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"laerte é foda" virou uma redundância

Orlando

01/07/2013 09h15

uma das coisas mais impressionantes nesse brasil varonil é a quantidade de gente que faz quadrinhos.
todo garoto que se interessa por desenho acaba, de alguma forma, flertando com a nona arte.
alguns desistem, outros continuam fazendo coisinhas aqui outras ali e outros, muito poucos, acabam por se destacar. dos que se destacam, um ou outro vai além ou muito além e esse é o caso do laerte.
como o cinema, a arte dos quadrinhos exige uma série de habilidades.
argumento, roteiro, escolha dos atores, diálogos, momentos de silêncio, edição, finalização e, finalmente, comercialização.
e tem a paixão.
sem paixão, os quadrinhos não existem.
na maioria das vezes é um trabalho maçante, desenho depois de desenho, cuidados para que os personagens e cenários não saiam do controle.
na verdade, fazer quadrinhos é viver no inferno mas, acreditem, há quem goste.

quem gosta e tem controle sobre todas essas "questãs", talvez viva de um prazer único que é dizer: "acabei!".
dias, semanas e meses num trabalho (aqui diferente do cinema) extremamente solitário. grafite versus papel, tinta versus grafite, cores versus computador e a tentativa de que a essência da história não se perca.

assim como no cinema, o truque (!!!!) é contar uma boa história. ter um bom argumento, desenvolver um roteiro, narrativa que prendam o leitor e nisso, o laerte é foda..
já havia acontecido antes em algumas dezenas delas. palhaços mudos, toda a série dos piratas do tietê, fernando pessoa, a família que era o que não era, o cara que morre atropelado com a calcinha da mulher, etc.

agora, pelo selo 1.000, da cachalote, laerte traz "vizinhos", uma história que…
não, não vou contar. vejam vcs mesmos!
em duas cores e desenhos soltos, laerte traz, de novo, os fantasmas que criamos ou que, de alguma forma, vivem dentro da gente.
e pra falar de fantasmas e esquisitices humanas com um desenho matador, o laerte é foda.
com redundância ou não.


abaixo, entrevista com o sr.coutinho:

blogdoorlando – de modo geral, como é a sua relação com vizinhos?
vc faz amizade, empresta xícara de açúcar, avisa que o farol do carro ficou aceso, pede pra darem comida pro gato ou nem olha na cara?
Laerte – Acho que, hoje em dia, sou uma vizinha mais tranquila. Já fui bem mais tensa, rigorosa e "palanquinho". Pena que não dá pra fazer reformas retroativas…

blogdoorlando – suas histórias tratam muito de aflições que as pessoas têm em relacionamentos corriqueiros.
existe vida sem conflito?
Laerte – Não – e acho que posso falar com segurança. A gente se cerca de zonas de conforto em busca desse nirvana da vida sem conflitos, mas é bobagem. Conflito significa a possibilidade de crescer, também.

blogdoorlando – há muitas vezes um sentimento de perseguição, de alucinações e nonsense…
Laerte – Pode ser…sinto que as suas perguntas embutem uma boa análise. Não me sinto muito capaz (ou a fim) de fazê-la com meu próprio trabalho, pra falar a verdade.

blogdoorlando – fora os argumentos e roteiros engenhosos, vc sempre trabalhou com extremo cuidado o desenho.
neste álbum os desenhos são mais soltos, riscados mas tenho a impressão que os quadrinhos que o luiz gê fez pra circo te influenciaram muito no enquadramento, no nanquim. procede?
Laerte – O Gê me influenciou muito, de várias formas. Quando o conheci, em 72, no tempo do Balão, tive a sensação de que ele já era alguém "pronto", no padrão com que as pessoas se apresentavam no mundo das publicações reais. E era mesmo. Sempre foi assim, graças ao rigor com que trabalha. Na minha estrada o rigor é bem menor, pelo menos no período da confecção…fico exigente depois do trabalho pronto, achando erros e possibilidades perdidas. É um processo um tanto neurótico.

blogdoorlando – além disso vc não tem preguiça de desenhar prédios, ruas, paredes em perspectiva.
Laerte – Aí você se engana! Tenho uma preguiça enorme. Desenhei porque não dava pra ficar sem isso, mesmo. E tive uma boa ajuda do google maps. Quis evocar a rua e o prédio onde morei e foi só digitar o endereço. Ah, século 21!

 

blogdoorlando – há uma galera se dedicando e renovando os quadrinhos brasileiros. o quanto vc acha que os influencia e o quanto vc se sente influenciado por eles?
Laerte – Pois é – não tenho como avaliar quanto eu os influencio, mas a recíproca é bem forte. Sou uma espécie de bob-esponja, absorvo tudo aquilo de que gosto.

blogdoorlando – é sempre bom ver histórias inéditas sendo publicadas. vc tem outros projetos para breve?
Laerte – Tenho. Essa história da MIL serviu pra quebrar um tabuzinho que estava se instalando, em torno da impossibilidade de construir narrativas maiores. Tenho uns projetos de histórias maiores. Não sei se totalmente dentro da linguagem de quadrinho; isso ainda depende de como esses projetos vão avançar.

 

serviço:

lançamento hoje, 01/07
vizinhos
de laerte coutinho
Mercearia São Pedro

Rua Rodésia, 34 – Pinheiros, São Paulo
a partir das 19h
R$20

Sobre o autor

Orlando Pedroso é artista gráfico e ilustrador, trabalhou com praticamente todas as publicações da grande imprensa. Foi colaborador da Folha de S. Paulo de 1985 a 2011. Ilustrou mais de 60 livros infanto-juvenis e é co-autor de “Livro dos Segundos Socorros” e “Não Vou Dormir” – finalista do prêmio Jabuti de 2007 nas categorias “ilustração” e “melhor livro”. Foi vencedor do Prêmio HQ Mix de melhor ilustrador nos anos de 2001, 2005 e 2006. Expôs nas mostras individuais como “Como o Diabo Gosta”(1997) , “Olha o Passarinho!”(2001), “Uns Desenhos” e “Ôtros Desenhos” (2007). Em 2008, faz uma exposição retrospectiva de 30 anos de trabalho como artista convidado do 35º Salão de Humor de Piracicaba.- É autor dos livros Moças Finas, Árvres e do infantil Vida Simples, e membro do conselho da SIB – Sociedade dos Ilustradores do Brasil.

Sobre o blog

Este blog trata de artes gráficas, ilustração, cartum, quadrinhos e assuntos aleatórios.

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