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érico san juan lança coletânea de dito, o bendito

Orlando

12/07/2013 10h00

o érico é um cara que olha com aquele olhão.
levanta a sombrancelha, mãos para trás, inclina o corpo pra frente, sorriso de boca fechada e balança a cabeça como dizendo "é…".
falta o chapéu de palha e o pito na boca.
o sotaque carregado de erres denuncia o garoto do interior que fica assuntando coisas aqui e ali. caraminholas.
não peçam para ele indicar algum lugar pra comer na madrugada de piracicaba, sua cidade natal. vc vai subir e descer ladeiras e encontrar todas as suas dicas com as portas fechadas.
melhor levar seu frango com farofa debaixo do braço e se precaver.
mas o érico faz mais do que se perder na cidade com seus amigos e colegas.
ele faz quadrinhos, caricaturas, edita jornal e gosta de música. mpb.
agora, lança uma coletânea com seu personagem dito que não é maldito, nem nego dito mas pode ser o famoso bendito dito cujo.
abaixo, entrevista com o san juan, érico san juan:

blogdoorlando – como surgiu a idéia do personagem dito?
Érico – Era novembro de 1993, eu trabalhava como ilustrador do suplemento infantil do Jornal de Piracicaba. Tinha começado na empresa em 1991, com 15 anos – hoje, com essa idade, não seria nem entregador de jornal.
No final de 93, o designer Emílio Moretti estava criando o redesign do caderno Jornal de Domingo. Por incrível que pareça, a montagem do jornal era feita em paste-up (os mais novos que procurem o Google, desculpa aí).
Além de ser amigo de desenhistas argentinos como Hermenegildo Sábat e participado da equipe do Pasquim São Paulo, Emilio fez parte da do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, na comissão organizadora.
Tinha forte ligação com o humor mais sofisticado, de tintas européias. E sonhava com o Brasil ideal com trilha sonora de Bossa Nova, com Tom Jobim ao piano.
Este que vos digita estava acostumado a desenhar com tinta nanquim, traços arredondados e fechados – desenho infantil e fofinho. Emilio simplesmente me intimou a desprezar essa "perfeição". Pegou um desenho que fiz de um neguinho sambista, desconstruiu o traço, esboçou quatro tiras baseadas naquilo, e me passou a bola.
A partir daí, surgiu o Dito, que passou a ser publicado no caderno Jornal de Domingo. O personagem sofreria mudanças com o tempo, em fases de publicação semanais e diárias. E envelheceria também. Teve fases sambísticas, gástrico-políticas, familiares e gastronômicas (trabalhou em restaurante).

blogdoorlando – ele foi pensado pra ser um personagem duradouro ou achava que ele teria vida curta?
Érico – Não achava nada, sabe… eu ia fazendo. Com 14 anos, eu já fazia tiras como colaborador para o suplemento infantil do Jornal de Piracicaba. O personagem principal da tira era um peixe (Piracicaba, sabe como é). Foi o peixe de papel que me levou ao emprego como ilustrador, aos 15 anos. Depois, com 17, apareceu o Dito.

blogdoorlando – de certa forma ele tem uma série de características do povo brasileiro, um pouco metido, um pouco inocente…
Érico – Acho que a tira denunciava a suposta inocência e a evidente empáfia do próprio autor. Nem eram características que poderiam ser atribuídas ao povo brasileiro, essa massa maluca e disforme.

blogdoorlando – o que o dito está pensando das recentes manifestações que pipocam pelo país?
Érico – Voltei a fazer tiras dele, para o site da editora Marca de Fantasia, a mesma do livro. Hoje, o Dito é um senhor, um avô, sem a língua solta dos primeiros tempos – embora seu figurino seja o do sambista Jamelão, notório boquirroto. Ainda não me manifestei sobre as manifestações nas tiras novas, mas talvez num primeiro momento o Dito tivesse um pensamento típico de avô: "Meu Deus, espero que meu neto volte vivo pra casa… ou os muito-vivos irão devorá-lo".

blogdoorlando – além de quadrinista e caricaturista vc é um pesquisador musical. há algum projeto à vista que misture tudo isso?
Érico – "Pesquisador" acho tão engraçado… quem tascou esse rótulo foram nossos amigos Arnaldo Nogueira Jr., comandante do site Releituras, e o Spacca, o melhor Cazuza-cover e quadrinhista-bíógrafo do planeta. O que tenho feito é misturar o útil ao agradável: fazer caricaturas dos músicos, cantores e compositores que eu gosto. Esses desenhos tem ganho espaços em livros, CDs e salões de humor. Pelo menos três deles chegaram às mãos de caras que eu admiro: Ivan Lins, Zeca Baleiro, o trio Sá, Rodrix e Guarabyra. E que bom que eles curtiram também!

marcelo camelo

 

 

quem é érico san juan:

Nasceu em Piracicaba, SP, em 1976.
Cartunista desde 1991. Graduado em Radialista Locutor, pelo Senac. Graduando em Design Gráfico na Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep).
Participou dos salões de humor de Piracicaba como artista selecionado, jurado de seleção, editor de livro (Os Quinze de Piracicaba, ed. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo) curador da mostra paralela (PiraTiras) e convidado para mostra paralela especial "20 anos de um Pamonha de Piracicaba".
Publicou nas revistas Mad (Panini) e Monet (Globo).
Teve caricaturas publicadas em livros e CDs de MPB, e selecionadas  e premiadas em salões de humor de Porto Alegre e Guaíra (SP).
Editou livros infantis e os jornais de humor Rio e Caricaras.
Criou as tiras Um pamonha de Piracicaba (premiada no Salão Dino de Humor do Litoral Paulista) e Dito, o bendito, selecionada no Salão Internacional de Humor de Piracicaba, publicada em jornais de sua cidade durante 12 anos e em livros da editora Marca de Fantasia, em 1995 e 2013.

 

serviço:
dito, o bendito
de érico san juan
pode ser comprado por depósito ou transferência bancária pelo site http://www.marcadefantasia.com/albuns/tiras/dito/dito.htm
R$10

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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