme é universal em vários aspectos, e o fato de não ter diálogos o torna ainda mais acessível.

blogdoorlando – vc trabalhou com uma equipe reduzida e muitos colaboradores. como foi isso?
Alê Abreu – Foram cerca de 150 profissionais, entre equipe artística, técnicos e fornecedores. Tivemos perto de 20 desenhistas nas diversas etapas de produção da animação. Na estúdio havia uma população flutuante, por uma questão de espaço reduzido.

blogdoorlando – há uma opção por não lançar o filme em dvd? por que?
Alê Abreu – Já estamos  pensando no lançamento do DVD, apesar de atualmente este ser um mercado muito difícil. Mas como o filme teve um lançamento muito restrito, creio que o DVD e o Blu-Ray ajudem o filme a chegar em uma parte do público que não teve a opção de assisti-lo nos cinemas.

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blogdoorlando – vc parte agora para uma peregrinação por festivais. quais?
Alê Abreu – Depois de sua estréia em Ottawa, em setembro, passamos pelos Festivais do Rio, Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e Festival de Havana. Recebemos prêmios ou menções nestes quatro eventos começamos a receber convites para vários festivais. No início de março, o filme será exibido em NY, no festival de cinema infantil e no encerramento do Festival de filmes para a Juventude de Québec. Depois, em festivais na França, Portugal, Holanda e em uma exibição especial na Cinemateca de Bolonha, durante a Feira do livro infantil, cujo país homenageado é o Brasil. Em abril o filme voltará a ser exibido nos EUA, em Chicago, depois na Argentina, Bolívia, e República Theca.

blogdoorlando – O filme será lançado comercialmente fora do Brasil?
Alê Abreu – Sim, há previsão de lançamento ainda este ano nos EUA e Canadá pela GKids (a mesma distribuidora de Ernest y Celestine, que concorreu ao Oscar este ano, e de alguns filmes do Myazaqui). Em outubro " Le Garçon et le Monde" estréia na França e na Bélgica. A Dinamarca também comprou o filme. E além desses, nosso distribuidor está em negociação com outros 10 países.

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blogdoorlando – já existe algum outro projeto saindo da gaveta?
Alê Abreu – Atualmente estou começando a trabalhar o roteiro de um novo longa-metragem. Há também o seriado "Vivi Viravento", sobre uma menina que viaja pelo mundo com a avó escritora, cuja produção de 52 episódios se iniciará em breve. Será uma co-produção entre Brasil (Mixer) e Canadá (9-Story) com apoio da TV Ontário, Tv Cultura e Discovery Kids. Aguardem!

 

 

 

 

 

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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